Por Luiz Padilha
No dia 18 de novembro, o editor do Defesa Aérea & Naval teve o privilégio de presenciar a assinatura do Acordo de Parceria entre o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), que objetiva capacitar recursos humanos da Marinha para a operação prolongada do reator IEA-R1 do IPEN.
O IEA-R1 é um reator de pesquisa tipo piscina, moderado e refrigerado a água leve e que utiliza elementos de berílio e de grafite como refletores. Foi projetado para operar a uma potência máxima de 5 MW. Sua primeira criticalidade ocorreu em 16 de setembro de 1957 e pode ser utilizado para várias finalidades, com destaque para a produção de radioisótopos para uso em medicina nuclear, tais como: o Samário-153, utilizado como paliativo da dor em metástases óssea e no tratamento de artrite reumatóide; o Iodo-131, utilizado na terapia de câncer de tireóide e hipertireoidismo, na terapia de hepatomas, na localização e terapia de feocromocitomas, neuroblastomas e outros tumores, no estudo da função renal, na determinação do volume plasmático e volume sanguíneo total; e o Irídio-192, produzido na forma de fios metálicos, utilizados na técnica de braquiterapia para o tratamento de câncer. Pesquisas estão sendo realizadas para a produção de geradores de Tecnécio-99m, Lutécio-177 e Rênio-188.
No Brasil é crescente a utilização de radiofármacos em diagnósticos, terapias, avaliação e tratamento de neoplasias, cardiopatias, neuropatias e outras enfermidades. Atualmente, o País conta com mais de 400 serviços de medicina nuclear distribuídos por todo o território, sendo que os radiofármacos fornecidos pela CNEN propiciam a realização de cerca de dois milhões de procedimentos por ano, com aproximadamente 70% deles cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dos quais apenas o Samário 153 é produzido no País, correspondendo a menos que 1% dos exames realizados. Essa realidade irá mudar em breve, pois essa parceria propiciará a retomada e aumento da produção dos radioisótopos Iodo 131 e Lutércio 177, hoje importados a um custo de dezenas de milhões de reais anuais, além da realização de pesquisas de novos radioisótopos.
Segundo o IPEN, além dos pesquisadores do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq), onde o reator está localizado, também utilizam os serviços de irradiação do IEA-R1:
– Centro de Engenharia Nuclear (CEN),
– Centro de Tecnologia das Radiações (CTR),
– Diretoria de Radiofármacos (DIRF),
– Centro de Metrologia das Radiações (CMR),
– Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP,
– Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
– Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF),
– Instituto de Engenharia Nuclear (IEN),
– Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN),
– Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
– Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB),
– Instituto de Geociências da USP,
– Instituto de Física da USP,
– Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD),
– Universidade Federal Fluminense (UFF) e
– TRACERCO do Brasil (empresa privada que executa inspeções e testes em refinarias de petróleo).
Para o CTMSP, além de contribuir para o atendimento dessa demanda específica de saúde da sociedade brasileira, em parceria com o IPEN, esse Acordo irá propiciar o aumento da capacitação da Marinha no setor nuclear, conforme estabelecido na Política e na Estratégia nacionais de Defesa, documentos de alto nível do Estado brasileiro. Os militares do Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA), organização militar subordinada ao CTMSP, não estarão somente se qualificando para operar o IEA-R1. Este processo trará a experiência necessária para a operação do LABGENE, que é o protótipo em escala 1:1 da planta de propulsão do futuro submarino nuclear brasileiro (SN-BR), bem como para a operação e utilização do futuro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), outro projeto de cunho estratégico para as pesquisas e aplicações práticas da energia nuclear no Brasil, nas áreas da física, da medicina, da agricultura, da indústria e do meio ambiente.
Pelo Acordo assinado, militares alunos do Centro de Instrução e Adestramento Nuclear de ARAMAR (CIANA), uma superintendência do CINA, serão capacitados pelo IPEN e, após licença obtida junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), contribuirão para a retomada da pesquisa e produção de radioisótopos que exigem longas jornadas de operação do reator, marcadores para os chamados radiofármacos.