Explosões em sequência de pagers de integrantes do Hezbollah matam 9 e ferem 2.750 no Líbano

O governo libanês e o Hezbollah acusam Israel, que ainda não se pronunciou. Famosos no Brasil na década de 1990, pagers passaram a ser usados pelo Hezbollah por medo de que Israel rastreasse celulares.

Uma explosão em sequência de pagers — dispositivos de recebimento de mensagens comumente usados na época anterior à popularização dos celulares — matou nove pessoas e deixou 2.750 feridas nesta terça-feira (17) no Líbano, segundo o Ministério da Saúde local.

O Ministério da Saúde do Líbano informou à Reuters às 17h03 (horário de Brasília) que o número de mortos havia subido para 11 e o de feridos para 4 mil, mas voltou atrás às 17h32 desta terça.

Os aparelhos que explodiram eram usados por membros do grupo extremista Hezbollah. O Hezbollah e o governo do Líbano acusaram Israel de uma ação coordenada. O governo israelense ainda não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.

Segundo a agência árabe Al Jazeera, as explosões dos pagers foram coordenadas e provocadas por explosivos implantados previamente nos equipamentos.

Os pagers foram um meio de comunicação móvel desenvolvido nas décadas de 1950 e 1960 que se popularizou durante as décadas de 1980 e 1990, antes do crescimento do uso de celulares. No Brasil, eles ficaram conhecidos como “bipes”.
Para se comunicar com alguém, a pessoa precisava ligar para uma central telefônica e informar a um atendente para qual número ela gostaria de enviar uma mensagem, o conteúdo deveria ser curto. No caso desta terça no Líbano, há a suspeita de que os dispositivos tenham sido hackeados. O Hezbollah disse que estava apurando as circunstâncias das explosões.
O que restou de um pager após a explosão

Os pagers foram detonados em um intervalo de pouco mais de uma hora. Imagens das câmeras de segurança de um supermercado em Beirute registraram o momento de duas dessas explosões: uma de um homem que pagava suas compras no caixa e outra perto de uma bancada de frutas.

Entre os mortos pela explosão dos pagers estão uma menina e dois integrantes do Hezbollah, segundo o grupo extremista. Um dos mortos do grupo era filho de um membro do parlamento libanês, segundo duas fontes de segurança ouvidas pela agência Reuters –o Hezbollah também é partido político no Líbano.

De acordo com a Al Jazeera, os pagers foram invadidos e hackeados. Esses dispositivos passaram a ser usados depois que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pediu a seus combatentes, especialmente os que estão na linha de frente na fronteira sul do Líbano com Israel, que parassem de usar smartphones, porque o país vizinho teria tecnologia para se infiltrar nos aparelhos.

Após as explosões desta terça, o governo libanês pediu que todos os cidadãos que possuem pagers joguem os dispositivos fora imediatamente, segundo a agência de notícias estatal do Irã Irna.

O grupo terrorista Hamas, que trava uma guerra contra Israel na Faixa de Gaza e é aliado do Hezbollah, repudiou as explosões de pagers, às quais atribuiu aos israelenses. O Hamas também chamou o caso de “uma escalada”.

A Brigada do Hezbollah no Iraque emitiu comunicado em que se colocou à disposição da divisão libanesa do grupo extremista.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse nesta terça que os EUA não estiveram envolvidos nas explosões dos pagers e que o governo americano está reunindo informações sobre o caso. O Pentágono também afirmou que os EUA não tiveram nada a ver com as explosões.

Aliado do Hezbollah, o Irã condenou fortemente as explosões de pagers, que chamou de “operação terrorista do regime de Israel”, e pediu punições da comunidade internacional.

A Cruz Vermelha Libanesa diz que mais de 50 ambulâncias e 300 equipes médicas de emergência foram enviadas para ajudar na evacuação das vítimas.

Explosão de pager no supermercado

O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, foi um dos feridos pela explosão de um pager. A informação foi confirmada pela embaixada, que informou que ele ficou levemente ferido, mas está consciente e não está em estado grave.

Um representante do Hezbollah, que falou à agência de notícias Reuters sob condição de anonimato, afirmou que a detonação dos pagers foi a “maior falha de segurança” a que o grupo foi submetido em quase um ano de guerra com Israel.

Ramy Khoury, da Universidade Americana de Beirute, acredita que o evento foi “o mais perigoso” para o Hezbollah nos últimos anos.

“Isso é altamente incomum e realmente preocupante para o Hezbollah e todos os seus aliados no Eixo da Resistência, porque significa que os israelenses têm capacidades, inteligência e ataques dessa natureza muito além do que as pessoas supunham”, ressaltou Khoury à Al Jazeera.

FONTE: G1

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