A conversa entre piloto e copiloto mostra que essa é uma hora difícil.
Piloto: Agora são 6h01 da manhã. Já estamos acordados aí há mais de 5 horas. O dia amanhecendo fica cada vez mais difícil se manter acordado.
Para mostrar uma rotina que classificam como cada fez mais cansativa piloto e copiloto registraram alguns de seus piores momentos.
Piloto: 1h10 da manhã agora. Segunda noite sem um sono decente.
A sequência de dias voando de madrugada é a principal queixa. “2h55 da manhã. Após menos de duas horas de sono, estou esperando o ônibus para prosseguir para Guarulhos”, informa um piloto.
Sono, fadiga e a imensa responsabilidade de transportar dezenas, centenas de vidas.
Piloto: Nesse momento estamos em descida e aproximação pro nosso destino. Bate um certo desespero porque o sono está incontrolável.
Esse perigo escondido nas cabines é considerado fator de risco para acidentes. Desde 2011 os órgãos máximos da aviação mundial recomendam que as empresas aéreas façam o chamado gerenciamento de risco e fadiga, mas no Brasil ainda não há norma, nem lei para isso.
A lei aqui é de 1984, época em que quase não se voava de madrugada. Mas só nos últimos 12 anos o número de passageiros saltou de 36 milhões para 105 milhões. Pousos e decolagens acontecem nas 24 horas do dia. Enquanto grandes empresas do mundo respeitam a limitação de duas madrugadas de voo para uma de sono, aqui tivemos acesso a escalas de três, quatro, até cinco noites sem dormir.
“Quanto maior o número de noites trabalhadas, principalmente de noites consecutivas trabalhadas, maior o risco de a pessoa adormecer durante o trabalho”, aponta Frida Marina Fischer, prof. Fac. Saúde Pública – USP.
Por isso o Sindicato dos Aeronautas reivindica mudanças. Quer a aprovação de lei que está no Congresso pedindo limitação de duas madrugadas seguidas e um número maior de folgas.
“Eu diria que hoje o risco é controlado, mas de curto a médio espaço de tempo, se nada for feito, em relação as nossas escalas, a aviação pode estar em risco, a segurança pode ser afetada e os passageiros também”, avalia Adriano Castanho, pres. Sind. dos Aeronautas.
O representante das empresas diz que um acordo sobre a jornada de trabalho deve ser firmado no Tribunal Superior do Trabalho até meados do ano, mas nega que a aviação brasileira esteja em risco.
“Esse debate, que está aberto agora, está muito mais vinculado à qualidade de vida da nossa tripulação, que é uma demanda correta. A aviação brasileira é segura. Extremamente segura”, garante Eduardo Sanovicz, pres. Ass. Bras. Empresas Aéreas.
Assista o vídeo em: http://glo.bo/1MLsfYG