Futuro caça da FAB terá capacidade única no Hemisfério Sul
Quando o primeiro Gripen NG for entregue ao Brasil, em 2019, será o único modelo em todo o Hemisfério Sul a ter a capacidade de realizar o chamado “voo supercruzeiro” (supercruise). Isso significa poder manter a velocidade supersônica não apenas durante curtos combates aéreos, mas durante voos de longa duração.
Na prática, aviões de caça só voam acima da velocidade do som quando estão em combate. Com o Gripen NG será diferente. A partir da Base Aérea de Anápolis (BAAN), no interior de Goiás, as aeronaves poderão viajar para qualquer região do País a velocidades supersônicas. O alcance será de quatro mil quilômetros, podendo ainda ser reabastecido em voo (REVO).
A fuselagem é semelhante, mas nem ela é igual: o Gripen NG é maior, tem uma asa aprimorada, e possui um novo design de trem de pouso para suportar duas toneladas a mais de peso máximo de decolagem e ter mais dois cabides para armamentos. O motor também é novo. O F414G é mais potente, com potência de até 22 mil libras.
Para o Capitão Gustavo, o Gripen NG representa um salto em relação as aeronaves atualmente usadas na defesa aérea. “É a conjugação de uma performance elevada, de uma característica de aceleração de capacidade de voo supersônico, de voo em altas altitudes”, afirma.
Considerado leve se comparado a outras aeronaves, o Gripen foi criado também para operar a partir de estradas ou pistas de pouso pequenas: bastam 500 metros para o pouso. Com a proposta de conseguir levar seus caças para longe das suas bases, algo que o Brasil também faz na região amazônica, o projeto sueco tentou facilitar ao máximo o trabalho de manutenção. A ideia foi reduzir o chamado turnaround, que é o tempo necessário para a aeronave ser rearmada e reabastecida para voltar ao combate.
De acordo com a Saab, é possível que em menos de 10 minutos um Gripen NG pouse, faça seu turnaround, e decole para outra missão. Uma das soluções de engenharia adotadas, por exemplo, foi bastante simples: para preparar o caça para o voo não é necessária sequer uma escada. Todos os painéis de acesso aos componentes ficam em uma altura adequada para o trabalho de uma pessoa em pé. Mesmo procedimentos mais complexos, como a troca da turbina, podem acontecer em menos de 60 minutos.
Com a dispersão das aeronaves, um esquadrão pode pousar em vários locais diferentes, mas, no céu, os pilotos estarão totalmente integrados. Desde a sua concepção inicial, o Gripen foi pensado para atuar na chamada Guerra Centrada em Redes, quando esquadrilhas inteiras voam conectadas digitalmente por datalink. Um Gripen que voa em uma posição estratégia, por exemplo, pode compartilhar os dados dos seus sensores com todas as demais aeronaves. É possível até um avião lançar um míssil com base nas informações repassadas por outro. Não foram divulgados até agora quais armamentos devem integrar o pacote de aquisição, mas é certa a operação dos mísseis ar-ar A-Darter e antirradiação MAR-1, ambos de desenvolvimento nacional. Estão acertadas as compras de radares AESA, capazes de monitorar alvos no ar, no solo e no mar ao mesmo tempo, e do IRST, um sistema de busca de alvos pelo espectro infravermelho. Parte dessas tecnologias, como o radar, ainda estão em desenvolvimento.
A Saab planeja para 2016 a apresentação do protótipo, enquanto uma aeronave de ensaio realizou até agora mais de 300 voos, inclusive para confirmar a capacidade de supercruzeiro. De acordo com o cronograma, engenheiros brasileiros já participam do desenvolvimento e vão integrar as equipes de avaliação e certificação. Em 2018 e 2019, respectivamente, a Suécia e o Brasil poderão receber seus caças.
Essa será a primeira vez em que a FAB receberá uma aeronave de defesa aérea que também será novidade em seu país de origem. Por exemplo, quando os Mirage foram recebidos, em 1973, a França já operava o modelo havia nove anos. Dessa vez, nem a Suécia tem ainda algo semelhante ao que o Brasil terá.