Por Jon Hemmerdinger
Os problemas da Boeing estão longe de ser resolvidos, mas os eventos de 18 de novembro de 2020, pelo menos, limparam uma nuvem que ofuscou o airframer de Chicago por 20 meses.
Naquele dia, a Federal Aviation Administration suspendeu o a probição de voar do 737 Max, permitindo que as companhias aéreas retomassem os voos e liberando a Boeing para reiniciar as entregas.
Então, no início de dezembro, a Boeing obteve outras vitórias: em 3 de dezembro, a Ryanair encomendou 75 737 Max adicionais e, em 9 de dezembro, a Gol do Brasil reiniciou os voos Max.
Por essas razões, 2021 começa com um raro e pequeno raio de otimismo para o airframer de Chicago, embora a empresa ainda deva superar um colapso da indústria que apresenta desafios sem precedentes. Vários analistas aeroespaciais previram que a Boeing não anunciará nenhum grande projeto de desenvolvimento de aeronaves comerciais em 2021, mas sim se concentrará em resistir à crise.
“O que eu realmente quero ver em 2021 é uma gestão sólida das [entregas] do Max, e algum nível de estabilização com o 787”, diz Michel Merluzeau, analista aeroespacial da consultoria AIR.
Uma das principais tarefas da Boeing em 2021 é encontrar uma maneira de entregar centenas de 737 Max. A empresa possui um estoque de cerca de 450 desses jatos e disse que pretende entregar cerca de metade deles dentro de um ano após o término da probição.
“Isso é o que vai trazer algum nível de liquidez de volta para a empresa”, diz Merluzeau.
A Boeing iniciou esse processo em dezembro, quando entregou um 737 Max para a United Airlines, marcando a primeira entrega desde que a probição havia entrado em vigor.
Mas colocar os jatos nas mãos dos clientes pode não ser uma tarefa fácil porque, no momento, as companhias aéreas têm pouca necessidade de mais capacidade.
“Será necessário criar uma nova forma de pensar da Boeing em 2021, para trabalhar com os clientes”, para convencer as companhias aéreas a trocar os 737NGs de 15 a 20 anos por um novo Max, diz Merluzeau.
E embora a certificação FAA seja um marco crítico, a Boeing em 2021 provavelmente também trabalhará para convencer os reguladores de outros países a liberar o jato.
O Brasil já liberou o jato para voar, e espera-se que agências no Canadá e na Europa o sigam. Mas os analistas não têm muita clareza sobre quando o regulador aeroespacial civil da China fará isso.
Analistas suspeitam que a liberação da China pode estar envolvida na guerra comercial EUA-China e no interesse da China em promover seu jato Comac C919 caseiro e em desenvolvimento.
“A recertificação na China continua sendo uma questão e foi envolvida em discussões políticas mais amplas”, diz um relatório de 18 de novembro da empresa de serviços financeiros Canaccord Genuity.
O relatório acrescenta que, forças políticas à parte, as companhias aéreas chinesas estão provavelmente ansiosas para retomar os voos da Max devido à relativa força do mercado de viagens aéreas da China.
A incerteza sobre o mercado chinês cria um risco significativo para a Boeing, já que as transportadoras chinesas podem ser responsáveis por cerca de 30% das entregas do Max em potencial, disse Steven Udvar-Hazy, presidente executivo da locadora de aeronaves Air Lease, à FlightGlobal.
“Um grande ponto de interrogação é a China, que basicamente parou de importar 737s”, diz ele.
Em 2021, a Boeing também pretende continuar reestruturando suas operações para refletir o ambiente aeroespacial atual.
Até o final de 2021, a Boeing espera ter cerca de 130.000 funcionários, cerca de 19% menos do que no final de 2019, disse o presidente-executivo David Calhoun aos funcionários em 28 de outubro. Os funcionários que partiram incluem gerentes de nível médio e vice-presidentes da divisão de aeronaves comerciais da Boeing. A empresa também está reduzindo sua pegada imobiliária em cerca de 30%, disse.
Ainda em 2021, a Boeing pretende encerrar a produção de 787s em Everett, consolidando esse trabalho em sua unidade de fabricação em North Charleston, na Carolina do Sul.
As taxas de produção de aeronaves comerciais também estão caindo. A Boeing prevê reduzir a produção para cinco 787s e dois 777s por mês em 2021, abaixo das taxas pré-pandêmicas de 14 787s e cinco 777s por mês. A Boeing não especificou quantos Max espera produzir em 2021.
Alguns analistas acreditam que a produção final da Boeing pode ser menor do que projetou publicamente.
“Minha principal área de preocupação não é necessariamente o Max, é o 787”, diz Merluzeau. Ele cita particularmente a demanda soft widebody e a probabilidade de que mais 787s possam chegar ao mercado de segunda mão se a pandemia causar mais falências de companhias aéreas. Isso pode significar mais oferta e ainda menos demanda.
Além do 450 737 Max em seu estoque, a Boeing está com cerca de 60 787s não entregues, mostram os dados das frotas da Cirium. A empresa reconheceu uma desaceleração nas entregas de 787 devido à pandemia e às inspeções exigidas decorrentes de um problema de fuselagem divulgado em 2020.
Entregar cinco 787s por mês seria o “melhor cenário” para a Boeing, diz Merluzeau.
Ele suspeita que a Boeing fabricará, na verdade, cerca de 50 787s em 2021 (cerca de quatro por mês) e, no lado otimista, até 130 737s (cerca de 11 por mês).
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN
FONTE: Flight Global