Ano: 1931! Relativamente, pouco tempo havia se passado desde que a inventividade de Santos Dumont assombrara o mundo com o voo histórico sobre o campo de Bagatelle, nos céus de Paris.
No Brasil, intrépidos pilotos e suas surpreendentes máquinas voadoras protagonizavam eventos extraordinários que ajudariam a desenvolver a Aeronáutica brasileira, apesar da precariedade dos meios e da limitada infraestrutura.
No dia 12 de junho de 1931, na manhã de uma sexta-feira, os tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nélson Freire Lavenère-Wanderley partiram do Campo dos Afonsos rumo à cidade de São Paulo para uma histórica missão.
Sob o comando do biplano Curtiss “Fledgling”, de matrícula K263, os dois jovens oficiais enfrentaram as variações meteorológicas, a falta de comunicação e as limitações de combustível para transportar a primeira mala postal do Correio Aéreo Militar. Isso significou a materialização do sonho de um grupo de pilotos, liderados pelo então Major Eduardo Gomes.
Esse incrível feito marcou a História da Aeronáutica brasileira e passou a ser conhecido como o Dia do Correio Aéreo Nacional e da Aviação de Transporte.
Foi assim que, em seguida à criação do Ministério da Aeronáutica, no ano de 1941, surgiu o Correio Aéreo Nacional, levando outros valorosos “bandeirantes do ar” a desbravarem os céus do Brasil.
Progressivamente, o alastrar na infraestrutura aeronáutica e o desenvolvimento de novos vetores, mais velozes, com maior autonomia e com maior capacidade de carga, possibilitaram a ampliação das linhas de transporte aéreo do CAN, solidificando a presença do Estado nos mais longínquos rincões do país.
Hoje, a Força Aérea Brasileira emprega, diuturnamente, seus meios de Transporte Aéreo Logístico para apoiar as atividades operacionais, logísticas e administrativas das Forças Armadas brasileiras, garantindo o fluxo de pessoal, equipamentos e suprimentos onde a ação militar seja necessária e oportuna.
Do mesmo modo, os meios de transporte da FAB são aplicados em situações de emprego eventual de natureza não-militar, normalmente relacionadas à cooperação da FAB com o desenvolvimento nacional, com a defesa civil e com as campanhas institucionais de utilidade pública, levando a presença do Estado às regiões desassistidas ou em situações de emergência.
Atualmente, testemunhamos a evolução da Aviação de Transporte. O Projeto KC-390, cargueiro multimissão, continua em fase de desenvolvimento e certificação, com dois protótipos em testes. As primeiras aeronaves serão entregues a partir do ano que vem, como substitutas dos C-130 Hércules.
Por sua vez, com a chegada do novo vetor, a aeronave Boeing C-767, a Força Aérea recuperou a sua capacidade de transporte estratégico, seja em suporte às operações de paz, seja no transporte de tropas e forças auxiliares para as ações de garantia da lei e da ordem ou em situações de apoio à Defesa Civil.
Todavia, o avanço tecnológico advindo pela modernização torna essencial o aperfeiçoamento, cada vez maior, da Doutrina Aeroespacial. Para essa finalidade, destaca-se a importância da pesquisa operacional como a força motriz de toda atualização doutrinária.
Há que se repensar o emprego do Poder Aeroespacial em cenários prospectivos e ajustar os processos, as táticas, as técnicas e os procedimentos em vigor na Força Aérea. Urge conduzir ações efetivas que transformem a Força Aérea Brasileira em uma Instituição com grande capacidade dissuasória, operacionalmente moderna e capaz de atuar de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais e plenamente apta a cumprir sua missão de “Manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional com vistas à defesa da Pátria”.
Dessa forma, a “Concepção Estratégica Força Aérea 100” traz em seu bojo três conceitos fundamentais que nos ajudarão a incrementar nossas capacidades e a alcançar a excelência nos processos operacionais: a concentração de atividades afins, a redução dos níveis organizacionais e a diminuição do custeio das atividades-meio.
É por essa razão que os processos de Preparo e Emprego da Força Aérea foram agrupados, respectivamente, no Comando de Preparo e no Comando de Operações Aeroespaciais.
Assim, o Comando de Preparo está encarregado de planejar o treinamento, fixar os padrões de eficiência e avaliar o desempenho das Alas e unidades subordinadas, além de coordenar a formulação da Doutrina Aeroespacial, a partir dos cenários e das capacidades estratégicas definidos pelo Estado-Maior da Aeronáutica. Na prática, o COMPREP agregou parte das atividades outrora realizadas pelo Comando-Geral de Operações Aéreas e pelas quatro Forças Aéreas.
Em contrapartida, o Comando de Operações Aeroespaciais, COMAE, passou a ser o Comando Conjunto permanentemente ativado responsável pela condução das operações aeroespaciais recorrentes e eventuais determinadas pelo Comandante da Aeronáutica e pelo Ministro da Defesa.
Com o novo modelo – atividades de preparo e emprego divididas em dois comandos – a racionalização e a economia no emprego dos meios aéreos, sobretudo em relação às aeronaves de Transporte Aéreo Logístico, têm apresentado expressivos resultados, como, por exemplo: a pronta-resposta para atender às ordens emitidas pelos escalões superiores; o estabelecimento de métodos científicos para o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes necessários aos combatentes; e as melhorias nos processos de gestão da informação e do conhecimento operacional.
Nesse cenário, a Ala passa a ser a ponta de lança da Força Aérea! Uma organização de nível tático imprescindível para o emprego do Poder Aeroespacial. O seu viés, prioritariamente operacional, fundamenta-se no adestramento de seus Esquadrões Aéreos, Grupo Logístico e Grupo de Segurança e Defesa, consoante os padrões fixados pelo COMPREP, mantendo-os aprestados para serem empregados pelo COMAE, quando e onde for determinado.
Não obstante, a modernização de nossas estruturas operacionais não seria possível sem o avanço dos processos administrativos. Nesse sentido, as atividades rotineiras de manutenção do patrimônio e da infraestrutura, de gestão dos recursos humanos, de subsistência e de aquisições, entre outras tantas, que antes estavam dispersas em inúmeras organizações, foram concentradas em grupamentos e destacamentos especializados, subordinados aos órgãos setoriais de Logística, Pessoal e Administração. Como resultado, esses procedimentos estão mais ágeis, confiáveis e econômicos, além de facultar aos comandantes das Alas mais tempo para se dedicarem aos assuntos técnicos e operacionais.
Integrantes da Aviação de Transporte, Lançar! Suprir! Resgatar! O bradar do seu grito de guerra simboliza o vibrante espírito do trabalho em equipe e a firmeza no cumprimento da missão!
Por derradeiro, com júbilo, ecoemos as palavras do Tenente Brigadeiro Nelson Freire Lavanère-Wanderley, que refletem o sentimento emanado por todo tripulante ao conduzir mais longe as cores vivas da Bandeira do Brasil:
“A epopéia do Correio Aéreo Nacional não terminará; ela se transfere, de geração em geração. Sob novos tempos, ela prosseguirá impulsionada pelo anseio que empolga a Força Aérea Brasileira de servir à Pátria, de ser útil e de participar da integração e do desenvolvimento nacional.”
Brasília, 12 de junho de 2017.
Ten Brig Ar Antônio Carlos Egito do Amaral
Comandante do Comando de Preparo