Por Roberto Godoy
Luis Edgard Devia Silva, o comandante Raúl Reyes, um nome de guerra, fora às compras. Das bancas da feira de Santa Rosa de Sucumbíos, no Equador, levar ao estoque das ervas medicinais de seu uso, milho graúdo e fitas de cabelo, prováveis presentes. Com novas baterias no computador, trabalhou até bem tarde na barraca preta, coberta por uma rede de camuflagem, a apenas 1,8 quilômetros da fronteira com a Colômbia.
Na madrugada do dia seguinte, 1.º de março, Reyes foi morto durante um ataque do esquadrão Grifo, da Força Aérea e dos times especiais do Exército colombianos. Ele dormia de pijama quando as bombas caíram sobre a área de 5mil m² Outros 23 guerrilheiros – homens e mulheres, também morreram.
A Operação Fênix, envolvendo informações de inteligência coletadas por serviços dos EUA, jatos leves Cessna, do tipo A-37 Dragonfly, com cerca de 40 anos, e turboélices Super Tucanos, brasileiros, fornecidos pela Embraer, é considerada o ponto de mudança na guerra civil que já duram 50 anos.
O presidente Juan Manuel Santos discute hoje com o Comando Central das Farc, um modelo de cessar-fogo – na prática, a redução gradual da intensidade do confronto, e um armistício que pode chegar a 40 dias, preparando o pacto final de paz. As possibilidades são consideradas promissoras. O contingente rebelde está reduzido a 7,5 mil militantes e não menos de 7 de seus principais chefes foram eliminados em ações militares.
O dinheiro anda curto. Os líderes dos cartéis de drogas, que por muito tempo pagaram caro para ter grupos guerrilheiros como escudo protetor das plantações de coca, das usinas de refino,e das rotas de escoamento,agora temem a reação do governo.“ Entendem que é mais fácil lidar comum processo por tráfico que encarar a Justiça por terrorismo”,declarou um diplomata colombiano ao Estado. Outras fontes de recursos– seqüestros de empresários ou executivos e a chantagem milionária diminuíram.
Tucano. As tropas regulares nacionais, bem preparadas se equipadas, acumulam sucessos. Todavia, o marco inicial do processo está diretamente vinculado a um equipamento produzido no Brasil, o A-29 Super Tucano, de ataque leve e apoio à tropa. Em 2005 a aviação de Bogotá comprou 25 unidades por aproximadamente US$ 235 milhões. A frota foi entregue entre 2006 e 2008. Um exemplar foi perdido – provavelmente derrubado pelas Farc.
No mesmo ano, 2006, do recebimento das três aeronaves iniciais, o governo americano decidiu elevar o nível tecnológico da ajuda militar ao esforço colombiano. “Além de fornecer acesso em tempo real aos meios de inteligência – informações de satélite, por exemplo – a Defesa local passou a dispor de sistemas para guiar bombas até os alvos”, relatou um ex-assessor militar americano com longa passagem pelo país.
Os códigos de programação, entretanto, ficavam nos EUA: o Departamento de Estado temia que as armas viessem a ser mal empregadas. O embargo foi suspenso apenas em 2010. Cada conjunto, pronto para a montagem nas bombas “burras” de 227 quilos, e sem capacidade de navegação, custa US$ 23 mil, baixo custo, para os padrões do mercado de equipamentos militares. Foram testados os dois tipos de aviões disponíveis: o velho Dragonfly e os novos Super Tucano – com eletrônica embarcada recente. Nos lançamentos de ensaio as bombas chegaram aos alvos com apenas um metro de erro. As primeiras, das séries Paveway, acabaram montadas a bordo dos Dragonfly americanos.
Nos bombardeios, os Cessna, dois ou três jatos, despejavam sua carga de precisão depois da passagem de cinco, até oito. Super Tucanos dotados de armas sem o sistema. Tinham sido 27 bombardeios de 2008 a 2014. Gradativamente a configuração foi sendo alterada e, de acordo com o especialista, as bombas guiadas por feixe de luz laser passaram a ser disparadas preferencialmente do avião brasileiro, “decisivo no enfrentamento”. Na destruição do acampamento de Reyes os A-29 da Embraer teriam empregado aversão Griffin, israelense.
FONTE: Estado de São Paulo