Por Virgínia Silveira
“A nova metodologia, que delega parte das atividades de engenharia de certificação para a Embraer, já é uma tendência mundial, mas no Brasil representa uma mudança de paradigma nos processos de certificação que eram seguidos até então para aeronaves militares”, disse o diretor do Instituto de Fomento à Indústria (IFI), órgão responsável pela certificação do KC-390, coronel Marcelo Franchitto.
O diretor ressalta que a transferência de atividades tipicamente realizadas pelas autoridades de certificação só pode ser feita para empresas com alto nível de maturidade tecnológica e gerencial, como é o caso da Embraer. “Dessa forma conseguimos manter a qualidade e a confiabilidade do processo elevadas”, afirmou.
Segundo o diretor, a nova estratégia de certificação foi adotada para evitar que qualquer tipo de gargalo no desenvolvimento do KC-390 acarretasse atraso no projeto e prejudicasse a janela de oportunidade comercial do novo avião no mercado mundial. A aeronave vai disputar um mercado de 728 unidades para 77 países, nos próximos 20 anos. A empresa espera abocanhar entre 15% e 20% desse mercado.
O avião já recebeu uma encomenda de 28 unidades da Força Aérea Brasileira (FAB) e ainda conta com um total de 32 cartas de intenção de compra feitas pela Argentina, Portugal, República Tcheca, Chile e Colômbia. Equador, Peru e Emirados Árabes também estão discutindo a possibilidade de compra do avião com a Embraer.
O K-390, que tem seu primeiro voo previsto para o próximo mês, só tem autorização para operar após a emissão do certificado de tipo (do projeto), feita pelo IFI. O certificado é uma garantia da segurança de operação da aeronave e do cumprimento dos requisitos de projeto.
Para garantir o cumprimento dos prazos previstos no cronograma de trabalho da certificação do KC-390, o IFI está pedindo autorização para a contratação de 34 servidores temporários. A Divisão de Certificação de Produtos Aeroespaciais do IFI, de acordo com Franchitto, conta hoje com 90 engenheiros civis e militares. O pedido de contratação está sendo analisado pelo Ministério do Planejamento, que já enviou uma comitiva ao IFI para conhecer de perto o trabalho de certificação e as necessidades do Instituto.
“A nossa expectativa é que até janeiro já tenhamos a aprovação dessas contratações, que serão feitas com base na Lei 8745/03”, disse o coronel. O diretor explica que o KC-390 tem dois processos de certificação em andamento, sendo um no IFI, que cuida da versão militar do avião e outro na Anac, responsável pela certificação civil da aeronave.
O plano de certificação do KC-390 (com 600 páginas), apresentado pela Embraer em maio, encontra-se em fase de avaliação no IFI. Para assumir algumas atividades do processo de certificação, como a confecção de relatórios, pareceres técnicos, simulações e ensaios, a Embraer submeteu à aprovação do IFI um manual de credenciamento. O documento habilitou a empresa como Organização de Projeto Credenciado (OPC).
Segundo o assessor técnico do IFI, tenente coronel José Renato de Araújo Costa, 624 requisitos do KC-390 deverão ser certificados pelo Instituto. A previsão é que num período de dois anos o processo de certificação da aeronave utilize um total de 47.202 homem/hora.
O projeto do KC-390 envolve hoje a participação de 1500 funcionários, sendo mil engenheiros. A Embraer informou que as atividades da produção seriada da aeronave já foram iniciadas. A primeira entrega está prevista para o fim de 2016 e a FAB deverá receber um avião por trimestre.
O diretor do IFI estima que o desenvolvimento do KC-390 tenha um consumo da ordem de 16 milhões de homem/hora num prazo de oito anos. O certificado de tipo para a plataforma básica do KC-390, também conhecida como Green, e que será emitido pela Anac, está previsto para sair no primeiro semestre de 2016.
FONTE: Valor Ecônomico