O sistema de localização global Glonass, único do gênero no mundo a oferecer serviços gratuitos na sua resolução máxima, estará mais preciso a partir de fins de agosto com o complemento da parceria entre Rússia e Brasil.
A segunda estação de ajuste de dados entrará em funcionamento no campus da UnB (Universidade de Brasília) bem ao lado de onde já opera a primeira há alguns meses.
Com as duas estações, as únicas fora da Federação Russa, o Glonass não deixará nada a dever aos concorrentes mais famosos, o Navstar GPS, dos Estados Unidos, e o Galileo, da Europa.
Como explica o professor Ícaro dos Santos, um dos responsáveis pelas duas bases, quanto mais um satélite possuir pontos de referência espalhados pelo globo melhor é sua precisão e mais fácil torna-se sua correção orbital.
“No caso do sistema russo, com a nossa participação, suas estações estão próximas da linha do Equador, o que o torna ainda mais eficiente”, diz o engenheiro elétrico, que, ao lado do professor Geovani Borges, coordena a parceria com a Agência Espacial da Federação Russa (Roscosmos).
O Glonass também afere, além de latitude e longitude, a velocidade dos ventos, a hora e, inclusive, passará a ser mais confiável no acompanhamento de estudos de movimentos geológicos, entre eles a movimentação das placas tectônicas.
A ponta brasileira do programa para uso civil russo, lançado em operação em 1982 e desde então com uma “constelação” de novos satélites adicionados ao sistema –até ser completada sua cobertura global em 2011– está orçada em aproximadamente em US$ 2,5 milhões, segundo as estimativas dos equipamentos gerenciados pela equipe de Santos na UnB.
Exploração espacial
A Roscosmos também arca com despesas (não divulgadas) de aluguel, energia elétrica e do sistema de dados.
As estações
Na primeira Estação de Medição Unidirencional, professores e alunos de pós-graduação recolhem os dados captados por uma antena, fazem um pré-processamento e enviam ao centro espacial russo.
Na segunda, a Estação Laser Óptica, que consistirá em um canhão de raio laser apontado ao Glonass, o controle em terra ficará responsável pela decisão de acionamento e desligamento, sempre em monitoramento em relação ao tráfego aéreo.
“Quando acionado, o laser rebate no Glonass e envia os dados diretamente à Rússia, que, se for o caso, faz a correção até em decímetros”, explica Ícaro.
A equipe do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da universidade comemorou a parceria firmada com a Rússia dentro dos acordos de cooperação das Roscosmos e a Agência Espacial Brasileira visto que a participação do time de professores vai além do controle e manutenção dos equipamentos.
Embora o Brasil ainda engatinhe nas pesquisas aeroespaciais, a Roscosmos reconhece a capacitação técnica e os trabalhos de investigação da UnB em várias áreas, o que “nos permite também, segundo o acordo, fazer modelos matemáticos de calibragem e os enviar para os engenheiros responsáveis do Glonass”.
“Além disso”, continua Ícaro, “teremos de três a quatro alunos por semestre dos cursos de pós-graduação tendo aulas com professores russos no Brasil e na Rússia”.
Numa primeira etapa, serão discentes da Engenharia Elétrica, com previsão de incorporação posterior de alunos da Computação e da Mecatrônica.
A transferência de conhecimento vai ajudar o Brasil a formar novos técnicos, que poderão ser incorporados ao Programa Espacial Brasileiro, uma vez que a parceria firmada vai até 2020.
Não há perspectiva, porém, segundo Ícaro, de o entendimento atual ser suspenso após a data, na medida em que a Rússia necessita da localização das estações no Brasil e da capacitação da UnB.
“Até porque nossos parceiros prezam o avanço da cooperação em todas as áreas”, diz Ícaro.