Kaspersky Lab será responsável por instalar e prestar manutenção do software em 120 mil computadores. Companhia é acusada pelo governo dos EUA de atuar como espiã para a inteligência da Rússia. CEO nega.
Por Raphael Hernandes
O software da Kaspersky será parte da defesa cibernética desses órgãos, que inclui outros serviços ligados à segurança digital, como setores especializados na detecção de intrusos e de atividade maliciosa.
Por meio da distribuidora brasileira EsyWorld, com sede em São Paulo, os russos venceram pregão eletrônico realizado em 2015. Os contratos firmados têm duração de três anos e somam R$ 8,4 milhões. A maior parte, R$ 4,5 milhões, é referente ao serviço prestado ao Exército. O contrato com a Força Aérea tem valor de R$ 2,3 milhões e da Marinha R$ 1,6 milhão.
De acordo com a Kaspersky, a instalação dos sistemas já vem desde dezembro de 2016, mas, por questões de segurança, o anúncio oficial deve ser feito nesta semana. A informação, no entanto, já constava em Diário Oficial.
Segundo a empresa, o antivírus será instalado aproximadamente em 120 mil máquinas. O contrato de manutenção oferece relatórios de ameaças e serviços de monitoramento e resposta a incidentes. Serão também oferecidos treinamentos.
Em nota, o Exército afirma que anteriormente não havia uma solução que atendesse a todas as suas unidades militares. Os estudos para implantar essa infraestrutura começaram em 2014. “Dessa maneira, o Exército pode realizar o monitoramento em tempo real de incidentes de segurança decorrentes de arquivos e processos maliciosos, proporcionando maiores níveis de segurança da informação”.
A Força Aérea diz que serviço semelhante já foi prestado pelas empresas Trend Micro e McAfee. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Marinha apenas confirmou que contratou a solução. Sistemas antivírus oferecem segurança a usuários finais, considerados um ponto crítico por especialistas por serem a porta de entrada para ataques mais sofisticados.
ESPIÕES RUSSOS
Na última semana, a administração Trump emitiu uma nota oficial em que se dizia “preocupada” com possíveis ligações da Kaspersky à inteligência russa e baniu os softwares da empresa dos computadores do governo dos EUA.
À Folha, Eugene Kaspersky, fundador e CEO da companhia russa, atribui a decisão a motivações políticas. “Nossa cooperação com a Rússia é a mesma que temos com vários outros países”, diz. A Kaspersky presta serviço a governos de diferentes países e tem, entre seus clientes, entidades como a Interpol (Polícia Internacional). “Nós não trabalhamos com a parte de ataques. Nosso serviço é todo ligado à proteção”, afirma Eugene.
Em julho deste ano uma equipe de militares brasileiros foi à sede da Kaspersky, em Moscou para inspecionar os códigos dos produtos que serão usados.
O Exército afirmou que, por ter uma rede de computadores complexa, apenas empresas “líderes mundiais no mercado” estariam aptas a fornecer a solução e diz que todas elas são estrangeiras.
FONTE: Folha de São Paulo