Sociedade civil e militares se articulam para criar um museu de aeronáutica em SP
São mais de onze mil pousos e decolagens por mês. E após 95 anos de funcionamento, o Campo de Marte se prepara para adotar uma rota inédita: a preservação da sua história. Um grupo de civis e militares está atualmente engajado no projeto de criação do Museu de Aeronáutica de São Paulo, que será erguido na região central da capital paulista.
“Precisamos cuidar melhor da memória da aviação no Brasil. Nem parece o País de Santos Dumont!”. O desabafo é de quem desde 1966 trabalha no Campo de Marte e sente a necessidade de um espaço para preservar a história. Francisco Souto Emílio, presidente do Aeroclube de São Paulo, acompanhou aeronaves antigas darem lugar a modelos modernos sem que existisse uma preservação do patrimônio histórico do local.
A ideia é ambiciosa. Os primeiros esboços traçam uma área construída de 40 mil metros quadrados, mais 10 mil metros quadrados para um pátio de estacionamento de aeronaves e uma rota de acesso à pista de pouso do Campo de Marte. Os acervos serão provenientes da Fundação Santos Dumont, da Força Aérea Brasileira e do Museu TAM, localizado no município de São Carlos, a 250 quilômetros da capital.
A localização é uma das maiores apostas para o sucesso do novo museu. Vizinho ao parque Anhembi, local que recebe mais de 30% das principais feiras e eventos de negócios do Brasil, o novo equipamento cultural estará a dois quilômetros de uma estação de metrô e do terminal rodoviário do Tietê. Com estacionamento para 560 veículos, o Museu ficará próximo à Marginal Tietê e à Avenida Santos Dumont, vias que ligam as zonas Leste e Oeste, e Norte e Sul da capital paulista. São 24 quilômetros até o Aeroporto Internacional de Guarulhos e 16 até o de Congonhas.
De acordo com a Empresa de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, SPTuris, há “uma grande vontade em ter tal museu em São Paulo”, informou, via nota. Não por acaso: o museu tem potencial de se tornar uma atração turística da cidade.
Para se ter uma ideia, em Paris, o Museu de Le Bourget recebe mais de 260 mil visitantes por mês. Em Washington, o National Air and Space Museum superou a marca de 8,2 milhões em 2012. No Brasil, o Museu Aeroespacial (Musal), no Rio de Janeiro, tem uma média anual de 60 mil visitantes. Contudo, por estar localizado na Zona Norte da capital carioca, longe dos principais pontos turísticos, a própria diretoria do Musal pensa em descentralizar seu acervo. Já o Museu de Aeronáutica de São Paulo não terá esse problema.
De acordo com o Comandante do Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), Major-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, o museu irá ocupar uma área vizinha ao Hospital de Força Aérea de São Paulo. “Há que se ter uma melhor utilização dessa área e o negócio do Campo de Marte é a aviação”, afirma. Segundo o militar, o museu terá exposição de aeronaves e também de uma grande quantidade de itens ligados à história da aviação. “Nós temos um acervo fabuloso”, afirma.
O próximo passo é a Aeronáutica definir como seria a cessão da área. Há a possibilidade de ser transferida de forma não onerosa, desde que seja para uma Organização Social ou uma Fundação. Também há a ideia de venda para alguma empresa que tenha interesse em explorar economicamente o futuro museu. Por enquanto, as articulações acontecem em reuniões no IV COMAR, com a participação de profissionais da área de aviação e de instituições como Infraero, TAM, Aeroclube de São Paulo, Associação Brasileira de Aviação Geral e Helibras, dentre outras. “Nessa hora estamos todos juntos”, finaliza Francisco Souto Emílio, presidente do Aeroclube.
Campo de Marte tem presença militar desde os anos 20
A cidade de São Paulo não tem nenhuma Base Aérea nem esquadrões da Força Aérea, mas é estratégica para a defesa do País. A explicação está no lado norte da pista do Campo de Marte. Ali está localizado o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, unidade da FAB responsável pela manutenção avançada dos caças supersônicos F-5.
“A defesa aérea do Brasil depende do PAMA-SP”, afirma o Tenente-Coronel Fábio Leite, do efetivo da unidade. Segundo ele, a cada 1.200 horas, os jatos F-5 vão para lá, onde são completamente desmontados, revisados e remontados. “Sai semi-novo, pronto para mais 1.200 horas”, explica.
Nas oficinas do Campo de Marte são realizados testes como raio-x nas fuselagens dos caças e utilização de líquido penetrante para descobrir qualquer falha estrutural. Após mais de 40 anos de operação na FAB, a manutenção da frota de 57 aeronaves de origem norte-americana é totalmente dominada pelos militares brasileiros, que também realizam testes dos motores.
O PAMA-SP recebe ainda os helicópteros H-50 Esquilo e os motores dos H-60 Black Hawk e H-36 Caracal. A unidade é responsável também pela condução dos projetos de manutenção dos Veículos Aéreos Não Tripulados utilizados pela FAB, os Hermes 450 e Hermes 900.
O futuro caça da FAB, o Gripen NG, também deve contar com o trabalho realizado no Campo de Marte pelo PAMA-SP. O Parque terá capacidade de fazer revisões das 36 aeronaves e de alguns itens, em parcerias com empresas envolvidas no projeto.
E, para o Tenente-Coronel Fábio Leite, essa é exatamente uma das principais vantagens da localização do PAMA-SP no Campo de Marte. Estar na capital paulista significa fácil acesso ao parque industrial da região. No caso do Gripen NG, por exemplo, haverá participação de empresas brasileiras localizadas na sua maioria no Estado de São Paulo.
Logística
O mesmo discurso é adotado pelo Coronel Marco Antônio Monteiro. “Se você olhar nossos fornecedores, 80% estão na região”, afirma o militar do Centro Logístico da Aeronáutica (CELOG), unidade responsável pelo suprimento para toda a Força Aérea Brasileira.
Também localizado na área do Campo de Marte, só que na parte do Sul, mais próximo do futuro museu de aeronáutica, o CELOG adquire itens como combustível de aviação, além de trabalhar com projetos de nacionalização de itens. Ao seu lado funciona ainda a Subdiretoria de Abastecimento, que cuida de suprimentos das áreas de saúde, fardamento e alimentação.
A presença da Força Aérea no Campo de Marte é completada ainda pelo Quarto Serviço Regional de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), com atuação nos estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, além de unidades de apoio do Comando da Aeronáutica.
FONTE: FAB