Por Luis Kawaguti
Quase 20 dias após a passagem do furacão Matthew, as comunidades do sudoeste do Haiti – uma das regiões mais afetadas – começam a dar os primeiros sinais de recuperação.
Mas a situação ainda é tensa e os comboios de mantimentos precisam de escolta armada em todo o sul do país, segundo afirmou à BBC Brasil o coronel Sebastião Roberto de Oliveira, comandante do batalhão brasileiro da ONU no Haiti.
O furacão Matthew matou cerca de mil pessoas e afetou 1,4 milhão. Centenas de milhares de haitianos perderam suas casas e suas plantações. Agora, as autoridades trabalham para tentar evitar uma epidemia de cólera. Após o terremoto de 2010, a doença trazida supostamente por militares da ONU originários da Ásia deixou mais de 9 mil mortos.
“Nos últimos dias, voltou a fazer sol e com isso já é possível ver as pessoas começando a plantar de novo, consertando os telhados e lavando as roupas”, disse Oliveira, após retornar dos vilarejos mais afetados da costa sudoeste do pais para a capital.
Essa região havia sido descrita como “cenário de bombardeio” logo após a passagem do furacão pelo comandante militar das tropas da ONU, Ajax Porto Pinheiro, em entrevista à BBC Brasil.
Muitas vilas ficaram isoladas por dias devido à interdição de estradas por quedas de pontes, barreiras e árvores.
Segundo Oliveira, forças da ONU compostas por militares do Brasil e do Chile conseguiram reabrir todas as vias danificadas pelo furacão e a ajuda humanitária estaria chegando de forma constante para todas as regiões afetadas.
Porém, os caminhões do Programa Mundial de Alimentos e de diversas organizações não governamentais ainda precisam de proteção armada para não sofrer saques. Comboios que partem sem escolta tem sido saqueados.
Segundo o coronel, apenas em uma ocasião um comboio brasileiro armado teve que usar munição não letal para afastar saqueadores.
“No começo as pessoas estavam muito exaltadas, quase agressivas, mas quando a ajuda humanitária começou a chegar, melhorou a receptividade”, disse.
Segundo ele, moradores de comunidades mais afastadas estão montando barricadas nas estradas para se proteger de saqueadores, mas a passagem dos veículos da ONU por esses pontos não é ameaçada.
Ajuda humanitária
Jude Brice, um dos prefeitos do vilarejo de Paillant, de 30 mil habitantes (no Haiti, muitos municípios têm três prefeitos), disse à BBC Brasil que embora haja comida, muitos moradores tiveram as casas destruídas e padeceram muito nos últimos dias devido às constantes chuvas.
“Os tetos da maioria das casas são feitos de chapas finas de metal. Elas foram arrancadas pelos ventos e agora temos ao menos 2.000 desabrigados só nesta vila”, disse ele.
Segundo Oliveira, a maioria dos desabrigados em quase todas as localidades estão alojados em escolas – que são construções mais resistentes.
A ONU espera operar mais uma semana em caráter emergencial e a partir de então começar a promover o retorno gradual das famílias abrigadas em escolas para suas regiões de origem.
Uma das estratégias será retomar as aulas nas escolas o mais rápido possível para que professores ajudem na campanha de conscientização sobre higiene pessoal e consumo de água tratada – para evitar casos de cólera.
Fatalidade
Um sargento brasileiro morreu durante a operação de socorro às regiões mais afetadas no sul do Haiti. Vicente Medeiros teve uma parada cardíaca sem motivo aparente enquanto fazia manutenção em um equipamento.
Ele recebeu os primeiros socorros de três médicos militares e foi removido de helicóptero para um hospital – mas morreu logo após dar entrada. “Ele morreu em uma missão nobre: participando de um esforço de ajuda humanitária”, disse o comandante do Batalhão Brasileiro.
Fuga de prisão
Cerca de 150 fugitivos de uma prisão haitiana ainda estão à solta após uma fuga em massa no sábado. O incidente ocorreu na cidade de Arcahaie, na região central do Haiti, longe das áreas afetadas pelo furacão.
Dois guardas e três detentos morreram em uma troca de tiros.
A tarefa de perseguir os fugitivos é da polícia local, mas forças da ONU podem ser acionadas a pedido de autoridades locais.
FONTE: BBC Brasil