A presidente Dilma Rousseff chegará à Rússia no dia 14 de dezembro. Ela irá se encontrar com o presidente russo Vladímir Pútin e, segundo supõem alguns analistas brasileiros, além de questões de cooperação no âmbito dos Brics, os dois poderão tratar da compra de um lote de 36 caças multifuncionais Su-35, da russa Sukhoi, no valor de US$ 4 bilhões.
A licitação tinha em vista o fornecimento de 36 aviões até 2015, além da produção de mais 84 até 2024 pelos próprios brasileiros, com a concessão que seria fornecida juntamente com os caças. Os favoritos eram o Rafale e o Gripen, mais baratos e fáceis de usar. Mas a decisão final ainda não foi tomada.
A concorrência já foi adiada mais de uma vez. Na primavera de 2011, por exemplo, ela foi interrompida por falta de recursos. Hipóteses foram levantadas após uma visita de consulta do ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, à Índia, logo depois de o Rafale vencer uma licitação no país em fevereiro, para 126 caças multifuncionais de porte médio. Então, uma série de jornalistas anunciaram que o favorito seria o caça francês.
O avião russo SU-35, um caça da geração 4++ com a vantagem de ser pouco visível, corresponde totalmente às exigências da quinta geração. Ele é capaz de desenvolver uma velocidade de 2,5 mil quilômetros por hora, superando os 3,4 mil quilômetros. O raio de combate do caça alcança 1,6 mil quilômetros. O SU-35 está armado com peças de calibre de 30 milímetros. Além disso, o avião possui 12 pontos de fixação para foguetes e bombas de diferentes tipos.
Detecção de alvos
Uma característica muito importante da aeronave é que seu sistema de controle de armamento é a nova estação de radar de grade faseada “Irbis-E”, que possui características únicas no que diz respeito à capacidade de detecção de alvos. De acordo com especialistas russos, seu alcance de detecção de alvos em regime “ar-ar” ultrapassa 400km, sendo que esse índice é significativamente mais elevado que o de caças que estão no short list do F-X2.
O RLS instalado no avião, com radar de grade faseado, também tem maior alcance de detecção de alvos aéreos. Além disso, pode analisar simultaneamente o espaço em terra e aéreo e detectar, acompanhar e bombardear um maior número de alvos (aéreos: acompanhar 30 alvos e atacar 8; em terra: acompanhar 4 alvos e atacar 2).
Uma ampla gama de armas de longo, médio e curto alcance diferencia o Su-35 de outras aeronaves. Ele pode transportar 8 toneladas de carga de combate, incluindo armamentos de longo alcance para atacar alvos em terra e no ar, assim como de médio e curto alcance, antinavio, bombas guiadas entre outros. As características potenciais do avião permitem superar todos os caças táticos da geração 4 e 4+, do tipo “Rafale” e EF 2000, assim como caças modernizados dos tipos F-15,F-16, F-18, F-35 e equiparar-se ao F-22A.
Assim, a razão do insucesso da aeronave no edital brasileiro pode ser a pressão dos países interessados na vitória de suas empresas com o governo do Brasil, segundo especialistas. Quando o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy soube que Dilma viajaria a Moscou e poderia discutir com Pútin a compra do Su-35, voou com urgência a Brasília, diz-se, para defender os interesses da Dassault.
Seu esforço teria tido frutos quando o edital foi lançado e o Su-35 ainda não fazia parte das forças armadas russas. Então, o Brasil não iria querer comprar aviões russos que ainda não voavam nem na terra natal. Agora, porém, o Ministério da Defesa da Rússia assinou contrato com a Sukhoi para compra de 48 caças Su-35. A primeira esquadrilha já entrou para o sistema de combate das forças aéreas.
Ainda em março deste ano, o diretor do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar, Aleksandr Fomin, já havia comentado a renovação da participação do caça russo no edital brasileiro. “Se for aberta uma nova concorrência ou se a última for renovada, estaremos preparados para cooperar com nossos parceiros brasileiros”, disse Fomin.
A primeira chance de exportação do modelo também já foi divulgada: uma possível venda de 48 Su-35 para a China, por US$ 4 bilhões, mas, o Brasil ainda pode tomar a dianteira.
Vantagem à vista
Uma questão continua em aberto: o que o Brasil ganha com a compra dos caças multifuncionais russos? Diz-se que Moscou poderá comprar aviões de passageiros da brasileira Embraer em troca.
Principalmente porque o primeiro-ministro Dmítri Medvedev declarou, recentemente, que o mercado russo de transporte de passageiros necessita desse tipo de avião que o Brasil fabrica. O único problema seria o futuro do Sukhoi Superjet, para até 100 passageiros. Nesse segmento ainda existe o russo-ucraniano An-148.
Há também questões relacionadas às licenças para a produção do Su-35 em fábricas brasileiras. A capacidade local de construção de aeronaves, assim como a qualificação dos engenheiros e pessoal técnico são bastante elevadas para que, com a licença, a produção desse caça seja assimilada muito rapidamente.
Resumindo, ainda há muitas questões em aberto para além do desejo de fortalecer a cooperação técnico-militar com um dos líderes do Brics, que é o Brasil. Mas só teremos respostas após a aguardada visita da presidente Dilma Rousseff.
FONTE: Gazeta Russa
NOTA do EDITOR: Víktor Litóvkin é Editor-chefe da revista “Nezavissimoie Voiennoie Obozrénie” (do russo, “Observatórior Militar Independente”).