Defesa Cibernética descomplicada

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O tema da Defesa Cibernética passou a integrar, oficialmente, o cenário político brasileiro a partir de dezembro de 2008, quando o Governo Federal assinalou, na Estratégia Nacional de Defesa o setor cibernético como de importância estratégica para o Brasil, ao lado dos setores espacial e nuclear.

A Defesa Cibernética vem ganhando cada vez mais espaço no cenário político brasileiro. Com isso, surgem dúvidas sobre o que é realmente o setor cibernético, sobre as atividades desenvolvidas pelo Exército Brasileiro para a implantação da Defesa Cibernética, bem como sobre a abrangência dessas ações e o legado e visão de futuro para esse novo setor de atuação da Força Terrestre.

É necessário entender um pouco mais sobre esse ilustre desconhecido: o espaço cibernético. Esse ambiente se refere a um espaço baseado em redes de computadores e de comunicações para intercâmbio de informações. Em resumo, é o ambiente que oferece o suporte para a interação entre pessoas, empresas e instituições.

De forma semelhante, na área militar, sua importância é inquestionável, pois a maior parte das atividades de comando e controle, no combate ou em tempo de paz, depende da capacidade de Forças Armadas modernas em controlá-lo. O uso atual da expressão “guerra centrada em redes de computadores” reflete bem a dependência crescente das operações militares em relação a esse ambiente.

Ora, se por um lado o advento do espaço cibernético trouxe grandes benefícios à humanidade, facilitando o trânsito de informações, a interação e a aproximação entre indivíduos, grupos sociais, políticos e econômicos e até entre nações, por outro lado nos deixou mais vulneráveis na medida em que nossas informações navegam livremente por esses sistemas, sejam eles civis ou militares.

A consequência natural foi o surgimento de iniciativas que desenvolvessem formas de proteção para as informações existentes no espaço cibernético e, nesse contexto, o Brasil acompanhou a tendência dos países de maior projeção no mundo ao publicar a Estratégia Nacional de Defesa (END) garantindo, assim, o início da organização de um setor dedicado a proteger esse espaço.

Os acontecimentos que vieram na esteira da END foram muito dinâmicos. Em 2010, apenas um ano depois da entrada do tema no cenário nacional, o Exército Brasileiro já iniciava as atividades do núcleo daquilo que se tornaria, em setembro de 2012, o Centro de Defesa Cibernética (CDCiber), que ainda se encontra em fase de implantação, devendo estar totalmente operativo até 2016.

Situação Atual

Atualmente, o CDCiber é encarregado de coordenar e integrar as atividades de defesa cibernética no âmbito do Ministério da Defesa (MD). Essa missão foi definida por portaria do MD e publicada em meados de 2012.

Em outras palavras, isso significa que o CDCiber é uma Organização Militar (OM) subordinada ao Comando do Exército, responsável pela coordenação das ações de defesa cibernética e pela integração dos esforços das diversas organizações vocacionadas para atuação nesse setor, no âmbito do MD.

Consequência do ineditismo de sua criação como OM voltada especificamente para a proteção de redes de defesa, eventualmente, de forma restrita no tempo e no espaço cibernético, o CDCiber tem atuado na coordenação e integração de organizações externas ao MD. Essas situações ocorreram durante a Conferência das Nações Unidas para a Sustentabilidade (RIO+20), em 2012; assim como durante a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, ambas em 2013.

Nesses eventos, o CDCiber monitorou as redes e sites estabelecidos para tais eventos sem, contudo, intervir em seus ativos de informação, buscando a atuação colaborativa de diversos órgãos para a solução de problemas ocorridos no espaço cibernético. É importante ressaltar que a solução dos incidentes foi realizada pelo gestor de cada rede, por meio de equipes especializadas em Tecnologia da Informação (TI).

Esse Centro colaborou, ainda, diretamente com as organizações interessadas, disponibilizando os serviços de análise de risco dos ativos de informação, detecção automática de incidentes, análise de incidentes, suporte à recuperação dos ativos de informação após os incidentes e difusão de alertas, recomendações e estatísticas.

Trabalhos Realizados

Apesar de relevantes, as atividades desempenhadas durante os grandes eventos constituem-se em apenas uma parte dos trabalhos desenvolvidos pelo CDCiber. A sua própria estruturação e organização são atividades prementes entre os dez projetos que se desenvolvem, desde 2012, com o objetivo de estruturar o setor cibernético no âmbito do MD.

Esses projetos estruturantes abrangem a criação de uma estrutura de capacitação, preparo e emprego operacional; de uma estrutura de apoio tecnológico do desenvolvimento de sistemas; de uma sistematização do planejamento e execução da segurança cibernética; da viabilização de uma estrutura de pesquisa cibernética; do desenvolvimento de metodologia de gestão de pessoal; da criação de arcabouço documental e doutrina específica para o setor; da preparação de uma estrutura para produção do conhecimento oriundo da fonte cibernética; da implantação do próprio Centro de Defesa Cibernética, do desenvolvimento de Rádio Definido por Software; e da gestão da Rede Nacional de Segurança da Informação e Criptografia (RENASIC).

Todas essas iniciativas compõem as ações básicas necessárias para dar forma e organizar esse novo setor. São coordenadas pelo CDCiber e conduzidas por OM ligadas ao setor cibernético: Centro Integrado de Telemática do Exército (CITEx), Instituto Militar de Engenharia (IME), Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (CCOMGEx), Centro de Desenvolvimento de Sistemas (CDS), Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e Centro de Inteligência do Exército (CIE).

Resultados Obtidos

Em que pese o seu pouco tempo de existência, o setor cibernético brasileiro já começa a colher os frutos do trabalho conjunto das OM com os órgãos da Administração Pública, nos esforços para a sua estruturação e o estabelecimento de uma forma de atuação colaborativa, o que tem chamado a atenção de muitos países. Somente nos anos de 2012 e 2013, mais de 50 delegações estrangeiras visitaram o CDCiber.

Até dezembro de 2013, diversas ações foram concretizadas, tais como a instalação de laboratórios de pesquisa junto a representantes do sistema acadêmico nas escolas militares e em diversas instituições civis parceiras.

A preocupação em fomentar o desenvolvimento de massa crítica nas Forças Armadas, no ambiente empresarial, no setor público e no acadêmico é, inclusive, uma das premissas do setor cibernético, constantes da Política Cibernética de Defesa, que estabelece as diretrizes de atuação para o setor e orienta as atividades nos níveis estratégico, operacional e tático.

São exemplos dessa integração, os laboratórios criados e os trabalhos realizados na Universidade de Brasília (UNB), que desenvolvem protocolos; o Centro de Análises de Sistemas Navais da Marinha do Brasil, que se dedica a trabalhos na área de criptografia; o Centro de Tecnologia da Informação “Renato Archer”, em Campinas (SP), que estuda técnicas de implementação; e a Universidade Federal de Campina Grande (PB), que produz conhecimento nas áreas de computação e criptografia quântica.

Outros exemplos de produtos gerados no pouco tempo de existência do setor cibernético são representados pelo desenvolvimento de um antivírus totalmente nacional, em uso no âmbito do Exército, e o desenvolvimento de um simulador de Guerra Cibernética, empregado pelo CCOMGEx na formação de duas turmas do curso de Guerra Cibernética e no treinamento de equipes de defesa cibernética.

Entre outros benefícios para o Exército, para a Defesa e, consequentemente, para a Nação, não poderíamos deixar de citar o desenvolvimento de doutrina nacional para o setor cibernético com base nos ensinamentos colhidos durante a atuação na segurança cibernética dos grandes eventos, o que possibilitou, assim, o aprimoramento de todos os produtos desenvolvidos sob a premissa da dualidade, ou seja, para o emprego civil e militar.

Visão de Futuro

Comprometidos com a realização de ações positivas, os integrantes do setor cibernético dedicam-se, diuturnamente, ao seu desenvolvimento, contudo, ainda há muito que fazer, apesar de o Brasil se encontrar alinhado com as práticas mais modernas no contexto mundial.

Um aspecto desafiador de crucial importância para a sedimentação e crescimento do setor consiste na formulação de legislação específica que ampare as atividades de defesa cibernética e atribuam responsabilidades aos órgãos atuantes, bem como sanções àqueles que implementam ações hostis com o intuito de interromper ou diminuir o rendimento dos sistemas computacionais.

Se, por um lado, o Brasil conta com a Política Cibernética de Defesa como suporte legislativo para o desenvolvimento dos trabalhos de integração com os setores público, privado, industrial e acadêmico, por outro, conta com a recente Lei Nº 12.737 e com o processo em curso para a aprovação do Marco Civil, espécie de “constituição da internet”, no qual direitos e deveres deverão ser estabelecidos, consolidando o modelo multisetorial adotado pelo País e considerado referência mundial no setor.

Os trabalhos para a criação de soluções que atendam às demandas do setor cibernético brasileiro, como o desenvolvimento de sistemas criptográficos, a elaboração de ferramentas nacionais de prevenção à intrusão de sistemas e o desenvolvimento de software seguro, já se iniciaram, ao lado de programas que permitem a análise de códigos computacionais maliciosos, bem como a investigação forense computacional e a gestão de incidentes em redes.

Pelo exposto, pode-se perceber a crucial importância das ações de defesa cibernética para a manutenção da capacidade de atuação das Forças Armadas brasileiras, na medida em que os sistemas militares se mostram cada vez mais dependentes das ferramentas de Tecnologia da Informação, como, por exemplo, na produção de conhecimento, na busca de alvos e nas comunicações.

Mediante o desenvolvimento de doutrina militar específica e o aproveitamento das experiências adquiridas nos Grandes Eventos, o setor cibernético poderá oferecer segurança e eficiência necessárias às operações militares, no quinto elemento do campo de batalha, o cibernético, além dos tradicionais terra, ar, mar e espaço.

FONTE: EB

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