Para ele, há uma grande lacuna entre a visão que os americanos têm de seu papel no mundo e a imagem dos EUA nos outros países. E Walt acredita que o escândalo de espionagem envolvendo a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) contribuiu para reduzir ainda mais a confiança de que a nação mais poderosa do mundo leve interesses alheios em conta na hora de tomar decisões sobre política externa.
Para ele, o recrudescimento de uma opinião pública contrária aos Estados Unidos torna mais improvável uma intervenção na Síria. O quadro, pode favorecer o presidente sírio Bashar al-Assad que, segundo Walt, não precisará resistir militarmente, mas poderá postergar uma solução ao negociar inspeções da ONU sobre suas armas químicas.
“Os Estados Unidos agora estão muito cautelosos em se envolverem em guerras que sejam muito duradouras e caras”, afirmou Walt sobre o receio americano de um envolvimento maior na Síria, durante palestra na Fundação Getulio Vargas, no Rio.
Na última década, desde as intervenções militares no Iraque e Afeganistão, a imagem dos Estados Unidos se deteriorou ainda mais em todo o mundo.
“Os outros países não podem ter certeza de como vamos usar o nosso poder, mas sabem que nossas ações têm um grande impacto no mundo, ainda que seja um impacto involuntário”, disse, usando como exemplo as oscilações do preço do petróleo, uma balança que muda a cada nova ameaça de intervenção militar no Oriente Médio.
“Os EUA são um país muito seguro, e a força militar deveria ser nosso último recurso, e não o primeiro”, afirmou Walt ao Valor. “Podemos realizar o que precisamos [no cenário internacional] geralmente por meio da ação diplomática”, defendeu.
Walt não vê um benefício na coleta de dados promovida pela NSA. Segundo ele, o custo político do escândalo de espionagem envolvendo a agência foi certamente muito superior a qualquer valor que as informações coletadas pela agência poderiam produzir para o governo dos EUA. Segundo ele, o caso, constrangeu o governo americano e mostra uma agência de inteligência fora de controle, o que tira respaldo dos EUA e reduz a confiança de nações amigas, como o Brasil, e do setor privado.
“A mensagem que os Estados Unidos têm que passar neste momento é de confiança. Mas o que provamos nos últimos meses é que é muito difícil confiar na gente”, disse. “Pode-se dizer que essas informações jamais serão usadas para espionagem industrial, mas como você pode ter certeza?”
Para ele, o aparente foco da espionagem na América Latina sobre o Brasil é uma indicação do aumento da presença brasileira no tabuleiro internacional. “É inevitável que o Brasil se torne economicamente mais forte ao longo do tempo e, com isso, fique mais independente”, afirmou. “Isso não é realmente uma coisa ruim para os EUA. O Brasil será um parceiro mais importante em áreas em que vemos as coisas de forma semelhante.”
Walt acredita que as denúncias de espionagem não marcarão uma mudança nas relações do Brasil e dos demais países da América Latina com os EUA. Mas afirma a presidente Dilma Rousseff deve aproveitar a visita aos Estados Unidos como uma oportunidade para levantar a questão da espionagem diretamente com o presidente Obama e deixar claro que é preciso haver cooperação e trabalhar na direção de criar uma regulação internacional para internet.
FONTE: Valor Econômico – Guilherme Serodio