Com orçamentos de defesa em queda e avanço dos drones, chega ao fim a rápida ascensão do setor de helicópteros.
Para a UTC, desfazer-se da Sikorsky é uma decisão prudente; para a Lockheed, adquiri-la é uma jogada arriscada. Cinco grandes empresas dominam os mercados civil e militar de helicópteros: Sikorsky, Airbus, Augusta Westland, Bell e Boeing. Todas elas operam em ar rarefeito, pois é improvável que a demanda por helicópteros se mantenha no patamar elevado registrado ao longo dos últimos dez anos, quando o segmento viveu um boom de vendas.
No setor de petróleo e gás, destino de mais da metade de todos os helicópteros produzidos com fins civis, já se observa um desaquecimento na demanda. Os helicópteros costumam ser usados para transportar equipamentos e funcionários para as plataformas de petróleo. O heliporto de Aberdeen, que atende o Mar do Norte, é o mais movimentado do mundo. O prolongado ciclo de preços em alta estimulou as petrolíferas a explorar novas reservas em mar alto. A baixa que teve início em meados do ano passado fez com que elas cortassem custos e desistissem de alguns projetos dispendiosos, assim como dos helicópteros que seriam utilizados em sua realização.
A Sikorsky revisou sua projeção de faturamento com aeronaves civis em 2015: a empresa, que antes contava comum crescimento entre 5% e 7% nas vendas, agora espera uma retração de até 20% em relação às vendas de 2014.
Vendas civis.
Nos países ricos, continuará sendo necessário substituir os helicópteros usados para transportar pessoas, atender emergências médicas e realizar operações de busca e resgate — serviços que também vêm se tornando cada vez mais comuns na Ásia e no Oriente Médio. Na última década, os fabricantes de helicópteros efetuaram, em média, entregas anuais de 550 unidades civis, segundo Alix Leboulanger, da consultoria Frost & Sullivan. Ao longo dos próximos dez anos, o número de entregas deve chegar a cerca de 900 unidades anuais.
A questão, diz Leboulanger, é que esses serviços são realizados por helicópteros de menor porte, cujo preço varia entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões, ao passo que as plataformas de petróleo são atendidas por helicópteros maiores, com preços entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões. A receita com vendas civis dobrou entre 2005 e 2015, chegando a US$ 6 bilhões anuais, mas deve recuar para uma média anual de US$ 5 bilhões na próxima década.
E o que dizer das unidades fabricadas com fins militares?
As vendas desse tipo de helicóptero não chegaram a passar por turbulências por conta da crise financeira, pois as forças armadas dos Estados Unidos, de longe as maiores compradoras de helicópteros do mundo, precisaram desse tipo de aeronave para conduzir operações no Iraque e no Afeganistão. Os helicópteros militares são abastecidos com inúmeros equipamentos e passam por atualizações frequentes. A Airbus calcula que essas unidades responderão por menos de metade de suas vendas de helicópteros, mas serão responsáveis por 75% das receitas que a empresa terá com esse tipo de aeronave ao longo da próxima década.
Ocorre que, nos últimos anos, os orçamentos de defesa em todo o mundo têm se mantido estáveis ou apresentam declínio. Programas de aquisição de helicópteros foram eliminados ou adiados. Segundo a Mordor Research, outra consultoria, as vendas militares devem crescer ao ritmo bastante modesto de 2,5% anuais, alcançando US$ 23 bilhões em 2020.
A Sikorsky já fornece dois terços dos helicópteros empregados pelas tropas americanas, e esse é seu maior atrativo para a Lockheed, que tem muitos negócios com o setor de defesa de vários países e talvez imagine que a presença da Sikorsky em sua carteira a ajudará a abocanhar mais contratos nos Estados Unidos. As exportações podem aumentar à medida que as forças armadas de países em desenvolvimento queiram se modernizar. Mas será preciso enfrentar tanto suas concorrentes nos países ricos, como os russos e os indianos, que fabricam aeronaves menos avançadas em termos tecnológicos, mas de preço mais em conta.
A Lockheed, que também produz aeronaves não tripuladas, talvez conseguisse administrar melhor a desordem que os drones certamente provocarão, se começasse a oferecer aeronaves com e sem assento para piloto. Helicópteros menores, usados na apuração de notícias, em atividades de mapeamento e na agricultura, já vêm sendo substituídos por drones, cujo custo é muito menor. Antes executadas por helicópteros, agora são comuns as operações de reconhecimento e missões de reabastecimento com aeronaves não tripuladas. A boa notícia para as fabricantes de helicópteros é que o transporte de passageiros com aeronaves não tripuladas ainda é um futuro distante. Nem por isso é hora de relaxar.
FONTE: Estado de São Paulo