Falha dos pilotos derrubou avião de Campos

Eduardo Campos
Eduardo Campos

Por Eduardo Bresciani

Relatório da FAB aponta desorientação como uma das causas do acidente em 2014; família contesta apuração.

Uma sucessão de erros que incluíram a tentativa de buscar um “atalho” para abreviar a aterrissagem levou ao acidente com o avião Cessna C560 XLS+ que matou o ex-governador Eduardo Campos e mais seis pessoas em 13 de agosto de 2014, em Santos (SP).

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou ontem seu relatório final apontando diversos fatores humanos que levaram à tragédia, com destaque para a indisciplina de voo, desorientação espacial e falta de treinamento adequado para o tipo de aeronave. Os investigadores ressaltaram que o objetivo não é buscar culpados, mas garantir a segurança de voos futuros. A investigação descartou falhas técnicas na aeronave, mas apontou problemas operacionais que podem ter contribuído.

Foto Reuters

O irmão de Campos e o advogado das famílias do piloto e do copiloto contestaram o relatório. Ambos apostam em falha na aeronave; O advogado pretende apresentar nos próximos meses um relatório sobre o acidente feito nos Estados Unidos.

De acordo com a investigação, a trajetória de aproximação da pista de Santos, feita pelo comandante Marcos Martins e o copiloto Geraldo Magela, não foi a indicada na carta de procedimentos, mesmo com o aviso de que o aeródromo operava por instrumentos. A orientação era para que passassem duas vezes sobre a pista antes de fazer a curva para o pouso, mas eles fizeram um caminho mais curto, dando inclusive informações falsas sobre os pontos em que estavam.

O perfil do voo reduziria o tempo em até cinco minutos e não era aprovado nas regras para operar com instrumentos — afirmou o tenente-coronel aviador Raul de Souza, que coordenou as investigações.

Imagem mostra o trajeto feito pelo piloto antes da queda (linha vermelha) e a trajetória recomendada (linha preta) (Foto: Reprodução/Cenipa)

FALTA DE TREINAMENTO

Após tentarem chegar diretamente à pista os pilotos não conseguiram pousar e decidiram arremeter. Este movimento também foi feito em desacordo com os procedimentos previstos. Eles deveriam arremeter antes de chegar à pista, mas há relato, tido como confiável, de que sobrevoaram o local em baixa altitude antes de desistir do pouso.

Os investigadores apontaram que diversos fatores levaram a uma desorientação espacial da tripulação durante o procedimento de arremetida. Eles observaram que as condições meteorológicas estavam degradadas para o tipo de trajetória feita pelos pilotos. Citaram ainda como condições que podem ter levado à desorientação as variações de velocidade, alternância entre voo visual e por instrumentos e até o fato de um candidato à presidente da República ser um dos passageiros.

A investigação mostrou que o piloto deveria ter feito um “treinamento de diferença” para operar a aeronave, enquanto o copiloto precisava de um “curso completo”. Essa necessidade estava prevista em instrução normativa da Anac, de julho de 2014, mas o sistema da agência que permite a realização dos voos não estava atualizado para essa exigência.

Foi analisado ainda que de 1º a 5 de agosto de 2014 os pilotos extrapolaram a carga horária prevista nas leis de aviação. A análise dos parâmetros de voz identificou sinais de “fadiga e sonolência” do copiloto. Registrou-se ainda que o copiloto teve desempenho “abaixo do esperado” ao longo da carreira em alguns dos treinamentos, em itens como “atenção”.

Cessna 560 PR-AFA FOTO: Flickr do Balduino

FAMÍLIAS ESTÃO TRISTES

O irmão de Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos, ressaltou em nota que os inquéritos civil e policial não foram concluídos, e levantou suspeitas sobre falhas no avião: “O parecer técnico mais plausível, pelo que acompanho do caso, é no sentido de explicitar erro de projeto do estabilizador horizontal do avião sinistrado e de precedentes de problemas idênticos com outras aeronaves semelhantes”.

O advogado Josmeyr Oliveira, que representa as famílias do piloto e do copiloto, contestou a investigação.(O Cenipa) não considerou a hipótese de a aeronave ter se derrubado. Havíamos passado a eles vários elementos nesse sentido, disse o advogado.

Oliveira destacou o fato de a investigação não ter usado um simulador para refazer o voo. A simulação que nós fizemos nos Estados Unidos é muito mais esclarecedora. O defensor participou da apresentação do relatório que o Cenipa fez às famílias das vítimas antes da divulgação pública.

As famílias ficaram muito tristes, principalmente a mulher do Geraldo, o copiloto. Ela não esperava que o marido dela fosse classificado de uma maneira tão forte.

FONTE: O Globo (Colaborou Sérgio Roxo)

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