Brasil auxilia Argentina na elaboração de novos procedimentos de navegação aérea

O projeto argentino de implementação da navegação aérea baseada em performance (PBN) resultou na confecção de 64 cartas aeronáuticas que facilitarão o fluxo e aumentarão a segurança e a acessibilidade no espaço aéreo da América do Sul.

O Brigadeiro Luiz Ricardo de Souza Nascimento, chefe do Subdepartamento de Operação do DECEA- Foto Nelza Oliveira

 

Por Nelza Oliveira

Cerca de 20 militares da Força Aérea Brasileira (FAB) se revezaram de 20 de março a 10 de junho para auxiliar a Argentina na atualização de procedimentos de navegação aérea e reestruturação do espaço aéreo. O “Projeto PBN Argentina” resultou na elaboração de 64 cartas aeronáuticas de procedimentos de voo por instrumentos (IFP, por sua sigla em inglês) para diversos aeródromos da Argentina, incluindo os aeroportos mais movimentados, como o Aeroporto Internacional de Ezeiza e o Aeroparque Regional Jorge Newbery, ambos em Buenos Aires. As cartas seguem o conceito de navegação aérea baseada em performance (PBN, por sua sigla em inglês), com procedimentos que redesenham as trajetórias de voo para que sejam mais curtas e diretas, orientadas por meio de satélites e comunicação digital.

O Brigadeiro Luiz Ricardo de Souza Nascimento, chefe do Subdepartamento de Operação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) do Brasil, contou que tudo começou durante a última assembleia geral da Organização da Aviação Civil Internacional, agência especializada das Nações Unidas responsável pela promoção do desenvolvimento seguro e ordenado da aviação civil mundial, no final de setembro de 2016, em Montreal, Canadá, quando a Empresa Argentina de Navegação Aérea (EANA) procurou os representantes do DECEA para sondar a possibilidade do projeto.

“A partir daí foi tudo muito rápido. Eles [representantes da EANA] estiveram aqui [no Rio de Janeiro] em dezembro [de 2016] e rapidamente começamos a operar. E já entregamos tudo que combinamos. São 64 procedimentos de navegação aérea com as técnicas mais avançadas no mundo à disposição da sociedade e do povo argentino”, disse o Brig Luiz Ricardo. “Nós temos vários acordos bilaterais com outros países do ponto de vista técnico, de formação. É muito comum nosso Instituto de Controle do Espaço Aéreo, em São José dos Campos, São Paulo, receber pessoas de outros países para capacitação em vários cursos. Mas é a primeira vez que o Brasil faz uma parceria na área de navegação aérea nesse volume e envolvendo deslocamento de equipe para outro país”, acrescentou o Brig Luiz Ricardo.

Expertise brasileira

Com rotas mais precisas e distâncias encurtadas, a utilização de navegação PBN em várias partes do mundo mostrou-se mais vantajosa e eficaz do que as formas convencionais de navegação, além de fornecer uma série de benefícios, como redução de gastos com combustíveis e emissão de gases poluentes. No Brasil, a elaboração de cartas PBN começou em 2009. A FAB afirmou que o país integra o grupo que está mais avançado na implantação do sistema, ao lado dos Estados Unidos, de países da Europa e do Japão.

Este tipo de navegação já funciona no espaço aéreo de Brasília, Recife, Belo Horizonte e do eixo Rio-São Paulo. Atualmente, o Instituto de Cartografia Aeronáutica (ICA) do Brasil, órgão do DECEA, trabalha em sua implementação na região sul do país. O cronograma prevê ainda a implantação nas regiões norte e nordeste, com maior dimensão territorial e menor fluxo de voo. O Projeto PBN Argentina utiliza ferramentas computacionais, como os softwaresFlight Procedure Design and Airspace Management e o Global Mapper, os mesmos utilizados pelo Brasil.

Durante o período do Projeto PBN Argentina, uma equipe composta por dois elaboradores de procedimentos e um cartógrafo do ICA era enviada quinzenalmente para Buenos Aires. O acordo entre os dois países não envolveu recursos financeiros, apenas as despesas da equipe brasileira com passagens, hospedagem e a diária, normalmente paga aos militares quando nesse tipo de missão, foram custeadas pela EANA.

“A parceria é de Estado. Podemos dizer que foi um projeto custo zero para eles porque as propostas que receberam de empresas de fora eram bastante vultosas. Mas é um aprendizado para nós, uma oportunidade boa de enriquecimento profissional para o meu pessoal”, ressaltou o Brig Luiz Ricardo. Além da produção de cartas aeronáuticas, os profissionais brasileiros realizaram o treinamento prático final dos técnicos argentinos.

Durante o período do Projeto PBN Argentina, uma equipe, composta por dois elaboradores de procedimentos e um cartógrafo, do Instituto de Cartografia Aeronáutica do Brasil. Foto DECEA

“O trabalho conjunto entre as instituições brasileira e argentina é de grande importância e traça um excelente exemplo de benefício para toda a região sul-americana. O ICA oferece um forte apoio à EANA na elaboração de novos IFPs em vários aeródromos da Argentina”, atestou Rodrigo Devesa, chefe do Departamento de Desenho do Espaço Aéreo da EANA, em um comunicado distribuído pela FAB no início do projeto. “O pessoal do ICA está trabalhando com grande compromisso e vocação, gerando um ambiente laboral muito bom e não apenas realizando tarefas específicas de desenho e cartografia, mas também trazendo experiências, opiniões, políticas de trabalho e apoiando o departamento de desenho da EANA a decidir em certas questões técnicas”, completou Devesa.

Fluidez no espaço aéreo da América do Sul

O Brig Luiz Ricardo explicou que o Projeto PBN vai impactar positivamente na otimização da navegação aérea na América do Sul. “O nosso grande objetivo estratégico final é esse: Melhorar as condições de navegação para toda a região, com uma tecnologia bastante moderna, com procedimentos adequados do ponto de vista técnico, de segurança, de acessibilidade”, disse o Brig Luiz Ricardo. “Um avião em órbita, que não consegue pousar, seja por conta da meteorologia ou capacidade do aeroporto, custa para todos em perda de tempo, reflete no preço da passagem, gasto com combustível, mais emissão de CO2 no meio ambiente; um mundo de fatores negativos que a gente pode diminuir”, enumerou.

Para exemplificar os ganhos operacionais, o Brig Luiz Ricardo contou o caso de um aeroporto no interior da Argentina que tinha uma média anual de não pouso, principalmente por causa de condições meteorológicas, de mais de 60 por cento. Segundo ele, após começar a operar com o PBN, a média caiu para cinco por cento.

A avaliação do trabalho foi tão positiva que logo depois do PBN Argentina um novo projeto na área de navegação aérea foi iniciado com o país vizinho, dessa vez para auxiliar a Argentina com o Gerenciamento de Fluxo de Tráfego Aéreo, envolvendo 16 profissionais brasileiros. A primeira equipe de militares foi enviada para Buenos Aires no dia 12 de junho.

“Nós temos há dez anos o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea e a Argentina quer adotar essa expertise lá. Ou seja, já é um outro projeto baseado na mesma relação, no mesmo acordo, que tivemos com o Projeto PBN Argentina”, contou o Brig Luiz Ricardo. “Nós vamos ajudá-los a escrever as normas de fluxo de tráfego aéreo. Vamos fazer toda a fundamentação teórica necessária para aplicar aos serviços relacionados, principalmente identificar os gargalos da navegação aérea nos grandes aeroportos da Argentina e no espaço aéreo daquele país”, finalizou.

FONTE: Diálogo Américas

Sair da versão mobile