Por Chico Sant’Anna
O Exército Brasileiro bateu o martelo e vai voltar a ter a sua própria aviação. A Arma que já opera helicópteros a partir de seus Batalhões de Aviação vai passar a contar com a sua própria esquadrilha. Mas as primeiras aeronaves estão longe de ser a última palavra da tecnologia da aviação militar. Pelo contrário, o Alto Comando do Exército aprovou a aquisição de oito aeronaves de transporte Short C-23B Sherpa. São aviões de produção Irlandesa, fabricados entre 1981 e 1991, usados pela Guarda Nacional dos EUA e que já estavam fora de operação. Fazer o Exército voltar a alçar voos vai custar ao contribuinte cerca de US$ 18 milhões (aproximadamente R$ 77 milhões) na aquisição. Além disso, haverá custos para a colocação dessas aeronaves em condições de voo, construção de hangares e treinamento de pilotos e técnicos.
Esses aviões ainda tem 15 anos de vida útil, mas segundo especialistas, poderão ter o uso esticado em mais 5 anos. Como já estão fora de linha, das oito unidades a serem adquiridas, duas servirão para o que os técnicos chamam de canibalismo. Delas serão retiradas peças para a manutenção das demais. Os Sherpa serão usados na Amazônia, a partir do 4º Batalhão de Aviação do Exército (4° BavEx), baseado em Manaus (AM). Eles tem a capacidade de transportar 3,5 toneladas de carga (o dobro de um avião Bandeirante que era fabricado pela Embraer) e será usado no apoio logístico das ações do Exército na Amazônia.
Independência
No início da 2ª Guerra Mundial, Getúlio Vargas criou a Força Aérea Brasileira e o Ministério da Aeronáutica, a partir da unificação das aviações da Marinha e do Exército, e ainda trouxe para a nova pasta o Departamento de Aviação Civil (DAC). A retomada de operações em aviões pelo Exército acontece 79 anos depois da criação da FAB. Desde 1986, o Exército pode operar seus próprios helicópteros, mas a Arma quer independência em suas ações militares. Agora, cada arma estará pilotando sua própria aviação.
Para o consultor em assuntos militares, Pedro Paulo Resende, a iniciativa do Exército é bem-vinda, pois irá solucionar a dificuldade de abastecimentos dos quarteis de fronteira na Amazônia. Segundo ele, os Short C-23B Sherpa são aviões robustos, rústicos e baratos, mas versáteis, pois, ao contrário dos SC-105 Amazonas, comprados pela FAB na Espanha, sobem e descem com facilidade nas pistas curtas e de terra da região.
Projeto nacional
A opção pelos aviões desativados da Guarda Nacional dos EUA se deu pela falta de uma opção nacional.
Desde o fim da fabricação do Bandeirante, pela Embraer, não existe um modelo que atenda às necessidades brasileiras – explica Pedro Paulo Resende.
Agora, a Desaer, empresa de São José dos Campos, deseja ocupar esse nicho mercadológico – estimado em 2 mil aeronaves civis e militares – e desenvolveu o ATL-100. A expectativa, contudo, é que esse novo avião de projeto 100% nacional só comece a operar em 2025.