A compra de 36 caças para a Força Aérea brasileira (FAB), um negócio de 10 bilhões de reais, se arrasta desde 1998. Já estiveram na disputa o Gripen sueco, o Rafale francês, o F-18 americano e o Sukhoi russo. Esse último foi desclassificado da concorrência ainda em 2003, por questões técnicas. Atualmente, a escolha do F-18, fabricado pela Boeing, é dada como certa pelos oficiais da Aeronáutica.
O anúncio da compra, porém, foi adiado no mês passado em resposta à revelação de que os serviços de inteligência americanos andaram espionando as comunicações da presidente Dilma Rousseff.
Nada de especial contra ela. Na semana passada, descobriu-se que a primeira-ministra alemã Angela Merkel e outros 34 lideres mundiais foram granpeados, mas o ministro da Defesa, Celso Amorim, parece achar que atrasar um negócio que também interessa ao Brasil, não é o suficiente para espezinhar os americanos.
Há duas semanas, durante a assinatura de acordos de 2 bilhões de reais para a importação de baterias anti-aéreas, Amorim deu corda a uma proposta de Sergei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia, para reabilitar o Sukhoi na concorrência dos caças.
Shoigu sugeriu que o Brasil faça um Leasing de unidades do Sukhoi-35 a partir de janeiro de 2014, quando os 12 Mirage da FAB em operação, já terão sido enviados ao ferro-velho. Na Aeronáutica, reina um misto de descrença e pânico.
A preocupação dos brigadeiros tem como lastro a experiência da Venezuela, que comprou 24 aviões de combate Sukhoi e 30 helicópteros russos. O que deveria ter transformado o regime chavista em uma potência militar, revelou-se um mico. A péssima ou inexistente rede logística de pós-venda russa, condena a flotilha venezuelana ao sucateamento. Apenas 6 caças estão em condições de voo. Os demais não saem do chão, por falta de peças, que levam até 2 anos para ser entregues.
Quanto aos helicópteros, 6 de trinta já caíram, por falta de manutenção, matando 31 militares venezuelanos. O mais recente acidente aconteceu em maio do ano passado, com 4 mortes. Metade dos helicópteros restantes, está impedida de voar por problemas técnicos.
Os militares brasileiros também estão tendo problemas com os helicópteros russos Mi-35 comprados em 2008. Foram encomendadas 12 unidades para ser entregues em 2011, mas até agora só 9 pousaram em solo nacional. Um major-brigadeiro da FAB disse a Veja que a falta de peças já compromete a segurança de alguns equipamentos. Os russos tentaram convencer a Embraer a fazer a manutenção por eles, mas a empresa aeronáutica brasileira recusou, com medo de ver a sua reputação manchada por algum acidente.
” O Brasil vai repetir o erro do meu país e pôr a vida de seus militares em risco, se insistir em comprar aviões com base em critérios políticos e não técnicos”, diz Mario Iván Carratú Molina, ex-diretor do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional da Venezuela.
FONTE: Veja – Leonardo Coutinho
TRANSCRIÇÃO: Defesa Aérea & Naval