Provar o que aconteceu com certeza absoluta pode ser impossível, já que moradores e combatentes rebeldes passaram as últimas 24 horas remexendo e retirando destroços e corpos, enquanto Ucrânia e Rússia fazem alegações detalhadas uma contra a outra e discutem a respeito da caixas-pretas.
A princípio, todos os lados apoiam o pedido de uma investigação internacional imparcial, que teve apoio da Rússia e de outras potências no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas existem dificuldades, mesmo com o consenso de que o governo de Kiev tem jurisdição na região, onde separatistas declararam sua própria república.
“É uma competência nacional, e isso é parte do problema neste caso”, disse Roland Bless, porta-voz suíço na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), referindo-se ao clamor dos rebeldes pela soberania da região de Donetsk, no leste ucraniano.
A OSCE declarou que parte de sua equipe visitou o local do impacto nesta sexta-feira, um dia depois do acidente que vitimou as 298 pessoas a bordo.
Os separatistas afirmaram ter recuperado as duas caixas-pretas do Boeing 777 e que estão dispostos a cooperar, inclusive estabelecendo um cessar-fogo. Mas autoridades de Kiev os acusaram de sumir por meio da fronteira russa com os gravadores e com o lançador de foguetes que teriam usado para abater o avião.
Em um inquérito típico do gênero, cabe à Ucrânia, em cujo território a aeronave caiu, isolar a área, recuperar as caixas-pretas e fazer contato com o fabricante para baixar os dados corretamente.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, já conversou com outros líderes mundiais sobre a condução de uma investigação internacional, que pode apaziguar parte das rivalidades.
“A questão é: quem irá abrir as caixas? Gostaríamos de obter informações verdadeiras, não falsas”, disse o embaixador ucraniano em Genebra, Yurii Klymenko.
Se outra parte obtiver os gravadores deve entregá-los, senão corre o risco de corromper os dados ou de se tornar suspeito de tentar destrui-los, opinou o advogado londrino Jim Morris, da firma Irwin Mitchell, ex-piloto militar britânico.
Brian Alexander, um advogado especializado em aviação da firma nova-iorquina Kreindler and Kreindler, disse que, apesar da situação “delicada” na área, “com a pressão internacional, a comunidade deve conseguir levar uma equipe ao local e permitir que uma investigação proceda normalmente”.
Mas os dados de voo podem oferecer pouca informação sobre o que abateu a aeronave.
A fuselagem pode indicar vestígios de explosivo que indicariam a detonação de uma ogiva, mas uma explosão causada por um míssil poderia aparecer somente como um colapso repentino nos sistemas de bordo, e encontrar e determinar a proveniência dos restos de um míssil será difícil.
FONTE: Reuters