Piloto não reportou qualquer problema técnico, diz Saito

Juniti Saito

A última comunicação gravada do piloto Marcos Martins com o operador de rádio da Base Aérea do Guarujá não indica preocupação nem se refere a qualquer problema técnico no Cessna 560 XL.

Martins avisou ao rádio que estava arremetendo, ou seja, abortando a aterrissagem, quando o operador lhe perguntou sobre “suas próximas intenções”. Ele respondeu: “Vou aguardar a melhoria de condições do tempo”.

Até agora, a única frase divulgada de Martins havia sido gravada pela Torre de Controle de São Paulo, não pelo rádio de Santos, e foi antes da arremetida.

A informação é do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que fez um relato nesta sexta-feira (15) para a presidente Dilma Rousseff sobre o estágio das investigações.

Veja abaixo a entrevista:

Folha – O que houve com a gravação da caixa-preta?

Juniti Saito – As conversas entre os pilotos não foram gravadas e as últimas vozes são de mecânicos no solo, mas são conversas sobre sistemas, nada relevante para a investigação.

Por que não gravou?

Estamos fazendo consultas ao fabricante e à empresa de manutenção, porque isso não é usual.

O quanto prejudica as investigações?

Nós temos outros fatos e fatores para analisar, como as condições das turbinas e dos flaps e as gravações dos radares. Mesmo as turbinas estando danificadas, há boas condições de análise.

A FAB trabalha com a hipótese de “desorientação espacial”?

Todo acidente, mesmo quando o fator principal é falha mecânica, tem a mão humana, seja dos pilotos, seja dos mecânicos. Mais de 80% dos acidentes ocorrem por falha humana.

Foi detectada alguma falha mecânica até agora?

Só temos certeza de que o trem de pouso e os flaps estavam recolhidos, funcionaram. Mas nada pode ser descartado, tudo entra na investigação.

Inclusive a hipótese de choque com drones?

Isso é coisa de quem quer tumultuar a investigação. Existe, sim, uma Notam (nota da Aeronáutica para pilotos) citando drones, mas a 20 km da pista, e esses drones pequenininhos só voam por instrumento a 300, 400 metros. E com chuva, vento forte, se o dono puser para voar, vai perder o drone dele.

E com pássaros?

É a mesma coisa. Sabe aquele jargão dos pilotos? “Com o tempo ruim, até urubu fica no chão”. Urubu e drones não voam naquelas condições [do dia do acidente, de chuva e vento].

O avião realmente apresentou fogo e fumaça ainda voando?

Isso, sinceramente, é coisa de quem não conhece bem… É muito difícil achar que tinha fogo e fumaça no ar, até porque o piloto não comunicou ao rádio hora nenhuma. Então, como as pessoas conseguiam ver fogo, fumaça, se o tempo estava ruim, fechado, chovendo muito?

O sr. sabe qual foi a última comunicação do piloto?

Ele comunicou ao rádio [da Base do Guarujá] que estava arremetendo. O operador falou: “Suas próximas intenções”. Então, ele disse: “Vou aguardar a melhoria de condições do tempo”. Foram suas últimas palavras. Depois, o operador do rádio chamou uma, duas, três, quatro vezes, sem retorno.

Como foi sua conversa com a presidente?

Ela é muito perguntadora. Fiz um relato do que temos até agora, com a simulação do voo e o andamento das investigações. Não é muita coisa, mas é o que temos.

O avião passou mesmo entre dois prédios?

Vi um delegado falando isso na televisão, mas nossa simulação não inclui isso. O importante é que foi muita sorte não matar ninguém no solo. Não teve vítimas e seguramente era para ter [no solo].

O sr. está otimista quanto aos resultados da investigação, só com destroços e sem a gravação da caixa preta?

Nosso sistema de investigação é reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Só ficamos atrás do Canadá e empatamos com a União Europeia, com 96 a 97% de aprovação. Peço que confiem na Força Aérea, não vamos entrar no jogo político.

FONTE: Folha de São Paulo – Eliane Cantanhêde

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