“Mesmo com algum defeito grave, normalmente o piloto tem tempo para agir”, observa o especialista em segurança aérea Steve Landells, da Associação Britânica de Pilotos Aéreos. “A primeira coisa que você faz é se concentrar em pilotar a aeronave e assegurar que a rota é segura. Em seguida, rapidamente, você procura se comunicar, para pedir ajuda do controle em Terra ou de outras aeronaves”, disse Landells à BBC.
Sem chamada de emergência
Ainda que a aeronave tivesse enfrentado problemas graves, isso deveria deixar pistas. Se todos os motores falham ao mesmo tempo, o piloto ainda deveria ser capaz de planar por mais de cem quilômetros, com tempo suficiente para enviar um pedido de ajuda pelo rádio. E seria possível ver a descida do avião pelo radar. A ausência de uma chamada de emergência também sugere que não deve ter sido um sequestro. Os pilotos podem enviar códigos emergenciais especiais se alguém tenta invadir a cabine de controle.
“Há um sistema chamado transponder na aeronave, que permite que quando algo falha, o piloto tenha a capacidade de enviar séries de quatro números que indicam que você tem uma emergência. Com isso a torre de controle deveria saber imediatamente que há um problema, mas isso parece não ter acontecido no caso do voo MH370”, explica Landells, que tem vasta experiência de pilotar Boeings 777. Se tivesse havido uma súbita despressurização na cabine, por conta de uma janela quebrada, por exemplo, a tripulação poderia mergulhar o avião para reduzir a altitude, mas o avião não deveria se desintegrar.
O fato de ele ter sumido repentinamente do radar sugere uma súbita falha catastrófica em pleno ar. Mas será difícil saber o que houve até que encontrem a aeronave ou seus destroços. O problema é que a passagem do tempo dificulta isso cada vez mais. “Junto com a caixa-preta do avião (que registra informações e a comunicação do voo) há um dispositivo que emite um sinal de rádio que pode ser detectado debaixo d’água por 30 dias ou, no caso de águas mais quentes, por até 40 dias”, afirma David Gleave, investigador-chefe da empresa Aviation Safety Investigations.
Comparações com o voo AF447
A situação inicialmente gerou comparações com outro incidente, a queda do voo 447 da Air France, que fazia a rota entre o Rio de Janeiro e Paris, em junho de 2009. O Airbus A330 desapareceu quando sobrevoava o Oceano Atlântico e levou anos para que os investigadores encontrassem todas as peças e descobrissem exatamente o que aconteceu.
Agora pode levar também meses ou anos para solucionar o mistério do voo 370 da Malaysia Airlines. Se o avião realmente caiu no mar, a maior parte da fuselagem deve ter afundado, mas ainda assim ao menos algumas partes deveriam flutuar. Mas conforme o tempo passa, os ventos e as marés podem espalhar esses destroços por uma vasta área, dificultando ainda mais a localização da aeronave.
Equipamentos confiáveis
O Boeing 777 da Malaysia Airlines não é o primeiro avião a desaparecer sem deixar nenhum rastro evidente, mas essa é uma situação extremamente rara. “Hoje os aviões são equipamentos incrivelmente confiáveis. Não ocorrem falhas estruturais repentinas. Isso simplesmente não acontece”, disse à BBC David Learmount, especialista em segurança da Flightglobal, organização especializada na análise de informações e de dados relacionados ao setor de aviação.
A Boeing descreve o modelo 777-200 como “uma superestrela”. Mais de mil unidades do modelo já saíram de sua linha de produção desde o primeiro voo, em 1995, com apenas um registro de incidente fatal após mais de 5 milhões de voos. Esse acidente havia ocorrido em julho de 2013 em San Francisco, nos Estados Unidos, após um voo da Asiana Airlines proveniente de Seul, na Coreia do Sul, se chocar com a pista na aterrissagem. Três pessoas morreram, uma delas atropelada por um veículo de resgate.
Duas teorias
Para o especialista em aviação britânico Chris Yates, com base nas informações conhecidas é possível reduzir as teorias sobre o que ocorreu com o avião da Malaysia Airlines a apenas duas. “Problemas relacionados a condições atmosféricas podem ser descartados quase com segurança como causa”, afirmou Yates em um artigo para a BBC. “Há diferentes descrições das condições do momento, mas há um consenso de que o avião voava em condições quase perfeitas”, disse.
“Isso deixa apenas duas possibilidades principais: falha mecânica catastrófica ou um ato de terrorismo”, observou. Ele comenta, porém, que a última possibilidade também é duvidosa, já que até agora ninguém reivindicou um possível ataque.
FONTE : BBCBrasil