A origem desse novo paradigma de geração está diretamente relacionada à imposição de um conjunto complexo e confuso de restrições derivado da política e da legislação ambiental, que dificultam e impedem a construção de usinas hidrelétricas, em especial daquelas que podem ter reservatórios de acumulação.
Como resultado direto dessas restrições ambientais, a capacidade de regulação dos reservatórios entre os períodos de chuva e de estiagem vem se reduzindo de forma significativa e gradativa, diminuindo a capacidade de oferta de energia de fonte hídrica ao longo do ano. Nos últimos anos, é possível constatar uma maior velocidade de esvaziamento dos reservatórios entre os meses de abril e novembro. E recentemente, por conta da crise hídrica, desde outubro de 2012 praticamente todo o parque de usinas termelétricas vem sendo despachado de forma contínua. Como a maioria dessas usinas foi contratada para operar como back up, ou seja, para operar não intensamente, os custos acabam provocando aumentos elevados para os consumidores. Portanto, é perceptível que o sistema elétrico encontra-se diante de um problema estrutural, de mudança de paradigma, que foi agravado por uma conjuntura de afluências desfavoráveis.
A ampliação da inserção de fontes renováveis, especialmente energia eólica, é bastante pertinente para diversificação da matriz brasileira e para manter a sua posição de uma das melhores do mundo em termos de sustentabilidade e economia verde. No entanto, por ser uma fonte sujeita a interrupção, sem capacidade própria de armazenamento de excedentes, é imprescindível a contratação de centrais de geração de energia controláveis para garantir segurança de operação e suprimento de energia elétrica, justificativa que fica ainda mais evidente frente à diminuição relativa da capacidade de armazenamento das usinas hidrelétricas.
Desta forma, a política e o planejamento elétrico brasileiro terão que ampliar a participação das fontes não renováveis na matriz. Há três vetores de possibilidades: carvão, gás natural e energia nuclear. A ampliação da fonte carvão na matriz é difícil, não por questões ambientais, pois o Brasil só tem 16 usinas a carvão. O problema é que o Brasil não tem reservas de carvão de qualidade, o que levaria à importação desse insumo energético, introduzindo mais um componente de custo cambial.
A segunda alternativa é o gás natural, que o Brasil ainda não tem produção suficiente, importado da Bolívia e via GNL. Há perspectivas positivas em relação ao gás natural vinculado às explorações de petróleo das reservas do pré-sal.
Possivelmente para viabilizar as necessidades mais imediatas e, de certa forma, urgentes, em função da rápida transição para o paradigma hidrotérmico, o planejamento adotará um mix entre GNL com gás do pré-sal.
No entanto, a construção de usinas termonucleares parece ser a melhor opção para a próxima década, quando o potencial hidrelétrico estará esgotado através, basicamente, da construção de usinas hidrelétricas do tipo fio de água, ou seja, sem reservatórios.
As usinas nucleares apresentam uma grande e harmônica vantagem técnica para a matriz elétrica, que é a operação na base, com custo variável unitário relativamente baixo. Além disso, apresentam externalidades econômicas derivadas de o Brasil ter a sexta maior reserva de urânio do mundo, deter tecnologia própria de enriquecimento de urânio e ter um complexo produtivo consistente que poderia dar uma contribuição econômica e tecnológica para o desenvolvimento e ampliação dessa fonte na matriz elétrica brasileira.
FONTE: O Globo