Por Gustavo Chagas
O anúncio do corte de 92% das verbas para a ciência feito pelo Ministério da Economia preocupa pesquisadores de todo o Brasil. Entre eles, está o pró-reitor de pesquisa do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Simões.
O glaciologista é um dos responsáveis pelas expedições de pesquisadores à Antártica. Segundo o cientista, o corte deve afetar de 200 a 250 pesquisadores já a partir de 2022. Para a manutenção do trabalho do grupo, seriam necessários de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões anuais, estima Simões. A verba, nos últimos anos, ficou entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões.
Não previsão de quanto será destinado aos projetos na Antártica. Sem os recursos necessários, a próxima missão no Polo Sul deverá contar com um efetivo reduzido de estudiosos, já a partir de março.
“Se não houver recursos novos para os projetos antárticos, nós estimamos que a próxima operação – se Deus quiser, sem a pandemia – prevista para o verão de 2022/2023, terá uma participação de 10% a 20% dos projetos científicos. Todos os outros terão de ficar em casa por falta de recursos mínimos”, projeta.
Simões teme pelo não prosseguimento dos projetos no continente, bem como de iniciativas em outras áreas do conhecimento. Os trabalhos na Antártica contribuem para diversas campos de pesquisa, como o que estuda as mudanças do clima, além de reforçar a o protagonismo do Brasil na política do continente.
“A Antártica nos serve de aviso adiantado do que pode ocorrer no mundo de mudanças ambientais globais. Isso é na questão de derretimento de gelo, que contribui para o aumento do nível do mar; na imigração para o sul de uma série de espécies de animais que estão tentando se readaptar ao aquecimento regional; a questão importantíssima do aumento da acidez do Oceano Austral”, explica Simões.
Dos R$ 635 milhões previstos para a ciência, o governo federal garantiu apenas R$ 55 milhões, que serão geridos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Originalmente, esses recursos seriam destinados a bolsas de apoio à pesquisa e a projetos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Nós estamos com grande perda de cérebros para o exterior e isso já afeta programas tradicionais e estratégicos. Como vai afetar a partir de março o programa Antártico brasileiro”, conta.
Prejuízos generalizados
Além dos impactos na pesquisa antártica, Jefferson Simões lamenta os resultados da política do governo federal na ciência como um todo no país. Ele sinaliza que os editais do CNPq devem perder recursos.
“É uma afronta e um ataque à toda comunidade científica brasileira. Nós estamos, ao longo dos últimos dois anos, sofrendo cortes substanciais em tudo que é tipo de incentivo à científica, em projetos, em número de bolsas, em número de bolsistas. Nós estamos tendo uma perda de cérebros nunca vista antes neste país”, observa o pesquisador.
FONTE: G1