Por José Gabriel Pires
Em fevereiro, o conflito russo-ucraniano entrou no seu terceiro ano. Embora enfrentando desafios atrelados às operações terrestres, Kiev vem sendo capaz de conter o emprego dos meios navais russos no Mar Negro. Nesse sentido, uma das soluções mais eficientes desenvolvidas para tal tem sido o emprego de embarcações autônomas, ou drones navais.
Essa inovação demonstra potencial disruptivo para remodelar as estratégias de combate naval no século XXI. Desse modo, questiona-se a contenção da Esquadra russa do Mar Negro. No início do conflito, a Rússia foi capaz de neutralizar os meios convencionais da Marinha ucraniana. Todavia, a Ucrânia lançou mão de uma estratégia ancorada na inovação tecnológica, que acabou equilibrando o teatro de operações navais: o desenvolvimento e emprego de drones navais, cujo baixo custo, associado a um relevante poder de fogo em relação às embarcações convencionais, traduz-se em uma vantagem intrínseca contra a Esquadra do Mar Negro.
Nesse cenário, em março de 2024 Kiev revelou uma versão modernizada do “Sea Baby”, drone naval operado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia cuja primeira versão ficou conhecida pelos danos causados à Ponte da Crimeia. A nova geração do “Sea Baby” tem um custo aproximado de US$ 200 mil e conta com uma maior manobrabilidade, além de ter seu raio de alcance ampliado para cerca de 1.000 quilômetros, e sua carga explosiva para cerca de uma tonelada.
Nesse contexto, além de lidar com os drones navais, Moscou enfrenta um desafio imposto pela Convenção de Montreux, de 1936, que, entre outros temas, regula a circulação de embarcações militares na região. Segundo a Convenção, aos Estados banhados pelo Mar Negro é garantida a operação de todos os tipos de embarcações militares, todavia, em tempos de guerra, cabe à Turquia a anuência sobre o acesso de navios militares aos Estreitos de Bósforo e Dardanelos. Com o início da invasão russa, Ancara lançou mão de sua prerrogativa e impediu o acesso de navios militares russos à região. Portanto, a cada navio avariado ou abatido pelos drones navais ucranianos, a Marinha russa perde uma parcela da sua capacidade de projeção de poder naval no Mar Negro.
Assim, é possível observar o papel relevante dos drones navais na ampliação do Poder Naval ucraniano. Tal fator, associado ao impedimento no incremento da Esquadra russa do Mar Negro, pode significar uma vantagem estratégica importante para Kiev no âmbito naval, que tem potencial para se converter em poder de barganha em um eventual acordo de cessar-fogo.
FONTE: Boletim GeoCorrente