Comandante do 1º GAvCa completa 1.000 horas de voo no F-5

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Por Marco Ferreira

Ser piloto de caça

O sonho de muitos meninos e mais recentemente de meninas também. A caminhada do piloto no Brasil pode começar de duas formas, a primeira é prestando o concurso para a Escola preparatória de cadetes do ar, EPCAR e a segunda é direto pela Academia da Força Aérea, AFA; independente da escolha o menino que desejar seguir essa carreira deve se apresentar munido de um conhecimento teórico muito grande, uma capacidade de resistir e ultrapassar dificuldades ainda maior, tendo uma boa dose de sonho e conhecer um pouco das tradições ligadas a Aviação, especificamente a militar.

Me passou pela cabeça tentar imaginar o que passa na cabeça daqueles que escolhem a primeira opção e ingressam na EPCAR. Sem ter noção talvez da altura que podem chegar, talvez o aluno não pense em nada diferente do que pilotar o avião e viver entre as nuvens; mas no trajeto de sua formação até concluir o Curso de formação de oficiais aviadores os alunos que se tornam cadetes são forjados para serem mais do que pilotos militares, são forjados para liderar.

Fiquei pensando se o aluno Rubens Gonçalves, lá da turma de 89 pensava em um dia em sua carreira se tornar o 1.183º Caçador da FAB, voar no grupo de caça e ainda assentar-se na cadeira que pertenceu ao grande ás da aviação, Nero Moura e nela completar 1000 horas no F-5, aeronave que compõe a primeira linha da Aviação de caça Brasileira.

E daí? eu respondi. Para ser piloto do grupo de caça certamente ele tinha forte ligação com as tradições dos velhos Jambocks e seus feitos de destaque na Itália. Não imagino que alguém que se torne piloto de caça sonhe menos do que isso, estar na ponta da lança e não somente isso, mas liderar homens com a capacidade intelectual e operacional tão extensa quando a que ele desejara ter. Sim, é possível que ele tenha sonhado.

Agora ele já trocou de lado, deixou de ser aluno para ser Tenente Coronel, e quis o destino que no meio do mês de abril deste ano, a turma do terceiro ano da EPCAR esteve na BASC e ele “falou sobre a Unidade. Ele explicou a missão no emprego da aeronave F-5, sua aplicabilidade e as ações de ataque e supressão de defesa aérea inimiga” Será que algum aluno depois dessa aula não desejou estar no lugar do professor “Groo”(apelido para os mais chegados)?

Ter a oportunidade de voar no Grupo de Caça é algo que exige extrema dedicação e superação, mais que isso é preciso muita força mental pois as diversas FIs(Flight Instructions) que os pilotos enfrentam em sua jornada de PFO(piloto em formação operacional) pode levar qualquer um com cabeça fraca a loucura e fracasso. Milhares de horas debruçadas sobre os mais diversos documentos operacionais, a rotina praticamente longe da família com muitos dias fora, a falta de tempo até para exercícios, podem fazer o piloto perder o foco do seu objetivo e desistir da primeira linha. Somente os melhores concluem com sucesso esta jornada e se tornam pilotos do F-5 Mike. Quem quer voar no grupo de caça tem que ter noção que não estamos falando de um esquadrão comum, estamos falando do Esquadrão referência no emprego, na operacionalidade e nas tradições, e apesar de todas as dificuldades para manter as “garças” voando, este esquadrão se não é o que mais voa na Caça(me faltam dados para confirmar) é um dos que mais voam, tendo chegado a mais de 2.500 horas de voo por ano, missões infinitas fora de Santa Cruz e até fora do Brasil, como foi a SALITRE.

Bem, feito esta “introdução”, o que me leva a escrever este texto é minha profunda admiração pelo atual comandante do Grupo de Caça e Piloto de F-5 Rubens Gonçalves, que agora já não é o aluno da EPCAR, mas como eu costumo chamar(longe dele claro) o “Coronel Groo”.

Não, ele não é um piloto qualquer, estamos falando de um dos poucos pilotos no mundo a completar 1.000 horas de voo no F-5, número pequeno no mundo, na América latina diminui ainda mais a quantidade e, no Brasil este numero de 1.649 pilotos de caça formados até hoje pela FAB, está entre os menos de 50 pilotos que completaram essa façanha.

Me pergunto novamente – “será que ele pensou nisso na EPCAR?”. Talvez não, pois o cenário da distribuição histórica dos recursos para a Força Aérea não era e tampouco é animador a este ponto e geralmente o piloto deixa de voar a primeira linha na transição entre as patentes de capitão e major. Lembro-me do saudoso Coronel Eduardo ALMEIDA, que passou o Bastão para o TC Gonçalves me dizer que ele teve a sorte de voltar ao grupo de caça para ser comandante. Assim como ele, o TC Gonçalves também fora piloto do 2°/1° Gavca quando mais jovem e hoje, após passar pela Sorbonne da Caça, retorna ao berço da aviação de caça. Que sorte ele teve certo? Talvez sim. Dizem as más línguas que os melhores pilotos são do “Segundão”, fato este que eu discordo veementemente, porém nos últimos anos tenho ficado sem argumento contra isto. Fato é, que poucos pilotos conseguem as 1.000 horas no F-5, menos ainda chegam ao comando do esquadrão com mais de 500 horas, quando chegam a comanda-lo.

Quem vê este homem sem sua farda e longe da sua “garça” nunca imagina a bagagem operacional que ele carrega. De longe, é um sujeito normal, simples, não esbanja, não fala muito, pelo contrário, suas passadas curtas e seu olhar no horizonte, sempre focado e concentrado não demonstram o feito que foi capaz de fazer nem da importância que seu nome tem para a FAB e para os pilotos de caça, nome este que será cravado na história da instituição de sangue azul junto com outros grandes nomes e agora GONÇALVES.

Este ser humano gentil e cheio de cordialidade, sempre aberto a opiniões, novos desafios é o homem que se torna hoje, dia 28/09 um dos poucos homens a ter voado o F-5 Mike por mais de 1.000 horas, e escreve seu nome na galeria dos grandes pilotos de F-5 do Brasil e do mundo! Apesar da rotina exigente entre os voos e as tarefas administrativas, o TC Gonçalves será lembrado por sua força, sua capacidade de superação desde a Epcar até seu solo no F-5. Cada canção histórica entoada sem dúvida alimentava a vibração e a motivação de conduzir o grande 1º GAvCA e seus homens e mulheres sem esmorecer diante das dificuldades que encontrava e encontra, não aceitando menos do que o Excelente em cada missão executada.

Sentar-se na cadeira que pertenceu a Nero Moura e conduzir com mão forte o 1º GAvCa talvez não tenha sido o que ele sonhou logo de início, menos ainda completar esta marca de 1.000 horas, mas quis o destino (seja lá qual você acredite), que é no grande Grupo de Caça que ele completa este feito e, além de tornar-se membro da seleta galeria das 1.000 horas, torna-se mais um membro do seleto grupo de homens que destacam-se dos demais e não aceitam ser menos do que os melhores pilotos da História da Força Aérea Brasileira.

Parabéns Tenente Coronel Rubens Gonçalves, nosso Admirado “coronel Groo”.

Colaborou: Alexandre Alves

 

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