Martins avisou ao rádio que estava arremetendo, ou seja, abortando a aterrissagem, quando o operador lhe perguntou sobre “suas próximas intenções”. Ele respondeu: “Vou aguardar a melhoria de condições do tempo”.
Até agora, a única frase divulgada de Martins havia sido gravada pela Torre de Controle de São Paulo, não pelo rádio de Santos, e foi antes da arremetida.
A informação é do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que fez um relato nesta sexta-feira (15) para a presidente Dilma Rousseff sobre o estágio das investigações.
Veja abaixo a entrevista:
Folha – O que houve com a gravação da caixa-preta?
Juniti Saito – As conversas entre os pilotos não foram gravadas e as últimas vozes são de mecânicos no solo, mas são conversas sobre sistemas, nada relevante para a investigação.
Por que não gravou?
Estamos fazendo consultas ao fabricante e à empresa de manutenção, porque isso não é usual.
O quanto prejudica as investigações?
Nós temos outros fatos e fatores para analisar, como as condições das turbinas e dos flaps e as gravações dos radares. Mesmo as turbinas estando danificadas, há boas condições de análise.
A FAB trabalha com a hipótese de “desorientação espacial”?
Todo acidente, mesmo quando o fator principal é falha mecânica, tem a mão humana, seja dos pilotos, seja dos mecânicos. Mais de 80% dos acidentes ocorrem por falha humana.
Foi detectada alguma falha mecânica até agora?
Só temos certeza de que o trem de pouso e os flaps estavam recolhidos, funcionaram. Mas nada pode ser descartado, tudo entra na investigação.
Inclusive a hipótese de choque com drones?
Isso é coisa de quem quer tumultuar a investigação. Existe, sim, uma Notam (nota da Aeronáutica para pilotos) citando drones, mas a 20 km da pista, e esses drones pequenininhos só voam por instrumento a 300, 400 metros. E com chuva, vento forte, se o dono puser para voar, vai perder o drone dele.
E com pássaros?
É a mesma coisa. Sabe aquele jargão dos pilotos? “Com o tempo ruim, até urubu fica no chão”. Urubu e drones não voam naquelas condições [do dia do acidente, de chuva e vento].
O avião realmente apresentou fogo e fumaça ainda voando?
Isso, sinceramente, é coisa de quem não conhece bem… É muito difícil achar que tinha fogo e fumaça no ar, até porque o piloto não comunicou ao rádio hora nenhuma. Então, como as pessoas conseguiam ver fogo, fumaça, se o tempo estava ruim, fechado, chovendo muito?
O sr. sabe qual foi a última comunicação do piloto?
Ele comunicou ao rádio [da Base do Guarujá] que estava arremetendo. O operador falou: “Suas próximas intenções”. Então, ele disse: “Vou aguardar a melhoria de condições do tempo”. Foram suas últimas palavras. Depois, o operador do rádio chamou uma, duas, três, quatro vezes, sem retorno.
Como foi sua conversa com a presidente?
Ela é muito perguntadora. Fiz um relato do que temos até agora, com a simulação do voo e o andamento das investigações. Não é muita coisa, mas é o que temos.
O avião passou mesmo entre dois prédios?
Vi um delegado falando isso na televisão, mas nossa simulação não inclui isso. O importante é que foi muita sorte não matar ninguém no solo. Não teve vítimas e seguramente era para ter [no solo].
O sr. está otimista quanto aos resultados da investigação, só com destroços e sem a gravação da caixa preta?
Nosso sistema de investigação é reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Só ficamos atrás do Canadá e empatamos com a União Europeia, com 96 a 97% de aprovação. Peço que confiem na Força Aérea, não vamos entrar no jogo político.
FONTE: Folha de São Paulo – Eliane Cantanhêde