Cláudia Trevisan – CORRESPONDENTE / WASHINGTON
O governo dos Estados Unidos afirmou ontem que parte das revelações sobre as atividades da Agência Nacional de Inteligência (NSA) americana levanta questões “legítimas” de países aliados sobre a maneira como esse setor atua, mas disse que considera “distorcidas” algumas das informações veiculadas pela imprensa sobre as atividades de seu serviço de inteligência. As ações da NSA foram discutidas ontem em Washington em reunião de pouco mais de uma hora entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, e a conselheira de Segurança Nacional do presidente Barack Obama, Susan Rice. Após o encontro, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Caitlin Hayden, divulgou nota na qual observou que os EUA estão revisando suas ações de inteligência para assegurar que elas reflitam políticas do governo sobre o que elas “devem fazer versus o que elas podem fazer”.
“Os EUA estão comprometidos a trabalhar com o Brasil para enfrentar essas preocupações, ao mesmo tempo em que continuamos a trabalhar juntos em uma agenda comum de iniciativas bilaterais, regionais e globais”, afirmou a porta-voz. “O presidente busca assegurar que nossas atividades sejam consistentes com nosso interesse nacional amplo, incluindo o relacionamento com nossos parceiros chave. “O encontro de ontem faz parte da tentativa de ambos os lados de viabilizar a visita de Estado da presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada para 23 de outubro. O Brasil ameaça cancelar a viagem em razão das revelações de que a NSA monitorou comunicações da presidente. A situação ficou ainda mais tensa depois dos indícios de que os Estados Unidos espionaram também a Petrobrás.
Prazo. Em encontro com Obama na Rússia na semana passada, Dilma havia dado o prazo até ontem para que os EUA apresentassem “medidas necessárias” para contornar a desconfiança criada pelo episódio e criar condições políticas para viabilizar a viagem. Figueiredo, que iria para Nova York ontem à noite, ficou em Washington e terá outros encontros com autoridades americanas hoje para discutir o assunto. O ministro cancelou uma entrevista que daria ontem à noite para falar sobre a reunião com Susan Rice.
O diretor do Brazil Institute do Wilson Center, Paulo Sotero, avaliou que a divulgação da nota e a permanência de Figueiredo em Washington são indícios de que os dois países estão dispostos a encontrar uma saída que viabilize a visita.
Dilma ainda faz mistério sobre visita a Obama
Enquanto aguardava uma resposta dos EUA às denúncias de espionagem da Agência Nacional de Segurança americana sobre sua comunicação pessoal e a Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff não informou se manteria a visita oficial de Estado a Washington em outubro. “Vou esperar agora a resposta do governo(americano).
Quando eu souber, eu falo”, disse, em rápida entrevista ao fim de uma visita ao estaleiro Inhaúma, no Rio, onde estão sendo feitas obras em uma plataforma para a Petrobrás.
Questionada por jornalistas, limitou-se a confirmar viagem aos EUA para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, tradicionalmente inaugurada pelo presidente do Brasil. “O que tenho a dizer é que abro a Assembleia Geral da ONU.
“Após dizer, semana passada, que o presidente americano Barack Obama deveria pedir desculpas à presidente Dilma, o ex-presidente Lula voltou ontem a criticar os EUA. “Pode o Sr. Obama ficar bisbilhotando as conversas da nossa presidenta? Onde está a democracia?”, perguntou Lula durante seminário da revista Carta Capital, em São Paulo. Lula também criticou os EUA por cogitarem invadir a Síria, e comparou o episódio à invasão do Iraque, em 2003. “Onde está a arma química que foi a razão daquela invasão?”, questionou.
FONTE: Estado de São Paulo