Novos chefes militares têm perfil conciliador

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Por Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Dilma escolhe comandantes das Forças Armadas ‘descolados’ do golpe de 1964

Num dia de muitas costuras, conversas e inúmeras idas do ministro da Defesa, Jacques Wagner, ao Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff escolheu os três novos comandantes militares. O general Eduardo Villas Bôas, atual comandante de Operações Terrestres (Coter), será o novo comandante do Exército. Para a Marinha irá o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, atual diretor da Escola Superior de Guerra (ESG). E para a Aeronáutica o indicado foi o brigadeiro Nivaldo Rossato, chefe do Estado-Maior da Força Aérea.

A escolha dos novos comandantes consumiu boa parte do dia de Wagner e Dilma, que optaram por uma renovação das três forças com militares com perfis conciliadores. Todos os escolhidos entraram nas Forças Armadas depois do golpe de 1964 e não tiveram participação nos episódios que vieram à tona, novamente, com a discussão da Comissão da Verdade.

O problema para a divulgação dos nomes se concentrou na definição para a Aeronáutica.

Era preciso mexer as três peças do xadrez com a lista dos três mais antigos. Havia ainda uma torcida no Palácio do Planalto para que um deles, o brigadeiro Joseli Camelo, que está há 12 anos fora das Forças, como responsável por toda infraestrutura de voos da Presidência – primeiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, depois, da presidente Dilma – passasse a comandar a FAB. Só que justamente este fato – estar há 12 anos fora da Aeronáutica – acabou afastando Joseli do cargo. Ele seguirá para o Superior Tribunal Militar.

Depois de o nome de Joseli despontar como o preferido, chegou a ser dito que o escolhido seria o brigadeiro Hélio Paes de Barros, Comandante Geral de Apoio (Congap). Mas essa opção acabou sendo descartada porque traria desconforto interno, já que haveria problemas para acomodar os outros dois. O brigadeiro entrou para a FAB em março de 1969.

Opções. Na Marinha, a primeira opção era a escolha do oficial-general mais antigo, que é o atual chefe da Armadas, almirante de esquadra Wilson Barbosa Guerra, como ocorria tradicionalmente. Mas a indicação do ex-ministro Celso Amorim, para que o almirante Júlio de Moura Neto fosse substituído pelo almirante Eduardo Leal Ferreira, acabou pesando pela proximidade que os dois passaram a ter após o embaixador despachar na ESG, quando estava no Rio de Janeiro.

No caso do Exército, a escolha do general Villas Bôas funcionará como um contraponto à forma como age o atual comandante, general Enzo Peri, muito reservado e que prefere tomar decisões mais solitárias. A busca, nesse caso, foi por um perfil semelhante ao do ministro da Defesa, Jaques Wagner. O general Villas Bôas foi assessor parlamentar no Congresso e comandante da Amazônia, onde se aproximou do então governador Eduardo Braga. Ele é o terceiro mais antigo no Exército, mas os dois anteriores a ele fugiam do perfil pretendido.

Reuniões. Dilma recebeu os três novos comandantes separadamente ontem em seu gabinete. A posse dos novos comandantes ainda será marcada e os nomes foram anunciados por nota oficial do Planalto, à noite, com agradecimento à ―competência e dedicação‖ de Dilma a Juniti Saito, Peri e Moura Neto.

A partir de hoje, o novo ministro da Defesa iniciará uma visita às três forças, começando pela Aeronáutica, quando ouvirá palestras dos antigo e novo comandantes.

ANÁLISE – Roberto Godoy

Comandantes terão dificuldade para manter programas

Os comandantes militares terão pouco tempo para comemorar a chegada ao topo da carreira: à espera dos generais há R$ 124 bilhões em expectativas, envolvendo os planos e os programas de reequipamento, modernização e qualificação das Forças Armadas. O problema está na dura batalha para obter do governo o provimento financeiro, superar contingenciamentos e fazer a gestão do caixa depois de sucessivos cortes – e vem mais um por aí. A maior parte do pacote é tópico da pauta de longo prazo, abrange datas projetadas além de 2030 – a renovação da frota de submarinos, seis deles movidos a energia nuclear, bate no remoto ano de 2047, segundo o plano da Marinha.

A primeira fase está em plena execução em Itaguaí, litoral sul do Rio – sai por €6,7bilhões (R$ 21 bilhões). As entregas começam em 2017. Entretanto, há outras demandas imediatas. Será necessário manter o fluxo de recursos nos próximos quatro anos para a compra dos novos caças Gripen; do cargueiro misto de avião tanque da Embraer, o KC- 390; dos blindados Guarani; do sistema Astros 2020, com seu míssil de alcance na faixa de 300 km; e da rede Sisfron, blindagem de 17 mil km de fronteira cujo primeiro módulo – 680km, de olho nos limites com o Paraguai e a Bolívia – já está em teste.

Há mais: o SisGAAZ, sistema de gerenciamento marítimo de 4,5 milhões de km2, deve ter as propostas das empresas entregues até o fim do mês.

Em ano de pouco dinheiro, a manutenção de todas as prioridades será difícil. Alguns programas não podem ser interrompidos, sob pena do custo crescente estourar o orçamento. Também precisam ser mantidas as operações de grande envergadura nos extremos do território nacional. A chefia das três Forças singulares dá brilho às quatro estrelas dos comandantes. O problema será arranjar tempo para dar polimento a elas.

FONTE: Estadão

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