Sea Gripen – O futuro caça naval da Saab

Maquete do NAe São Paulo com o Sea Gripen no convoo

Por Luiz Padilha e Guilherme Wiltgen

Antes de abordarmos o Sea Gripen, futuro caça naval da Saab, será necessário primeiro mostrar um pouco do JAS-39 Gripen e sua origem.

O JAS Gripen

Em 1979, o governo da Suécia percebeu que precisava de um novo caça para substituir os seus atuais caças Saab 35 Draken e Saab 37 Viggen. O requisito não era para um caça puro, mas sim um caça multi-função (Multirole). Era preciso que fosse de baixo custo de operação, mas que fosse equipado com o que de mais moderno existisse para realizar missões de superioridade aérea, ataque ao solo e reconhecimento.

Assim nascia o projeto JAS (Jakt – Attack – Spaning) ou seja, um caça capaz de executar missões ar-ar, ar-solo (terra e mar) e reconhecimento. Esse projeto envolveu as empresas suecas Saab-Scania, Volvo-Flygmotor, Ericsson Radio Systems e FFV. Assim, em 1982, surgia o JAS-39A Gripen.

A Saab produziu na sequência o JAS-39 B, versão biposto, e com a sequência das operações e o sucesso do caça, em 1995 a Saab e a a British Aerospace decidiram criar uma joint venture chamada Gripen International para desenvolver uma versão de exportação do Gripen.

JAS 39 Gripen B

Os requisitos pediam 2 versões. O Gripen C, monoplace, e o D, biplace. As especificações da versão de exportação incluíam: sonda de reabastecimento em voo retrátil, cockpit com inscrições em inglês e compatível com óculos de visão noturna, computadores novos, FLIR, pods de reconhecimento, sistema de ar condicionado mais forte, OBOGS e asas mais resistentes com pilones padrão OTAN.

Gripen C – Linkoping

Uma das características do Gripen é ter sido projetado como um caça leve e altamente manobrável. A opção pela asa em delta com canards foi escolhida para otimizar o desempenho de manobra ao mesmo tempo aumentar sua capacidade de ataque, e com o seu sistema Fly By Wire (FBW), é capaz de automaticamente compensar danos de combate, incluindo superfícies de controle desativadas ou destruídas, usando os canards se os ailerons estiverem desativados.

Gripen D pilotado pelo aviador naval CC Sobral

Programas de testes comprovaram as excelentes capacidades de recuperação para ambas as versões do Gripen. Além disso, a configuração delta-canard tem tolerância a danos devido a “sobreposição” das superfícies, bem como o trim positivo de todas as superfícies e o Canard flutuante mantém a aeronave estável em caso de falha do EFCS.

Canards

O Gripen possui canards relativamente grandes em relação as suas asas em delta, e são posicionados perto do cockpit da aeronave, um pouco acima da asa, sendo inclinadas para cima, e sua localização ao lado das entradas de ar impede a obstrução do fluxo de ar.

O principal objetivo dos canards não é atuar como superfície de controle, mas sim, o de aumentar a sustentação em ângulos de ataque (AoA) elevados, onde o avião se baseia principalmente em vórtices para fornecer esta condição. As asas do Gripen possuem pequenos LERX para potencializar os vórtices acima citados. Caças com canards podem ter asas menores e alcançar altas taxas de rolagem, permitindo realizar curvas bem “apertadas” mantendo a taxa ideal de energia. Os canards podem atuar como uma superfície de controle, ajustando sua posição e produzindo máxima sustentação em qualquer ângulo de ataque e também no pouso, inclinando-se para a frente a quase 90 graus, auxiliando a frenagem.

Gripen D – Canards

A capacidade do Gripen de decolar e pousar em estradas é muito importante no contexto que iremos abordar adiante. Sua capacidade de decolar em pistas com 800 metros de comprimento e pousar em 500 metros com o uso dos canards, ativado automaticamente quando a roda do nariz toca o solo, bem como o uso de elevons e freios aerodinâmicos localizados em cada lado da fuselagem atrás da asa, levou a equipe da Saab a vislumbrar a possibilidade de uma versão naval.

Gripen Demo-(foto: Saab)

Em busca pela evolução do caça, surge o Programa Gripen NG (Next Generation), com a utilização de uma aeronave demonstradora de conceito (DEMO), utilizando uma fuselagem modificada de um Gripem D, onde a Saab poderia inserir e testar todos equipamentos para a nova geração. Baseado nos bons resultados alcançados pela aeronave DEMO, a Saab vislumbrou a possibilidade de uma nova versão, a versão naval. Para podermos abordar o Sea Gripen é necessário  verificar algumas características do  Gripen E/F, como faremos a seguir.

O Gripen E

Recentemente o governo da Suíça comprou 22 novos Gripen E para sua força aérea e o governo da Suécia encomendou junto à Saab a transformação de 60 Gripen C da Flygvapnet em Gripen E.

Por ocasião de nossa visita a Linkoping, perguntamos como se daria essa transformação, pois são caças distintos. A resposta é que existem muitas partes comuns entre o Gripen C e E, e  não se justificaria por exemplo, deixar de transferir o assento ejetor Martin Baker MK10, sistemas de combustível e hidráulicos e equipamentos de auxílio no solo.

As células do Gripen E da Flygvapnet, serão 100% novas, com no máximo 10% de aproveitamento do Gripen C. O governo sueco optou em não fazer a conversão do Gripen D para Gripen F neste momento, priorizando neste momento, a versão monoplace e as entregas estão previstas para ocorrer a partir de 2018.

O Sea Gripen

Desde 2001 que os engenheiros da Saab pensavam na versão naval do Gripen, apesar da Suécia não possuir um porta-aviões. Com o desenvolvimento do Gripen NG percebeu-se a possibilidade de uma versão naval e, em 2009, a Saab recebeu da Marinha da Índia um RFP – Request for Proposal, para uma versão embarcada do Gripen.

Sea Gripen 2- NAe São Paulo

Em 2011, a Saab abriu seus novos escritórios em Londres, chefiado pelo Capitão-de-Fragata da reserva da Marinha Britânica Tony Ogilvy, piloto naval com experiência em Buccaneer e Harier, Gerente Geral do Centro de Design do Sea Gripen (CDSG). Uma equipe de engenheiros especialistas do Reino Unido foi então contratada para a equipe do CDSG a fim de aproveitar a expertise britânica na área de operações aeroembarcadas. Esta equipe está conectada aos engenheiros em Linköping em tempo real para finalizar o projeto, que tem como alvo possíveis encomendas na Índia, Brasil, Tailândia e Itália.

Sea Gripen no elevador da maquete do NAe São Paulo

Após testar e aprovar, todas as modificações requeridas para as versões E/F no Gripen NG, o caminho para o Sea Gripen estava aberto.

O Sea Gripen oferecerá uma capacidade multifunção dia e noite, podendo ser considerado o caça ideal para operar no ambiente de um porta-aviões, aumentando enormemente a capacidade do navio em manter operações aéreas por longos períodos, dada a sua alta taxa de disponibilidade.

O projeto foi concluído em agosto de 2012 e com um cliente apoiando este programa, o próximo passo será a produção de um protótipo para ensaios de vôo e operações a bordo de um porta-aviões, realizando catapultagens e pousos a bordo.

Capacidades

O Sea Gripen foi projetado para operar pelos sistemas CATOBAR (Decolagem Assistida por Catapulta e Recuperação por Arresto) e STOBAR (Decolagem Curta e Recuperação por Arresto). Ele poderá operar com catapultas, sendo capaz de decolar com o seu peso máximo (16,5 toneladas). Sem a ajuda da catapulta, a Saab informa que o Sea Gripen poderá decolar com uma carga útil muito alta a partir de um convoo de 200 metros e 14° na rampa de saída. O Sea Gripen terá o mesmo limite de carga operacional do Gripen E/F, que é de 9G, com limite máximo de 13,5 Gs.

Sea Gripen no convoo da maquete do NAe São Paulo

Estas características irão proporcionar desempenho e capacidade ideais para marinhas que operem porta-aviões de dimensões menores, podendo operar em PA’s com deslocamento a partir de 25.000 toneladas. A Marinha da Índia poderá operar o Sea Gripen a partir do INS Vikramaditya (45.400t) e nos futuros INS Vikrant (40.000t) e INS Vishal (60.000t). A Marinha do Brasil também poderá operar o Sea Gripen a partir do NAe São Paulo (33.000t) e do futuro porta-aviões brasileiro, que já está em estudos no PRONAE ( Programa Navio Aérodromo), e a Marinha Italiana, com o seu Porta Aviões Cavour (27.100t), poderá  substituir seus AV-8B Harrier II pelo Sea Gripen.

Imagem computadorizada do NAe São Paulo operando com o Sea Gripen

A diferença de peso do Sea Gripen para o GripenE/F deverá ser da ordem de 500kg. Não será necessário o redesenho do nariz. A célula sofrerá reforços estruturais em pontos, como por exemplo, o trem de pouso do nariz, o trem de pouso principal, o gancho de parada (já existente) e os pilones nas asas e o ventral.

Todos os sensores e aviônicos serão os mesmos do Gripen E/F. O motor será o General Eletric F-414-400 que já é navalizado com 22.500lbs de empuxo, o que lhe permitirá decolar full load com 16.500Kg, sendo 3.500kg de combustível/armamento e poder retornar com 3.000Kg de armamento a bordo. Estão previstos 6.200 pousos a bordo durante as 8.000 horas de vida útil  de cada célula.

A capacidade do Gripen E/F de pousar em estradas curtas e cercadas de árvores (formando um funil onde erros não são permitidos), é muito semelhante ao pouso a bordo de um PA. Semelhante quando levamos em consideração a “sink rate” de 13 a 14 pés por segundo para pouso em estradas, e  de 18 a 20 pés por segundo para pouso em PA’s. Importante mencionar que as aeronaves que não possuem capacidade STOL pousam com 8 pés por segundo de velocidade vertical.

Um caça moderno pousa em porta-aviões com uma velocidade entre 130 e 140 nós, enquanto o Sea Gripen, com suas características STOL, pousará com 125 nós. Essa diferença não é desprezível em operações a bordo de porta-aviões.

O Raven ES-05

O sistema de missão inclui um radar AESA e um sistema de autoproteção que permite excelentes características ofensivas e defensivas.

Raven ES-05

O Raven ES-05,da Selex ES, será o radar que equipará o Gripen E/F e o SeaGripen. Tem alto desempenho com matriz ativa de varredura eletrônica (AESA), projetado especialmente para os Gripen. Faz parte da próxima geração de sensores do sistema multifunção. O conjunto de sensores inclui um sensor IRST Skyguard-G,(sistema de busca e rastreamento de alvos por meio da detecção de emissões de radiação infravermelha), sistemas avançadosde alerta (EW – enemywarning), ativo e passivo, de alerta laser, e chaffs/flares integrados no comando central. Isso irá incrementar em muito a capacidade multitarefa e desempenho contra ameaças em cenários complexos.

Raven ES-05 com Skyguard-G

O radar Raven ES-05, com sua inovadora antena, com um sistema de varredura do tipo swash-plate, fornecerá um campo visual com ± 100° para cada lado a partir do seu eixo central, melhorando a consciência situacional e de sobrevivência, permitindo que o piloto dispare seus mísseis e se afaste enquanto o ES-05 adquire outros alvos. O Raven ES-05 foi projetado para atender a evolução de detecção, controle e rastreamento de alvos combinados em um sistema modular. Baseia-se em unidades singulares criando uma arquitetura de sistema “escalável” para atender ao controle de fogo e interceptar os requisitos operacionais de radar, mantendo-se resistente a contramedidas. A antena usa cerca de mil TRMs (módulo transmissor-receptor), que geram feixes de alta potência. O radar também produz uma grande variedade de regimes de ondas e de transformação que implementam o modo ar-ar, enquanto procuram modos de controle de combate, ar-terra e ar-mar.

Skyguard-G

Opinião: O SeaGripen e a Marinha do Brasil

O NAe São Paulo estará realizando em breve uma comissão de Catrapo (pouso e enganche de aeronave a bordo) com os seu caças AF-1 (Skyhawk) do Esquadrão VF-1. Nesta volta do navio ao setor operativo, o VF-1 ainda estará com os AF-1 antigos e será usada a catapulta lateral, requalificando a tripulação e pilotos. Porém, isso será por pouco tempo, pois está previsto para maio de 2013 o primeiro voo do AF-1M, versão modernizada pela Embraer, um salto de qualidade em relação aos caças atuais.

Mas, é preciso, desde já, que se olhe para o futuro, uma vez que, mesmo com a atualização, o AF-1 não possui as características para ser o caça de defesa da frota. Com o Programa do Navio-Aeródromo (PRONAE) em andamento, a Marinha do Brasil vai precisar de um caça moderno.No caso de uma eventual opção pelo Gripen E/F para a Força Aérea Brasileira, o SeaGripen seria a escolha certa para a Marinha, pois a comunalidade, faria com que os custos operacionais fossem ainda mais reduzidos para ambas.

O SeaGripen poderá ser utilizado no NAe“São Paulo”, que tem previsão inicial de baixa para o ano de 2025. Com os caças AF-1M e o SeaGripen, mais a aeronave COD (“Carrier On Board Delivery”) e o AEW (“Airborne Early Warning”), as operações serão completas e os pilotos farão a transição normalmente de um caça antigo, para um de geração 4++.

O Defesa Aérea & Naval, na busca por mais evidências das capacidades do SeaGripen para operar embarcado, solicitou à SAAB a possibilidade de que um aviador naval brasileiro, de asa fixa, voasse o Gripen, onde pudesse simular as aproximações no mesmo padrão que realizava quando operava a bordo do NAe “São Paulo”.

Como cada navio-aeródromo tem “detalhes” próprios, nós enxergamos essa oportunidade como ideal para ratificar as qualidades do caça. Assim, o “nosso” piloto ensaiou o Gripen D e pode constatar, “na mão”, a possibilidade do caça operar em um navio como o NAe “São Paulo”. Acreditamos que o próximo passo deva ser um aviador do Esquadrão VF-1 realizando um voo em condições específicas para que a Marinha possa ter uma posição oficial sobre a aeronave. Luiz Padilha

Características gerais do Sea Gripen

Comprimento: 14,1m

Envergadura: 8,6m

Peso Máx.decolagem: 16.500 Ton

Motor: General Eletric F-414-400

Empuxo: 22.000 Lbs

Velocidade Máxima: 2.470Km/H

Super Cruise: > M 1.2

Teto Máximo de voo: 50.000 Ft

Carga Máx: 7.200 Kg

Combustível: 7.100 Kg

Limite em G’s: -3G à +9G

Autonomia: 2.200 MN

Distância mínima para pouso: 500m

Custo estimado Hora de vôo: USD 5.000

Armamento:

Canhão: Mauser BK-27

Mísseis: Mica, AIM-120 AMRAAM, Meteor, R-Darter, Derby, A-Darter, Sidewinder, Iris-T, Python 4/5, AIM-9X Sidewinder, AIM-132 ASRAAM, AGM-65 Maverick, RBS-15F antinavio,  Brimstone e Taurus KEPD

Bombas: Paveway II, III e IV, Lizard II e III, GBU 39/B, JDAM/JDAM ER, AGM-154 JSOW, Spice, MK 80 series.

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