EUA reagem com veemência às ameaças de terrorismo em Sochi

Para os EUA, Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi são marcados por ameaças de atos terroristas. Isso levou o governo americano a tomar medidas drásticas de segurança, que podem prejudicar as relações com a Rússia.

O alerta de que tubos de pasta de dente poderiam ser utilizados em ataques terroristas em voos com destino à Rússia é apenas a mais recente de uma série de ameaças terroristas aos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, às quais os Estados Unidos reagiram por conta própria, e com veemência.

Gary LaFree, diretor do Consórcio Nacional para o Estudo do Terrorismo e da Reação ao Terrorismo (Start, na sigla em inglês) considera que as ameaças são bastante verossímeis e perigosas. Sua organização estudou recentemente padrões de atividades terroristas nos países-sede dos Jogos Olímpicos, desde 1972.

O caso de Sochi é considerado “forte”, afirma LaFree, já que nenhum outro evento teve tantas ameaças à segurança como os Jogos atuais.

“Há, provavelmente, mais intenções declaradas de realizar ataques do que em qualquer outro [evento olímpico] que eu possa pensar”, afirmou à DW o especialista. “Existem pessoas fazendo ameaças verdadeiramente plausíveis.”

As incidências de ataques terroristas na Rússia têm aumentando desde o colapso da União Soviética, afirma LaFree. Apesar dos ataques de dezembro de 2013 em Volgogrado, e das ameaças de mulheres-bomba chamadas de “viúvas-negras” terem ganhado destaque na imprensa, a preocupação do especialista está no potencial do mais violento grupo islamista separatista, o Emirado do Cáucaso, de realizar ataques em proporções aterrorizantes.

“Eles desejam fazer mil reféns, muitos destes, crianças”, afirmou LaFree, relembrando o ataque de 2004 a uma escola de Beslan, que deixou 380 mortos. “As situações com reféns têm batido recordes em termos do número de mortes.”

Reação “exagerada” dos EUA

Além dos controles de segurança nos aeroportos e dos alertas do Departamento de Estado aos viajantes, os Estados Unidos reagiram às ameaças em Sochi com mais uma demonstração incomum de força. Dois navios de guerra americanos, com 500 soldados, chegaram ao Mar Negro na última quarta-feira (05/02).

Ainda que essas embarcações não cruzem a fronteira marítima da Rússia, ou tampouco venham a aportar em Sochi – uma cidade portuária de 350 mil habitantes –, o Pentágono afirmou que os navios irão dar “total apoio ao governo russo” e evacuar americanos por meio de helicópteros na eventualidade de um ataque. As equipes de esqui e de snowboard dos EUA contrataram uma empresa particular de segurança, para garantir proteção adicional.

O especialista russo Pavel K. Baev, cuja carreira teve início no Ministério da Defesa da antiga União Soviética, considera o envio de navios de guerra, por parte dos EUA, como uma “reação exagerada”. Baev é hoje consultor sênior não residente do renomado think tank Instituto Brookings, em Washington.

“Acho que foram longe demais na avaliação de riscos”, afirmou à DW, acrescentando que mobilizar navios de guerra no Mar Negro é algo que não se enquadra dentro do espírito olímpico. “Mesmo se tudo correr bem em Sochi, isso deixará um gosto amargo.” Muitas das atitudes do governo americano, segundo Baev, já causaram alguns danos.

Jeff Mankoff, ex-consultor sobre as relações EUA-Rússia do Departamento de Estado americano e atual vice-diretor para Rússia e Eurásia do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, observa uma “abundância de precauções” no caso dos navios de guerra dos EUA. Ele analisa que se trata de uma estratégia política voltada para o Congresso americano.

Apesar de alguns grupos na Rússia se sentirem ofendidos, afirma Mankoff, o governo americano receia ter que lidar com as consequências políticas do fato de estar despreparado para um ataque, como ocorreu após o atentado ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia.

Lições de Boston

Ambos os especialistas concordam que grande parte da lógica das atividades antiterroristas em Sochi se baseia nas lições aprendidas com os atentados na maratona de Boston, em 2013.

Na ocasião, os americanos descobriram que eventos na distante Chechênia podem também se tornar um problema dos EUA. Os acontecimentos de Boston levaram a uma campanha antiterrorista conjunta entre os EUA e a Rússia para subjugar a violência islamista na região do norte do Cáucaso, que abriga um grupo misto e desorganizado de militantes.

Mas, enquanto os americanos enxergam uma extensão natural desses acontecimentos no caso de Sochi, a Rússia vê Boston como uma exceção. “Assim como tudo mais, os obstáculos são estruturais”, analisa Mankoff.

Baev observa o comportamento da Rússia de modo mais crítico. Em Sochi, Moscou não estaria cooperando por completo no compartilhamento de inteligência, o que leva a um rompimento gradual na colaboração entre os dois países.

“Não mandaria meus filhos a Sochi”

Se a Rússia não revela seus segredos, Baev também vê outra reação típica dos EUA, no que diz respeito a Sochi. Os americanos sentem que são eles próprios o alvo do terrorismo, fato que explica as reações de Washington às ameaças terroristas e que pode levar ao atropelo da diplomacia e a provocações.

Tal sentimento não existe na Alemanha. O governo alemão declarou publicamente que não possui qualquer indicação de que os Jogos de Sochi sejam diferentes das Olimpíadas de Londres em 2012 ou dos Jogos de Inverno de Vancouver, em 2010.

O website do Ministério alemão do Exterior não menciona “ameaças concretas” e sequer sugere que se devam evitar lugares públicos. No entanto, o site alerta os viajantes que irão a Sochi para que “sigam cuidadosamente as instruções das autoridades de segurança russas”. Um porta-voz do ministério contatado pela DW recusou-se a comentar se o país estaria ou não tomando medidas excepcionais de segurança em Sochi.

Já o especialista Gary LaFree não recomenda a ida aos Jogos Olímpicos de Inverno. “Eu não mandaria meus filhos a Sochi”, afirmou.

FONTE: DW

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