Por Jack Nicas
Novas regras para drones abrem guerra entre grandes e pequenos fabricantes
A batalha em torno de novas regras para aeronaves não tripuladas nos Estados Unidos está opondo dois polos da indústria de drones com culturas bastante diferentes:
Empresários do setor de alta tecnologia contra grandes empresas aeroespaciais e de defesa.
Boeing, Northrop Grumman e outros grandes do setor aeroespacial são os representantes oficiais da indústria, com milhares de drones vendidos para o exército americano e de outros países. Muitos têm alta potência e preços elevados. Alguns possuem envergadura maior que a de um Boeing 737 e custam até US$ 93 milhões.
Enquanto isso, novatas, como a PrecisionHawk e a SZ DJI Technology, lançam aparelhos leves e de baixo custo usados para produzir filmes, inspecionar imóveis e monitorar safras. Muitos desses drones são manuais e podem ser comprados no Wal-Mart por algumas centenas de dólares. Esses aparelhos devem conquistar o mercado comercial a ser aberto pelas novas regras, dizem analistas.
Os dois grupos possuem sensibilidades e nichos de clientes diferentes e até se reúnem em conferências distintas.
Eles sempre existiram amigavelmente, com as grandes empresas atendendo as forças armadas e as firmas menores, os usuários civis. Mas, agora, a relação entre eles azedou diante das iniciativas para influenciar regulamentações há muito adiadas e da maior convergência do mercado provocada pelo aquecimento da demanda por drones.
Em meio à ausência de regras claras para aeronaves não tripuladas, a Administração Federal da Aviação (FAA, na sigla em inglês) proibiu o uso comercial de drones nos EUA que não tenham sido aprovados pela agência reguladora.
Muitos cineastas, produtores rurais e outros estavam usando pequenos drones sem o consentimento do governo, embora a FAA tenha aprovado somente o uso de dois drones comerciais, ambos no Alasca. A FAA planeja ainda este ano propor regras para pequenos drones que poderiam ajudar a decidir qual dos dois grupos irá prosperar nesse mercado.
Muitos pequenos fabricantes de drones e empreendedores acusam as grandes empresas de favorecer uma regulamentação restritiva para criar barreiras no mercado e proteger sua posição.
“Ninguém diz isso em voz alta, mas sabemos que a situação é essa”, diz Sven Juerss, diretor-presidente da fabricante alemã de drones Microdrones.
As grandes “investiram milhões em grandes drones e querem vendê-los durante o maior tempo possível.”
As grandes fabricantes de drones rebatem a acusação. Elas fizeram um lobby intenso em Washington pela aprovação das regras, mas dizem que dependem da FAA para abrir o espaço aéreo aos equipamentos de todos os fabricantes – se forem seguros. “Não há ninguém com um interesse mais legítimo na evolução segura das regras [de drones] do que as grandes empresas, porque elas são as que mais podem perder se isso não for feito direito”, diz John Langford, diretor-presidente da Aurora Flight Sciences, que auxilia no desenvolvimento e construção de grandes drones.
Alguns observadores dizem que a indústria de drones está pronta para se tornar um caso clássico de rompimento tecnológico, onde dispositivos baratos e menos potentes tomam o mercado de aparelhos mais caros e avançados. Eles comparam o momento atual dos drones à transição, nos anos 80, dos grandes computadores industriais para os PCs. As grandes companhias aeroespaciais “são os [computadores] mainframes dessa indústria […] Nós somos os computadores pessoais”, diz Chris Anderson, ex-editor da revista de ciência e tecnologia “Wired” e fundador da fabricante de drones 3D Robotics, nascida em 2009.
Patrick Egan, um ativista de defesa dos drones que mora em Sacramento, Califórnia, fechou sua empresa fotográfica, que utilizava drones caseiros, em 2007, depois que a FAA proibiu o uso comercial dos aparelhos.
Através da internet, ele se tornou um dos principais críticos da FAA e das grandes companhias aeroespaciais, que ele acusa de conluio para manipular a criação das regras.
Em maio, Egan realizou uma conferência para os pequenos fabricantes de drones. Ele criticou os comitês consultores da FAA, que são formados por executivos das grandes fabricantes, por recomendar regras que iriam prejudicar os pequenos empreendedores. Por exemplo, um participante do comitê, que trabalha na ASTM International, empresa que desenvolve normas técnicas, recomendou que a FAA exija dos fabricantes de drones programas extensivos de qualidade e manuais de padrão militar. “Meu Deus, não sei onde vou colocar a equipe de produção do manual porque a equipe de qualidade vai ficar na garagem”, disse ele aos participantes do evento.
Paul McDuffee, que dirige a área de relações com o governo da fabricante de drones Insitu, da Boeing, diz que as empresas aeroespaciais estão fazendo lobby por regras que irão beneficiar todos os fabricantes e usuários.
“Certo, errado ou indiferente, [Egan] vai se beneficiar disso, embora ele continue a atirar pedras em quem tem trabalhado muito para chegar a esse ponto”, diz McDuffee.
Embora a maioria dos drones das grandes empresas sejam caros, várias empresas desenvolveram aparelhos menores para o mercado comercial. A AeroVironment vende um quadricóptero que está sendo usado por diversos departamentos de polícia nos EUA e a Lockheed Martin já está alugando seu quadricóptero Indago, que cabe numa mala, para agricultores.
Mesmo assim, as duas empresas afirmam que não estão focando em consumidores para drones de baixo custo e que seus nichos continuam sendo as forças armadas e grandes corporações.
Um relatório divulgado em setembro pelo Departamento de Transporte dos EUA afirma que a maioria dos drones comerciais virá de fabricantes de veículos do tipo controlado por rádio, em oposição aos fornecedores de aeronaves para o Departamento de Defesa e para agência do governo. O relatório prevê que, “à medida que o uso [de drones] se tornar mais comum, os fornecedores do Departamento de Defesa devem entrar seriamente no mercado comercial”.
FONTE: Wall Street Journal