Por Ricardo Bonalume Neto
Para que serve um avião de guerra? E por que ele precisaria de um piloto? Respondendo a essas perguntas os militares em anos recentes chegaram a uma conclusão: muito do que faz um avião pilotado pode ser feito por um sem piloto. E pode fazer algo que os aviões tripulados não fazem tão bem, por exemplo, ficar horas e horas voando. Robôs voadores não precisam descansar.
A tecnologia demorou para permitir isso. Esses aparelhos eram chamados pejorativamente de brinquedos. Seriam meros aeromodelos, não máquinas de guerra. Mas agora a tecnologia está se vingando dos detratores, até demais.
Os chamados Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), sigla tirada do inglês “Unmanned Aerial Vehicle” (UAV) estão na linha de frente da chamada “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos. E se tornaram polêmicos pelo seu uso excessivo.
Voltando à pergunta inicial: para que serve um avião de guerra? Eles começaram servindo na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), poucos anos depois de desenvolvidos em várias partes do mundo, para o reconhecimento do território inimigo. A grande “arma” desses pioneiros aviões de guerra era a máquina fotográfica.
Com o aperfeiçoamento das aeronaves, passaram a ter metralhadoras para derrubar outros aviões (os chamados “caças”), ou então portar bombas (os chamados “bombardeiros”). Mas todos precisavam de pilotos para guiá-los até o alvo.
Só depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que a eletrônica começou a permitir a possibilidade de um avião sem piloto. Os primeiros casos foram fracassos. Talvez o mais emblemático foi o minihelicóptero antisubmarino Dash (“Drone Anti-Submarine Helicopter”), da Marinha dos EUA, da década de 1960.
O Dash deveria simplesmente transportar um torpedo antissubmarino mais longe do seu navio; não precisava fazer nada muito elaborado, mas mesmo assim fracassou. Como resultado, as marinhas passaram a usar helicópteros normais, tripulados, bem mais versáteis.
Com o desenvolvimento da eletrônica desde então, especialmente com a miniaturização de componentes, puderam surgir VANTs com aplicação militar. Sensores a bordo permitem reconhecimento de dia ou de noite; e vários modelos são armados com mísseis ar-terra (contra alvos no solo).
Assim como aconteceu com a aviação tripulada, os VANTs surgiram primeiro para reconhecimento, depois para combate.
A grande vantagem das aeronaves não tripuladas é política. Se o inimigo abate uma delas, não há risco de ter um piloto morto ou capturado. Basta lembrar um exemplo clássico: a derrubada em 1960 pela União Soviética de um avião de reconhecimento americano U-2. O piloto, Francis Gary Powers, foi capturado, para grande embaraço diplomático do governo dos EUA.
Nenhum avião tripulado consegue fazer o que faz o americano RQ-4 Global Hawk. Voa a cerca de 20.000 metros de altitude, com alcance de 6.000 km, e tem 24 horas de autonomia. Não existe piloto capaz de ficar um dia inteiro vigiando um alvo.
“Pilotar” um VANT é uma forma mais segura de “combate”: o operador está a salvo em terra em uma base aérea sentando na frente de um console, quiçá a milhares de quilômetros de distância.
Mas a dificuldade em identificar alvos com precisão pode fazer com que civis sejam mortos, os tais “danos colaterais”. Essa é a grande polêmica do momento em relação aos “drones”.
FONTE: Folha on line