Por Eduardo A. Mangueira
Em janeiro de 2023, a Embraer anunciou a intenção de venda do caça de ataque A-29 Super Tucano e do cargueiro tático KC-390 Millenium para a Índia, aviões aptos para diferentes missões, com custo de manutenção relativamente baixo. A compra dessas aeronaves é parte de um movimento de maior inserção da Embraer no setor aéreo indiano, buscando apoiar o objetivo do país de se tornar um exportador de Defesa relevante, segundo o CEO da Embraer, Caetano Neto.
Assim, quais serão as possíveis consequências de tal aproximação para as relações da empresa brasileira com os países da região?
Essa possibilidade é oferecida em momento favorável a investimentos no setor de Defesa da Índia, visto que há necessidade de autossuficiência e modernização de seu aparato militar. A compra dessas aeronaves, age, portanto, suprindo necessidades logísticas, de ataque, reconhecimento ou monitoramento de fronteiras, principalmente com a China e com o Paquistão, na porção da Linha de Controle Real.
Segundo o Global Air Powers Ranking (2023), atualmente, a Índia possui a terceira maior força aérea do mundo seguida da China, na quarta posição. O Paquistão, por sua vez, encontra-se em décimo quinto lugar. Todavia, a região está num contexto de escalada armamentista, onde esses três países buscam modernizar suas Forças Armadas, incluindo suas capacidades aéreas.
As relações entre o Brasil e a Índia tiveram suas origens em 1948, quando o Brasil reconheceu a independência indiana, desde então estabelecendo cooperações na área de comércio, segurança energética, segurança alimentar e Defesa. Essa cooperação tem se aprofundado, com a visita presidencial em 2020 à Índia e a assinatura de tratados de criação de um fundo monetário e fomento ao investimento e comercialização. Ainda, houve o estabelecimento de diálogo entre as duas indústrias de Defesa, visando, dentre outras coisas, o aumento das exportações brasileiras neste setor. Assim, o Brasil se apresenta como outra opção para compras bélicas indianas, contribuindo para a diversificação de parceiros nesta área.
Em suma, o plano de participar do projeto de autossuficiência indiano trará grandes oportunidades à Brasília. Uma posição futura da Índia como exportadora de Defesa com tecnologia brasileira pode possibilitar a abertura do leque da Embraer para o entorno estratégico indiano, que necessitaria de peças do Brasil para a manutenção das aeronaves, por exemplo.
Outro mercado interessante, e possível, seria o Paquistão que, ainda defasado em relação a seu maior rival regional, poderia utilizar jatos brasileiros em seu projeto de modernização.