Aviação de Caça é a primeira linha de defesa no ar, afirma comandante da 3ª FAE

Desde a década de 90, a Aviação de Caça passa por modernizações de sua frota. Em entrevista à Agência Força Aérea, o Comandante da Terceira Força Aérea (III FAE), Brigadeiro do Ar Paulo Érico Santos de Oliveira, avalia o atual momento desta aviação. No próximo domingo (22/04), a Força Aérea comemora o Dia da Aviação de Caça – há 67 anos, pilotos brasileiros realizaram um número recorde de missões num único dia na campanha contra o nazismo. Leia a entrevista

Agência Força Aérea – Como o Sr. define a importância da Aviação de Caça para a FAB e para o país?

Brigadeiro Paulo Érico Santos de Oliveira – Pode-se dizer que, após a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, a Aviação de Caça praticamente nasceu com a Força Aérea Brasileira. Isso aconteceu para fazer frente à ameaça nazista que, àquela época, impunha ao mundo uma perspectiva sombria para a preservação dos direitos e liberdades até então conquistados. Muito embora o emprego da arma aérea não fosse novidade nos céus do Brasil, a Aviação de Caça surgiu como a afirmação da vertente de combate daquela nova Força que também trazia consigo um papel importante na tarefa de integrar o território nacional.

O Primeiro Grupo de Aviação de Caça foi criado em 18 de dezembro de 1943 e, durante a Segunda Guerra Mundial, se destacou na campanha do Teatro Europeu, apresentando ao mundo a bravura dos soldados do ares que vinham daquele pedaço de chão chamado Brasil. Contudo, não foram os atos de heroísmo de seus integrantes, os únicos responsáveis pela implantação do profissionalismo que se observou no pós-guerra.

Uma vontade implacável de formar, com os conhecimentos adquiridos nos céus da Itália, uma aviação de caça de prestígio no Brasil, fez com que os veteranos do Senta Púa desenvolvessem na Força o espírito de profissionalismo e de abnegação, calcados na tradição, no conhecimento, na organização e em um estado de espírito no qual: do piloto de caça, não se espera nada menos do que a busca incansável pela perfeição. Esses são valores que se perpetuam através das gerações.

Apesar de a Aviação de Caça ter evoluído técnica e doutrinariamente ao longo dos conflitos que se sucederam no mundo, ainda hoje estão válidos os preceitos enunciados pelos primeiros teóricos do poder aéreo, e parece que assim permanecerão; enquanto não houver um fato inovador, capaz de produzir uma revolução técnica ou científica que transgrida os atuais conceitos da natureza ou os limites da física.

Assim, temos visto nos conflitos recentes a ratificação do emprego da arma aérea como condicionante sine qua non para qualquer emprego de forças de médio ou grande vulto. Nesse contexto, é aviação de caça a que se reveste de primordial importância, pois ela é a responsável por adquirir a necessária superioridade aérea perante as forças adversárias, de modo a permitir que as demais aviações de combate, assim como as forças de superfície, operem com a adequada segurança. Sem esse passo inicial, qualquer tentativa de manobra terá boas chances de insucesso.

Essa é a importância da Aviação de Caça para a Força Aérea Brasileira, e, consequentemente para o Brasil, pois, em caso conflito, é da execução bem sucedida de suas missões que os demais esquadrões da Força poderão, também, contribuir para um desfecho favorável ao país.

Agência Força Aérea – Qual a avaliação que o Sr. faz sobre o atual momento da Aviação de Caça no Brasil? 

Brigadeiro Paulo Érico – A Aviação de Caça, por ser a primeira linha de defesa no ar, necessita estar equipada com vetores modernos e com os mais bem treinados pilotos. Para tal, é importante haver periodicamente a reposição de seus meios por aeronaves e equipamentos que estejam mais próximos ao estado da arte, de forma a manter seus recursos humanos atualizados e capacitados a identificar vulnerabilidades e necessidades, assim como apontar obsolescências e descrever requisitos. Embora aguardando ansiosamente a definição do vetor principal, a Aviação de Caça tem passado por uma modernização de sua frota desde o início da década de 90.

A incorporação dos A-29, mais do que possibilitar aos novos pilotos voarem uma aeronave com modernos sistemas, proporcionou à FAB empregar em ambiente noturno com muito mais precisão e segurança. A modernização dos F-5 permitiu, à frota, uma sobrevida operacional, e hoje conta com recursos tecnológicos que facilitam o controle da batalha e compensam a performance da aeronave. O seu novo sistema de pontaria aumentou significativamente a eficiência do emprego ar-solo. A aquisição dos Mirage 2000, juntamente com a modernização dos F-5, possibilitou, também, a introdução de novas táticas de combate, com a incorporação de radares mais modernos e a utilização de mísseis de curto e de médio alcance. A modernização em curso da frota de A-1, proporcionará mais precisão no emprego ar-solo, por meio do emprego de armamentos inteligentes, maior conectividade e consciência situacional. Espera-se um consistente salto qualitativo.

O treinamento de nossos pilotos também tem sido alvo de atenção nos últimos anos. A participação em exercícios internacionais como CEIBO, SALITRE e RED FLAG, bem como as cinco edições do Exercício CRUZEX têm possibilitado a troca de experiências com diversas Forças Aéreas.

O Comando da Aeronáutica tem feito o máximo esforço para que os esquadrões da Aviação de Caça disponham dos melhores recursos possíveis. Desse modo, mantém seus pilotos e técnicos atualizados com o que há de moderno no mundo. Adicionalmente, um entrosamento natural e singular entre as diversas gerações de pilotos permite manter vivas as tradições e as raízes da aviação, assim como o respeito e a admiração pelos veteranos do Primeiro Grupo de Caça.

Agência Força Aérea – A Aviação de Caça sempre foi referência no Brasil, quais os principais destaques desta categoria na história brasileira da aviação militar? 

Brigadeiro Paulo Érico – Embora o entusiasmo pelo som dos motores e pela beleza de suas máquinas seja uma unanimidade, em se tratando de Aviação de Caça, poucos jovens conhecem a história dos pilotos brasileiros nos céus da Itália.

Os resultados auferidos pelo 1º Grupo de Aviação de Caça durante a Segunda Guerra Mundial foram expressivos, especificamente aqueles obtidos durante a decisiva Campanha da Primavera, último esforço dos aliados naquela Frente, antes de encerrar o conflito. O comando americano, sob cuja subordinação encontrava-se o Grupo de Caça brasileiro, o “XXII Tactical Air Command – 12º USAAF” registrou que, naquele período, mais precisamente entre o dia 6 e 29 de abril de 1945, o 1º GAvCa, executou apenas 5% do total de missões efetuadas por todas as unidades sob aquele Comando. No entanto, contabilizou a marca de 85% de todos os depósitos de munições destruídos, 36% dos depósitos de combustível danificados, 28% das pontes destruídas, 15% dos veículos motorizados e 10% dos veículos hipomóveis destruídos.

O heroísmo, a abnegação e o desempenho apresentados pelo o 1º GAvCa foi mais tarde reconhecido pelo governo norte-americano, que, em 1986, concedeu ao Primiero Grupo a comenda “Presidential Unit Citation”, reconhecimento daquele país, distinguido a poucas unidades não nacionais.

Não há melhor fonte de inspiração para um piloto de combate do que o exemplo glorioso de seus antecessores. No caso do Brasil, podemos afirmar que os veteranos do Primeiro Grupo de Caça, enquanto pilotos, são referências de coragem, lealdade, honra, dever e Pátria. E, enquanto visionários, formaram a Aviação de Caça do Brasil, e assim, são reconhecidos pelo empreendedorismo, perseverança, tenacidade, tradição e camaradagem.

A chama viva do piloto de caça de hoje é fruto e sempre o será do valoroso legado deixado por aqueles poucos bravos. Vale aqui, então, a mais honrosa referência ao Brigadeiro Nero Moura, primeiro Comandante do 1GavCa, Patrono da Aviação de Caça e exemplo eterno para todos os pilotos de caça do Brasil.

Agência Força Aérea – Quais as vantagens que a modernização do A-1, cujo primeiro voo acontece agora em março, proporciona à Aviação de Caça? 

Brigadeiro Paulo Érico – A aeronave A-1 foi um marco na Indústria Aeronáutica Brasileira e na aviação de combate do Brasil. As características deste vetor como caça-bombardeiro possibilitou a FAB ter uma capacidade singular no contexto de suas operações. Por ser um projeto pioneiro e de características peculiares, a sua manutenção como vetor de combate é de fundamental importância para a afirmação do Brasil como país de destaque no cenário internacional. A sua modernização é vista com um caráter estratégico, porque, além da extensão da sobrevida operacional, aperfeiçoará o seus sistemas de defesa, permitirá o emprego de armamento inteligente e de novos sensores, capacitando-o ao emprego diurno ou noturno com mais precisão.

Agência Força Aérea – O que o futuro reserva à Aviação de Caça no país?

Brigadeiro Paulo Érico – Nos últimos anos, o Brasil tem se apresentado no cenário internacional como um ator de destaque. Atrelado ao crescimento sócio-econômico, é de se esperar que as Forças Armadas passem por um reaparelhamento e uma modernização de seus meios. O país deverá experimentar um crescimento das riquezas e se destacará em campos tais como: econômico, produção, agronegócio, medicina, ciência, tecnologia espacial etc. Dessa tendência, emergirá, também, a necessidade de redimensionar seus sistemas de defesa, o que significará a busca do domínio tecnológico para a produção de seus artefatos, a redução da dependência externa e o fortalecimento de suas Forças Armadas.

Nesse contexto, inserir-se-á a Aviação de Caça, que deverá dispor de vetores, sistemas e armas tecnologicamente sofisticadas, e de domínio nacional. Velocidade, furtividade, flexibilidade, conectividade, alcance, precisão, confiabilidade, autonomia e eficiência deverão ser atributos a ser maximizados. O desenvolvimento profissional continuará a ser tema importante na pauta da Força Aérea e, consequentemente, na Aviação de Caça. A adoção do emprego do ensino à distância poderá acelerar a elevação do nível de conhecimento e proporcionar um rápido amadurecimento profissional de seus homens e mulheres.

Enfim, independente do que o futuro nos reserva, a Aviação de Caça sempre terá o compromisso, qualquer que seja o cenário, de continuar a ser a primeira linha de defesa da pátria no contexto aeroespacial.

Fonte: Agência Força Aérea

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