Por Taciana Moury
A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), comandada pelo Brasil, foi uma das mais duradouras do mundo. Está no país desde 2004, quando surgiu uma situação de instabilidade e insegurança, e compõe a única missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) nas Américas.
No Haiti, a desmobilização já começou. Desde o início de maio, o Batalhão de Infantaria da Força de Paz do 25º Contingente Brasileiro (BRABAT 25) passou a ser responsável pelas áreas do Chile, do Uruguai e do Peru. Segundo o Coronel Roberth Alexandre Eickhoff, comandante do BRABAT 25, os militares brasileiros garantirão a segurança das instalações das bases até a desmontagem dos equipamentos para o envio aos seus respectivos países.
O Almirante Rogério Ramos Lage, subchefe de Operações de Paz do Ministério da Defesa do Brasil, disse que o emprego na área das bases antes ocupadas pelo Chile, Uruguai e Peru irá exigir o desdobramento de até duas subunidades fora de Porto Príncipe. “O batalhão tem capacidade operacional para atuar também nessas áreas, não implicando um aumento de responsabilidades fora do que já está previsto para o emprego operacional do BRABAT”, explicou.
Parte do efetivo brasileiro encontra-se na comuna de Cap-Haitien, recebendo os encargos de segurança das instalações. Mesmo com a ampliação da área de atuação, o efetivo vai permanecer o mesmo. De acordo com o Cel Eickhoff, o maior desafio é o de operar a grandes distâncias, garantindo o apoio logístico e a manutenção das comunicações. “Vai ser necessário estabelecer uma base na região para dar suporte à tropa”, declarou.
O Cel Eickhoff explicou ainda que a tropa vem executando o planejamento de desmobilização e preparando a área para o próximo efetivo que vai encerrar a missão de paz naquele país. Ele avalia os 13 anos da participação do Brasil no Haiti como fundamental para estreitar as relações internacionais e prestar um importante serviço. “O sentimento por aqui é de dever cumprido. Além disso, a MINUSTAH proporcionou ao efetivo brasileiro uma expertise em missões de paz, que vai contribuir em futuras missões de paz pelo mundo”, disse.
Desmobilização da tropa brasileira
As atividades operacionais do batalhão brasileiro no Haiti permanecem normais, mesmo depois do anúncio do término da MINUSTAH, marcado para 15 de outubro. Segundo o Alte Lage, o objetivo é o da manutenção de um ambiente seguro e estável até a saída definitiva. “A chefia de operações conjuntas, por intermédio da subchefia de operações de paz, está executando o Plano de Desmobilização do Contingente e vem realizando reuniões de coordenações com os envolvidos para os acertos finais”, explicou.
“Hoje se trabalha com a data de 1º de setembro para o término das operações e saída de 90 por cento do efetivo até 15 de setembro”, disse o Alte Lage e acrescentou que, a partir dessa data, o efetivo brasileiro se voltará para medidas administrativas necessárias à preparação da repatriação de pessoal e material do contingente. “Até 15 de outubro todos deverão sair do país”, confirmou.
Participação brasileira no Haiti
Durante os 13 anos de operação na MINUSTAH o Brasil enviou para o Haiti 37 mil militares, já considerando os 950 do 26º e último contingente brasileiro que viaja em maio. O Alte Lage avaliou como excelente o trabalho desenvolvido pelas Forças Armadas brasileiras no Haiti. “O povo haitiano e as autoridades internacionais também reconhecem essa participação brasileira, pela desenvoltura com que combinam funções militares, como o patrulhamento, com atividades sociais e de cunho humanitário”, reforçou. Segundo ele, muitos desafios tiveram que ser superados desde o primeiro contingente, em 2004. “Atuar na pacificação de Cité Soleil, logo no início da missão, foi bem complicado. O terremoto em 2010 e o Furacão Matthew em 2016 também foram momentos considerados mais difíceis”, lembrou.
O Brasil investiu na MINUSTAH entre 2004 e dezembro de 2016 aproximadamente R$ 2,550 bilhões, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal. A ONU reembolsou o Brasil pouco mais de R$ 930 milhões, de acordo com o Ministério da Defesa. O Alte Lage explicou que o investimento variava a cada ano, dependendo da complexidade da operação. “Em 2010, por exemplo, ano em que ocorreu o terremoto no Haiti, houve um aumento significativo do desembolso em razão da abertura de créditos adicionais para ajuda humanitária e instalação do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT-2)”, afirmou.
Ele lembrou ainda que os valores reembolsados pela ONU são referentes aos gastos com o emprego da tropa na missão de paz e não cobrem os gastos relativos ao preparo da tropa no Brasil. Porém, o Alte Lage afirmou que é relevante para o Brasil participar de operações de paz. “É importante para a projeção do Brasil no exterior, para o adestramento da tropa e, também, para a divulgação no exterior de produtos de defesa nacionais utilizados pela tropa brasileira durante as operações”, disse.
Próximas missões
Com o fim da MINUSTAH, o Brasil segue no comando da missão de paz da Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), além de ter integrantes nas missões de paz do Chipre, Costa do Marfim, Libéria, República Centro-Africana, Saara Ocidental, Sudão e Sudão do Sul. O governo brasileiro se colocou à disposição da ONU para integrar outra missão de paz. Segundo o Alte Lage, a chefia de operações conjuntas realizou um estudo, denominado Projeto Seta, para avaliar onde seria possível a participação brasileira. “Identificamos diversos cenários, hoje existentes, de missões de paz em que poderíamos atuar”, disse.
O ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungmann, declarou que seria interessante para o Brasil atuar na missão de paz no Líbano, além da UNIFIL. Ele também considerou como possibilidade a participação brasileira na MONUSCO, Operação das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo. Mas, de acordo com o Alte Lage, o governo brasileiro espera um convite da ONU para que se inicie o processo de desdobramento de tropas em uma nova missão, mediante autorização do Congresso Nacional brasileiro.
FONTE: Diálogo Américas