Por Guilherme Wiltgen e Luiz Padilha
Conforme foram sendo desenvolvidas as operações aéreas no NAe São Paulo (A 12), a MB começou a identificar novas necessidades operacionais, resultando no estudo para introdução de uma nova aeronave.
Mais uma vez mantendo o princípio da oportunidade e baixo custo, aliado ao grande retorno do conhecimento operacional, e ainda, em concordância com necessidade de Defesa Nacional, a Marinha do Brasil, sabiamente, iniciou o projeto COD/AAR (Carrier Onboard Delivery and Air-to-Air Refueling).
Este projeto consiste basicamente na modificação de células das consagradas aeronaves C-1 Trader, que por muito tempo serviram a US Navy, para a versão Turbo Trader (KC-2 na MB). Esta extensa modificação, vai desde a remotorização da célula original, trocando os motores a pistão por motores turbo-hélices, bem como a substituição de todos os equipamentos analógicos de navegação pela moderna tecnologia “Glass-Cockpit”. O C-1 Turbo Trader estarão aptos após esta modificação a realizar o reabastecimento em voo (REVO) dos caças A-4/TA-4 KU Skyhawk II, elevando desta forma o nível operacional e estratégico da MB, que agora ampliará em mais de 200 milhas náuticas a defesa da Força Naval nucleada pelo NAe São Paulo. Por conseguinte, também aumentará a distancia de projeção de poder sobre terra, requisito este importante para uma moderna Força Naval.
A decisão da Marinha do Brasil por “compras de oportunidade/modernizações” de antigos modelos de aeronaves, para poderem atender as necessidades de Defesa Nacional, foram balizadas por uma “dura” restrição orçamentária, imposta pelo governo e que conduzem inevitavelmente a Marinha do Brasil a uma importante questão:
– Como manter as células de aviões antigos em condições de voo, levando-se em conta que ambas as células (A-4 e C-1) já não são mais fabricadas?
Esta questão, somada aos inúmeros questionamentos que recebemos de nossos leitores, nos levaram a pesquisar mais sobre o assunto. Não foi fácil encontrar as respostas mas, descobrimos uma empresa norte americana com grande capacitação para overhall/fabricação de peças aeronáuticas de diferentes modelos de aeronaves, inclusive dos nossos A-4 e C-1.
Na LAAD 2013 ocorrida no Riocentro-RJ, fomos apresentados ao presidente da United Aeronautical Corporation – UAC, o Sr. Bradford T. Beck, um executivo que, para nossa surpresa, conhecia todos os detalhes sobre nossas aeronaves e com quem obtivemos um relato preciso sobre a capacidade técnica e industrial que a UAC possui.
Segundo o Sr. Beck, a UAC é a melhor opção no mundo para manter as aeronaves de asa fixa da MB voando, não somente por sua capacidade técnica e industrial mas, principalmente, por seu vasto inventário de peças e partes disponíveis para fornecimento, fazendo da UAC a opção mais econômica, rápida e segura.
Nos foi esclarecido pelo Sr. Beck, que a UAC seria capaz de fornecer desde um simples parafuso até uma célula inteira da aeronave, e ainda acrescentou que devido ao seu estoque (o maior inventário do mundo), a UAC estaria pronta para dar suporte direto aos programas da MB, ao invés de vender para empresas americanas dependentes de seu inventário e conhecimento técnico, as quais eventualmente a MB poderia estar contratando. Neste perfil de parceria comercial, a UAC afirma ser capaz de manter os dois modelos de aeronaves voando por mais 20 anos.
Impressionados com o que nos foi exposto, decidimos visitar a UAC para conhecer de perto a empresa. Assim, o DAN viajou aos Estados Unidos para conferir “in loco” toda a estrutura técnica, operacional e de suporte, disponíveis para manter estas aeronaves e muitas outras operadas pelo Brasil.
O Defesa Aérea & Naval com EXCLUSIVIDADE, apresenta aos nossos leitores, a United Aeronautical Corporation – UAC.
UAC, a melhor solução para a Marinha do Brasil
A frente da UAC, Larry, como o Sr. Holt é chamado, fundou a empresa em 1956, nesta época, exercendo o cargo de Oficial de Logística da Força Aérea Americana (USAF) durante a Guerra da Coreia, identificou as dificuldades que a USAF tinha de conseguir peças para suas aeronaves. Assim surgiu a United Aeronautical Corporation, que nestes 57 anos de existência, evoluiu muito, saindo das modestas instalações que ocupava no início de suas atividades, para uma sede própria, com todas a infraestrutura necessária, se tornando a empresa que é hoje, reconhecida no mundo todo.
Hoje com 80 anos, o Sr. Larry continua trabalhando e, efetivamente, atuando junto a UAC, sendo sempre acompanhado pelo Sr. Ron, seu Vice Presidente, e pelo Sr. Brad, que hoje ocupa o cargo de Presidente da UAC, assumindo boa parte das tarefas que antes eram realizas tanto por Larry quanto por Ron.
Certificações
Para garantir a qualidade exigida em suas peças e serviços, a UAC possui as seguintes certificações:
- ISO 9001,
- FAA (Federal Aviation Administration) para reparos e overhaul,
- Departamento de Estado dos EUA (USDOS) para controle de munições,
- Governo dos EUA para sistema de controle de qualidade (em conformidade com a norma MIL-I-45208A),
- Adminstração de Contratos de Defesa, e
- EASA (European Aviation Safety Agency).
Possui a única licença emitida pela Nortrop Grumman para as aeronaves C-1, S-2 e E-1, da Hamilton para diversos componentes e pela Honeywell para pneus e vários componentes de trem de pouso. A UAC também é registrada noDepartamento de Estado dos EUA (USDOS) para exportação de peças de aeronaves militares.
No Brasil, também é certificada pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DaerM), para executar serviços de manutenção, modificações, reparos e overhaul em estruturas, reparos de componentes metálicos, airlerons, flaps, elevators, canopy, rudder e trem de pouso das aeronaves A-4 e TA-4 Skyhawk II (AF-1/1A) e dos C-1 (KC-2 Turbo Trader), que irão operar no NAe São Paulo como COD/AAR (Carrier on Board Delivery/Air to Air Refueling), e que atualmente passam por um processo de modernização nos EUA, fazendo parte dos projetos em andamento na MB, para os quais, se necessario, a UAC poderá prestar todo apoio logístico e técnico, durante o período em que estas aeronaves operarem, se tornando assim uma importante e confiável parceira da Marinha.
Além disso, a UAC também é certificada desde de 2011 pela Embraer, para fornecer componentes gerais para o programa AF-1M (AF-1B/C), que realiza uma extensa modernização nos A-4 da Marinha.
Controle de Qualidade e Setor de Despacho e Exportação
Após passar pelos serviços prestados pela UAC, todas as peça, partes ou equipamentos, só são entregues ao seu usuário final, depois de passar pelo setor de Controle de Qualidade, onde tem as suas especificações técnicas de projeto conferidas, tanto pelo seu código como também por uma verificação visual, utilizando a base de dados do fabricante. Desta forma, a empresa assegura o envio do material em conformidade com os padrões de qualidade do fabricante.
As peças fabricadas na UAC passam por um controle rígido de qualidade, sendo inspecionadas antes de seguirem para o setor de despacho e exportação.
Para que tudo funcione dentro do prazo, a UAC possui um departamento exclusivo para embalagem e despacho do material, sendo tudo realizado por seus funcionários, contando ainda com uma logística muito favorável para envio do material, tanto para o mercado interno norte-americano quanto para o externo. Isso se dá pela sua proximidade com os aeroportos Bob Hope (BUR) e Tom Bradley (LAX), sendo este último o aeroporto internacional de Los Angeles.
Biblioteca Técnica
Em sua instalação principal, a UAC possui uma completa biblioteca técnica, com mais de 1.000.000 volumes entre literatura técnica, livros de manutenção, esquemas, projetos estruturais, elétricos e de sistemas de 31 aeronaves, incluindo todo o ferramental necessário. Não é incomum a UAC ser a única fonte de pesquisa, mesmo para o Governo dos EUA, com dados específicos necessários para vários sistemas de aeronaves.
Em um esforço em manter a integridade física destes arquivos, a empresa está procedendo a digitalização total destes documentos, o que vai facilitar a consulta aos dados técnicos ou dos projetos da peças e equipamentos para o seu envio para a área operacional da empresa, onde passará pelos processos de remanufatura, reparo, testes e certificações. Além disso, o prédio foi totalmente reformado, recebendo proteção especial contra intempéries, visando preservar esta área, que pode ser considerada como o coração da UAC.
Área de Armazenagem
Tudo dentro da UAC impressiona, mas a área de armazenagem de peças, partes e equipamentos chama atenção pelos seus mais de 500.000 ítens, distribuídos por seis locais e em dois Estados (Califórnia e Arizona).
Todas as peças são catalogadas e o seu inventário todo informatizado, possibilita a imediata localização de qualquer material, de forma a agilizar o seu envio para as suas oficinas especializadas e, posteriormente, enviadas ao usuário final.
Neste setor, é facil perceber a grande quantidade de peças disponíveis para o A-4, C-1, S-2 (MB), F-5, C-130 e P-3 (FAB) que a UAC possui. Para todos os lados em que se olha, é possível encontrar um canopy, um assento ejetor, cabides de armamento ou os característicos radomes do radar do S-2, pintados em preto e branco. Curiosamente, algumas destas peças são pertencentes aos antigos P-16E Tracker da Força Aérea Brasileira.
Oficinas
Na área de oficinas, observamos a organização com que todos os processos são feitos, desde a chegada da peça, até o seu despacho ao cliente, passando por todos os testes e certificações necessárias para que tenha total garantia e segurança. Na segunda parte desta matéria, iremos abordar todas as oficinas, mostrando detalhadamente os processos em cada uma delas.
A UAC no mundo
A UAC fornece material aeronáutico para várias Forças Armadas, entre elas podemos destacar a Força Aérea Argentina (A-4 e C-130), Armada Argentina (S-2 e P-3), Força Aérea Portuguesa (P-3), Força Aérea Colombiana (Tucano, C-130 e CASA), Real Marinha da Tailândia (P-3), Marinha de Taiwan (S-2T), além do próprio Departamento de Defesa Norte Americano (quase todos os modelos de aeronaves).
Os dois principais clientes civis da UAC são a Direction de la Défense de la Sécurité Civile, do governo francês e o Departamento de Combate a Incêndios Florestais do Estado da Califórnia (CAL FIRE) que operam aeronaves S-2 Tracker (ex-US Navy).
O CAL FIRE possui 23 unidades adquiridas em 1996 e modernizados para a versão S-2T e Sécurité Civile adquiriu em 1982 aeronaves S-2F Tracker Firecat, que foram modernizadas para a versão S-2T em 1994. Ambos operadores utilizam estas aeronaves para o combate a incêndios florestais, podendo carregar até 1.200 galões de retardante.
Os S-2T continuam desempenhando suas vitais funções para a população da Califórnia e da França, devido ao suporte técnico e de material promovido pela UAC.
Para manter a presença da UAC, o Sr. Brad, e vários outros funcionários, viajam pelo mundo atendendo os seus inúmeros clientes e buscando sempre por novas oportunidades de negócios. Devido à importância que a empresa dá e estas relações especiais, também não é incomum ainda encontrar o Sr. Larry e o Sr. Ron visitando os clientes.
A UAC, melhor que qualquer outra empresa, pode dar suporte tanto para a Marinha do Brasil (A-4, C-1 e S-2) quanto para a Força Aérea Brasileira (F-5, C-130 e P-3), em peças de reposição, equipamentos aeronáuticos, serviços especializados e de overhaul, se apresentando como a melhor opção de parceira para ambas as Forças, prestando serviços compatíveis com as necessidades de utilização das nossas aeronaves, atendendo a todos os requisitos técnicos e operacionais, o que resultaria em uma maior disponibilidade, ou seja, de mante-las em plenas condições de voo.
Vale ressaltar ainda que, a UAC possui licença do Departamento de Estado dos EUA para realizar exportação de artigos de defesa e realização de serviços, conforme os preceitos da AECA (Arms Export Control Act) e da ITAR (International Traffic in Arms Reguations), aprovado pela DDTC (Directorate of Defense Trade Controls).