Entrevista com o comandante da Força Aérea Argentina

Poucos dias antes da celebração de um novo aniversário da Força Aérea Argentina, sua mais alta autoridade refletiu sobre os desafios e objetivos mais importantes em um ano atravessado pela Guerra das Malvinas.

Por Patricia Fernández Mainardi

“Estou na Força Aérea Argentina (FAA) há 42 anos e tenho orgulho de poder dirigir os destinos da instituição”, diz o Brigadier General Xavier Isaac, comandante desta força armada, de seu escritório no edifício Cóndor , que, no dia 10 de agosto, comemora um novo aniversário de sua criação. Durante o encontro com a DEF, o oficial analisou os desafios e avanços da aeronáutica militar.

-Há dois anos o entrevistamos, em plena pandemia, por ocasião do apoio prestado pelo pessoal da Força. Naquela época, a lei que criava o Fundo de Defesa Nacional ainda não havia sido sancionada. Desde então, qual é o saldo?

General de brigada Xavier Isaac – Naquela época, a Força tinha uma visibilidade muito importante. Pudemos mostrar o que fazemos e o FONDEF veio para consolidar muitos projetos. Isso nos empoderou.

Focámo-nos em três eixos: bem-estar, formação e desenvolvimento de pessoal; a manutenção do material que temos; e readequação. Também recuperamos os Saabs, que voam para a LADE (Líneas Aéreas del Estado) e, de fato, com esta ação construímos uma ponte aérea ligando Río Gallegos (Santa Cruz) à Terra do Fogo. Antes, a única opção de ir para a ilha a partir da capital de Santa Cruz era por via terrestre, passando por outro país. Hoje, paradoxalmente, esta é a rota do LADE com maior demanda.

-Em julho o Boeing 737, adquirido em 2021, partiu novamente para Chipre para transferir os capacetes azuis argentinos…

General de brigada Xavier Isaac – Aquele Boeing foi nosso primeiro alvo. Agora, vamos para um cargueiro da Boeing, já que se tornou uma necessidade. Essa aeronave vai nos permitir, como instrumento militar, movimentar cargas sem a necessidade do uso do Hércules.

Boeing 737-700

-Quais são as outras ações em termos de retrofit que estão sendo realizadas?

General de brigada Xavier Isaac – Aumentamos a frota de Saab 340, Twin Otter e, além disso, os Beechcraft B-200 continuam chegando ao país. Da mesma forma, em um futuro próximo, apresentaremos o Tucano, nossa aeronave de treinamento, modernizada com uma empresa nacional. A Argentina é o terceiro país a iniciar a modernização desta última aeronave. E, tirando o Mi-171, posso garantir que estamos perto de ter 100% da frota de helicópteros voando.

“A CONDUÇÃO DEVE MOSTRAR AO PESSOAL QUE TEM UM OBJETIVO”

-Em relação aos programas de recuperação, a equipe acompanhou esse processo?

General de brigada Xavier Isaac – Somos uma força aérea poderosa em capacidade e história, e tomamos algumas decisões de pessoal muito importantes. Por exemplo, agora na Escola de Suboficiais o grau técnico é obtido após dois anos de estudo. Hoje, os alunos se formam como cabos técnicos e já estão em condições de participar desse processo de recuperação de recursos e capacidades.

-Qual foi a conquista mais desafiadora em todo esse período?

General de brigada Xavier Isaac – Acho que foi para atingir a motivação das pessoas. Estávamos passando por um momento de inquietação, mas, em situações como essa, é a liderança que tem que mostrar aos funcionários que eles têm um objetivo. Então, quando me perguntam se vamos comprar um avião de combate, fico ofendido. É uma falta de respeito com as tropas que procuram formar o pelotão de caça. Acho que o mais importante foi conseguir uma mudança de mentalidade para que todos começassem a ver que isso está progredindo e que todos fazem parte desse avanço.

-No futuro, que outras iniciativas se destacam?

General de brigada Xavier Isaac – Temos vários, alguns de natureza central, como terminar o reforço da capacidade estratégica de transporte através da incorporação de mais um Boeing e consolidar a modernização da frota Hercules, incluindo o L100. Este último é um produto puro do FONDEF. Acredito que, no que diz respeito à aviação de transporte, vamos ver a cadeia recomposta, abrangendo todos os segmentos. Além disso, temos que conseguir consolidar o A4 e recuperar o Pucará, que está prestes a voar.

-Isso em termos de aviões, mas há algum plano para helicópteros?

General de brigada Xavier Isaac – Em relação à aviação de asa rotativa, estamos recuperando material que estava desprogramado. Outra questão muito importante é a infraestrutura da força, que é uma questão que sempre me preocupou. Mas, em termos gerais, foi alcançado um plano de recuperação e todos os anos avançamos.

Mi-171

CAPACIDADES ESTRATÉGICAS

-A Força vai ter um avião supersônico?

General de brigada Xavier Isaac – Hoje estou muito otimista, mas não direi mais nada.

-Como você define o processo de aquisição para este tipo de aeronave?

General de brigada Xavier Isaac – O processo de incorporação de uma aeronave com essas características é complexo, algo que leva tempo.Pensamos que, de acordo com o modelo de aeronave selecionado, poderia ser um de origem chinesa, ou um F-16, ou alguma outra alternativa, no contrato deve haver uma opção vinculada à recuperação da infraestrutura aeronáutica. Para isso, devemos fixar a pista da base para onde a aeronave está indo, pois as pistas atuais, para uma aeronave dessas características, não resistem.

Este ano, vamos fazer um investimento significativo nas pistas. São despesas que temos que enfrentar. A incorporação de uma aeronave com essas características significa que você deve pensar em coisas no futuro, como requisitos de ferramentas, localizações físicas, logística ou peças de reposição e sua catalogação correspondente. É um processo que começa com a assinatura do contrato.

Caça JF-17 um candidato?

-Além disso, há o fato de que essa nova tecnologia também pode ser transferida…

General de brigada Xavier Isaac – O país que nos vende uma aeronave dessas características tem que se comprometer com muitas coisas que estão sendo feitas aqui e continuam sendo transferidas por vários anos. Entendemos que a dependência logística é inicialmente do fornecedor, mas também queremos que a capacidade de mantê-lo, voar e operá-lo seja nossa. Além disso, se conseguirmos algum tipo de co-produção para uma eventual venda a terceiros no futuro, isso é bem-vindo. Queremos que a FADEA exporte e, como principal cliente, vamos fazer o que for necessário.

Caça FA-50 um candidato?

-Algo parecido com o que eles conseguiram com os radares INVAP?

General de brigada Xavier Isaac – Isso é um mérito do INVAP, mas achamos muito bom que nosso principal operador trabalhe conosco. Em relação a FADEA, sabemos que fabrica ótimos produtos e temos muita fé no IA 100, que é uma aeronave projetada a pedido da Força Aérea Argentina. Acreditamos que esta é uma aeronave exportável.

– Existem iniciativas na área de defesa espacial e cibernética?

General de brigada Xavier Isaac – A defesa cibernética é uma questão que nos preocupa. Por esse motivo, estamos alinhados com o Comando Conjunto de Defesa Cibernética e já estamos criando um teleporto para ter redundância nas comunicações via satélite do instrumento militar. Por outro lado, reiniciamos com ênfase a recuperação da capacidade de foguetes para atingir o objetivo de lançar um vetor da base de Chamical, em La Rioja.

-Lá, em Chamical, também operam drones…

General de brigada Xavier Isaac – Aquele lugar, originalmente, era focado em foguetes, mas, quando foi desativado, a base desmoronou. Quando assumi, partimos para reflutuá-lo e dar-lhe uma base para a especialidade UAV. Claro, agora que retomamos o projeto de foguetes com o Ministério da Defesa, que foi ativado para duas áreas-chave, como UAVs e espaço, vamos usar as mesmas instalações.

-Recentemente, também inauguraram um radar que operará a partir da Terra do Fogo.

General de brigada Xavier Isaac – Era um radar móvel que a Força já tinha e, após uma avaliação, determinamos que era importante tê-lo em Río Grande. Fizemos o esforço, mudamos e inauguramos em 30 de maio, data que coincidiu com o ataque ao “Invencível”.

Da segunda série de radares INVAP, planejamos inaugurar um deles em Tostado, província de Santa Fe, e outro em Mercedes, província de Corrientes. Esta segunda série incluiria outro radar que estamos avaliando enviando para Río Grande como fixo e retraindo o móvel que está lá atualmente.

-Durante essa posse, o senhor anunciou que a intenção é fazer exercícios, com mais regularidade, com os aviões de caça na Terra do Fogo, por quê?

General de brigada Xavier Isaac – Determinamos, junto com o Ministério da Defesa, com o Estado-Maior Conjunto e com as demais Forças, a necessidade de uma maior presença na Terra do Fogo.

– Isso tem a ver com o que a atual política de defesa nacional manifesta?

General de brigada Xavier Isaac – Sim, temos que estar alinhados, claro, e a melhor maneira de a Força Aérea Argentina fazer isso é desdobrando-se.

“NÃO PODEMOS SUBMETER O NOSSO DESTINO A UM ORÇAMENTO MAIOR OU MENOR”

-O pessoal da Força continua a migrar para o setor privado?

General de brigada Xavier Isaac – Esse é um problema que sempre existiu. O paradoxo é que o movimento principal sempre veio do lado dos pilotos, mas, ultimamente, é o setor do qual menos pessoas estão saindo. Basicamente, porque todos os nossos pilotos, em idade operacional, voam e operam. De fato, na Escola de Aviação, pela primeira vez depois de quase 20 anos, voltamos a fazer o curso de aviador em doze meses. E não só isso, mas também, depois de 37 anos, os cadetes da escola voltarão a voar.

-Como você vive esse aniversário da guerra das Malvinas?

General de brigada Xavier Isaac – Este é um ano importante para nós. Fizemos muitas atividades com nossos veteranos. Estabelecemos o objetivo de acompanhá-los institucionalmente. Além disso, apresentaremos a história da Força Aérea nas Malvinas em três volumes, nos quais são abordados todos os detalhes da batalha aérea pelas ilhas. É o 40º aniversário do nosso batismo de fogo e orgulhamo-nos do nosso lema: “Uma força testada em combate”.

-Nos próximos dias também se comemora o Dia da Força Aérea Argentina. Quais serão as principais atividades?

General de brigada Xavier Isaac – No dia 10 de agosto, realizaremos uma importante e emocionante cerimônia, com a presença de nossos veteranos de guerra das Malvinas e um desfile aéreo. Em seguida, no sábado, 13 de agosto e domingo, 14 de agosto, serão realizados os dias abertos “Argentina voa 2022″ na base aérea de Morón.

-Dois anos após o início de sua gestão, qual você diria que é a premissa que define esse período?

General de brigada Xavier Isaac – Minha premissa fundamental é lutar todos os dias para colocar a Força Aérea de volta onde sempre deveria ter estado. Não podemos sujeitar nosso destino a um orçamento maior ou menor; a grandeza da Força Aérea está muito além. Obviamente, o meio, o recurso, é parte fundamental, mas não pode ser tudo. Há um espírito que devemos manter firme, incorruptível, e que não pode ser atrelado a uma situação temporária do país: o orgulho de pertencer. Para mim, pessoalmente, isso é o que mais me revela.

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN

FONTE: Infobae

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