NDM ‘Bahia’ (G 40) – Sua missão e a viagem ao Brasil

NDM Bahia na área marítima de Toulon, durante o embarque de EDVMs e EDCG.

Por Luiz Padilha

A Missão do NDM Bahia (G 40)

Na Marinha do Brasil, o Navio Doca Multiprósito (NDM) Bahia terá como missão transportar e controlar embarcações de desembarque, viaturas anfíbias e carros de combate; transportar carga e tropa; efetuar transbordos de pessoal; conduzir Movimento Navio-Terra (MNT) por superfície ou helitransportado; realizar atividades benignas em assistência humanitária em casos de desastres naturais; destruir ou neutralizar unidades de superfície e submarinos inimigos; apoiar as operações anfíbias; apoiar a realização de operações especiais; prover as facilidades de C3I (Comando e Controle, Comunicações e Inteligência) para a Força Naval; prover apoio logístico limitado; e efetuar operações de busca e salvamento, a fim de contribuir para o exercício das Tarefas Básicas do Poder Naval – controlar área marítima, projetar poder sobre terra e contribuir para a dissuasão.

EDCG Marambaia entrando na doca alagada do NDM Bahia

Num primeiro momento, pode parecer difícil imaginar como um navio deste porte pode ter a capacidade de destruir ou neutralizar unidades de superfície e submarinos inimigos. Essa capacidade se dá pelo binômio Navio/Helicópteros atuando com os escoltas. Com seu amplo convoo e hangar, o navio poderá operar com as aeronaves UH-15A em operações anti-superfície (Exocet), SH-16 em missões anti-submarino  e anti-superfície (Torpedos – Penguin) e os AH-11A Super Lynx nas operações de esclarecimento e ataque (Sea Skua-Torpedos-Cargas de Profundidade). Este é apenas um pequeno exemplo de como o navio, aparentemente “desarmado”, pode se transformar em um vetor de dissuasão respeitável.

Tamanha versatilidade nos remete ao lema do navio “Gigante por natureza, imponente por destino”.

A Viagem

No último dia 21 de março, após um longo período para que todas as revisões programadas fossem executadas e com o navio sendo aprovado nos testes de mar, o NDM Bahia (G 40) partiu as 15:30h no horário local, em direção ao Brasil, deixando a Base Naval de Toulon para trás.

Os funcionários da DCNS envolvidos na manutenção do Bahia vieram ao cais, junto com o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luis Eduardo Soares Fragozo, chefe do GFA (Grupo de Fiscalização e Apoio), para se despedir, acenando e desejando “Bons Mares” ao mais novo navio da Marinha do Brasil.

Com o prático embarcado, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luis Felipe Monteiro Serrão deu início a manobra de desatracação com 3 rebocadores auxiliando a manobra e, numa saída tranquila, o navio foi deixando para trás a Base Naval de Toulon.

A DCNS finalizou os trabalhos, conferindo ao navio plenas condições operacionais e, assim, nos encontramos a bordo conferindo in loco que o mesmo se encontra em excelentes condições.

A Base Naval de Toulon é bastante movimentada, com vários navios chegando e partindo diariamente. Durante nossa saída foi possível observar a fragata FREMM Mohammed VI (FFG 701), da Marinha do Marrocos, finalizando seus testes de mar e um submarino nuclear da classe Amethyste retornando à base naval de Toulon.

O Defesa Aérea & Naval tem o privilégio de estar presente no início da vida operativa do NDM Bahia e, antecipadamente, agradece à Marinha do Brasil por esta oportunidade ímpar.

Assista abaixo o vídeo com as imagens capturadas pelo DAN durante toda a viagem.

Estreito de Gibraltar

O navio segue uma rota pré-definida e mantém a velocidade em torno de 15 nós, buscando obter sempre a melhor relação custo/benefício e, em uma navegação tranquila, vamos nos aproximando do Estreito de Gilbratar. Até próximo a costa da Espanha quase não haviam contatos de navios mercantes, porém, ao chegarmos próximo ao estreito, o radar do navio começou a compilar vários contatos entrando e saindo do Mediterrâneo. As velocidades são variadas, com navios navegando a 10 nós, outros a 20 nós e o Bahia mantendo sua velocidade em torno de 15 nós. Quando os navios se aproximam, a preferência é do que está em maior velocidade e, assim, os navios vão se posicionando um a um para passar pelo estreito, navegando pelas “lanes” pré-estabelecidas e entrar no Oceano Atlântico.

Como a viagem é longa, a tripulação precisa se adestrar, afinal, tudo no navio é novo para eles. Dessa forma, assim que entramos no Atlântico, foi anunciado pelo fonoclama o início do exercício de CAv (Controle de Avarias) e, com o intuito de torná-lo o mais realista possível, foram utilizados fumígenos que encheram os compartimentos de fumaça para que a equipe de CAv entrasse em ação a fim de debelar os focos de incêndio o mais rápido possível. Observadores, estrategicamente posicionados, anotavam o desempenho da equipe de CAv do navio.

Equipe de CAv após o exercício

Após todos os exercícios são realizados debriefings, para ver o que não saiu como esperado e corrigir eventuais falhas para, no exercício seguinte, as mesmas não se repitam. Até a chegada a Salvador muitos exercícios foram realizados, em virtude da necessidade do navio estar com seu adestramento o mais perto possível da perfeição, pois a equipe do CAAML (Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão) virá a bordo quando o navio passará pela Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento – CIASA. O navio precisa passar pela inspeção para entrar em Fase 3, o que lhe permitirá operar plenamente com os outros meios da Esquadra.

Com o bom serviço executado pela DCNS nos motores em Toulon, o Chemaq, Capitão-de-Corveta Bruno Rocha trabalhou no CCM (Centro de Controle de Máquinas) sem problemas durante a viagem, atestando a boa qualidade do serviço.

Outro exercício realizado diariamente é o de Postos de Segurança, onde a tripulação precisa guarnecer o navio para qualquer eventualidade que possa surgir. A cada dia o tempo de reação vai se aproximando do ideal, o que é absolutamente normal para uma tripulação recém embarcada. O CMG Serrão e o Imediato, Capitão-de-Fragata Alexandre Itiro Villela Assano, buscam o tempo todo obter da tripulação o seu melhor e, pelo observado por nós do DAN, eles conseguirão atingir o nível de eficiência rapidamente, com uma observação importante: a tripulação está motivada e engajada na busca deste resultado.

No quarto dia de navegação estamos nos aproximando das Ilhas Canárias, porém a escala anteriormente prevista, foi cancelada e nossa viagem será direto à Salvador. Encontramos sempre boas condições climáticas durante a nossa viagem, com o mar em Força 3, esporadicamente 4  e 5.

Seguindo o planejamento de adestramento, diariamente é tocado Postos de Voo, com a tripulação do navio se preparando para, em breve, receber os helicópteros no convoo. Com a coordenação do CheAvi Capitão-de-Corveta Mauro Daiha Alves Pinto, os procedimentos vão sendo alinhados aos poucos, com a coordenação entre a Manobra e a Torre fluindo melhor a cada dia. Rebater as redes de convoo, abaixar as antenas de HF são rotinas pré-voo, e com as dimensões do NDM Bahia, a faina precisa ser bem coordenada.

Cada comando dado segue um padrão, primando sempre pela segurança. A Torre faz contato com a Manobra e depois passa as instruções ao OLP (Oficial de Lançamento e Pouso), que coordena a equipe para rebater as redes do convoo, peiar a aeronave, “pentear/despentear”, preparando-a para voar ou ser hangarada, em síntese, todos os procedimentos pré e pós-voo são passados e repassados exaustivamente, visando a segurança das futuras operações aéreas a serem realizadas após a chegada do navio ao Rio de Janeiro.

Em um primeiro momento, ocorrerá entre Salvador e o Rio de Janeiro uma preparação especial para o recebimento de uma aeronave UH-15 do Esquadrão HU-2, por meio de uma preparação pré-VSA. Todo este treinamento é necessário para a realização da VSA (Vistoria de Segurança de Aviação). Essa verificação é realizada normalmente em duas etapas: VSA Estática e VSA Dinâmica. Ambas ocorrerão apenas após a chegada do navio ao Rio de Janeiro quando, então, as aeronaves da Força Aeronaval irão pousar a bordo e, através de voos de QRPB (Qualificação e Requalificação de Pouso à Bordo), tanto o navio quanto os pilotos se qualificarão para operações aéreas no NDM Bahia.

Seis dias após ter deixado Toulon para trás, passamos à 24 milhas de Cabo Verde, África, com o navio mantendo sua velocidade entre 14 e 15 nós sem nenhuma intercorrência, mostrando que o NDM Bahia em breve irá mostrar todo o seu potencial nas operações  com a Esquadra.

O NDM Bahia por dentro

Um pouco do navio por dentro para nossos leitores terem uma ideia de suas dimensões e habitabilidade. O navio é bem espaçoso conferindo à tripulação conforto e boa locomoção.

Corredor do navio

Oito dias navegando e estamos à 620 milhas naúticas da Linha do Equador. O navio segue sua rotina de treinamentos e nós do DAN, acompanhando de perto a transformação do navio.

Um Senhor Hospital

O navio possui um amplo complexo hospitalar, com cerca de 500m², capaz de prestar apoio médico-odontológico, dispondo de 49 leitos, uma unidade para tratamento de pacientes críticos, outra para cuidados a queimados, dois centros cirúrgicos, um laboratório, compartimento para exames radiológicos, central para esterilização de material, além de consultórios clínicos e odontológicos.

Enfermaria

Por tudo isso, um dos destaques do NDM Bahia sem dúvidas é o seu Hospital.  O médico de bordo, Capitão-de-Corveta (MD) Demóstenes Apostolides, nos levou para uma rápida visita as instalações do que podemos chamar de um “Senhor Hospital”.

Logo na entrada nos deparamos com um corredor com poltronas na porta dos 2 consultórios médicos, onde a tripulação pode aguardar a consulta. O hospital possui uma sala para exames biométricos, um laboratório de análises clínicas, uma sala de atendimento de emergência e uma ampla sala para triagem com 12 leitos.

Dependendo do cenário onde o navio tenha que atuar, a sala de raio X e os dois centros cirúrgicos estão próximos, proporcionando à equipe médica um pronto atendimento aos pacientes.

Sala de Cirurgia

Após a cirurgia, o paciente é removido para a área de recuperação. Para situações de maior gravidade, existe a unidade de tratamento intensivo (UTI).

O hospital possui também uma área especial para atendimento à queimados com 3 leitos. Essa área conta com uma maca especial para realizar a limpeza da vítima, facilitando a retirada de vestimenta ou qualquer outro material que esteja grudado em seu corpo, para iniciar o tratamento. Em caso e necessidade, o  navio também possui uma área de isolamento com 2 leitos.

Área para Queimados – Cama para lavagem de pacientes com queimaduras

Tudo no hospital foi pensado de maneira superlativa, afinal, este navio tem a capacidade de atuar em situações de desastres naturais caso seja requisitado.

Em nosso nono dia de travessia, estamos à 300 mn do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, cada vez mais perto de nosso país. A linha do Equador se aproxima e o navio deverá cruzá-la em nosso décimo dia de navegação. A ansiedade por notícias de nosso país é grande e a tripulação aguarda a aproximação com a costa brasileira. O ambiente a bordo é bom e o companheirismo entre a tripulação, o ponto alto do navio.

O Brasão do Navio

Num pentágono formado por cabos de ouro e encimado pela coroa naval, em campo cortado e ondado de vermelho e de azul, tendo postos em faixa sobre o cortado dois elos integrais de amarra, separados por um elo partido, todos de ouro.

Bahia – Estado do Brasil em cujas águas ocorreram passagens épicas da História Naval Brasileira durante as lutas da Independência.O azul do campo evoca tais águas, enquanto o vermelho alude à bravura com que o povo baiano combateu pela liberdade da Pátria. A amarra partida simboliza o sucesso obtido naquelas lutas, graças, especialmente, à ação da Marinha Imperial, na qual estava integrado o Brigue “Bahia”, ex-“Colonel Allen”, e a primeira embarcação nacional a ostentar o nome do grande Estado brasileiro que, sob o comando de Bartolomeu Hayden, muito se destacou na campanha.

No décimo dia de navegação, entre 11:08h e 11:20h, atravessamos a linha do Equador. Nesta passagem, o Rei Netuno, como não poderia deixar de ser, esteve à bordo do NDM Bahia para batizar todos que ainda não tinham atravessado a linha do Equador embarcado em navios ou submarinos. Por ser a primeira vez que o Defesa Aérea & Naval realiza essa travessia, seu editor foi devidamente batizado pelo Rei Netuno.

Com o mar ajudando estando sempre em boas condições, vamos nos aproximando do Arquipélago de Fernando de Noronha, onde passamos na madrugada do 11º dia de nossa viagem rumo à Salvador-BA.

O NDM Bahia possui armamentos para autodefesa, como 2 lançadores Simbad para o míssil anti-aéreo Mistral, 3 metralhadoras de 20mm e 2 metralhadoras de 12,7mm que podem ser observados abaixo.

Lançador Simbad do míssil AA Mistral

Por volta de 2:30h o navio passou pelo arquipélago de Fernando de Noronha e na manhã de nosso 12º dia de navegação rumo à Salvador, estamos à 203 MN da cidade de João Pessoa. A expectativa para a chegada ao nosso destino é grande. Nossa rotina de adestramento eventualmente sofre alguns ajustes, mas nada que diminua o foco no objetivo a ser alcançado.

CMG Serrão durante a passagem pelo NDCC Garcia D’Ávila (G 29)

Em nosso 13º dia de navegação, a aproximadamente a 15 milhas da cidade de Maceió, bem cedo avistamos o primeiro navio da Marinha do Brasil em nossa costa. Trata-se no NDCC Garcia D’Ávila (G 29), que está em viagem rumo ao Haiti. Os dois navios se cruzaram com os comandantes trocando mensagens pelo rádio, com ambos desejando boa viagem e bons mares, respectivamente. Assim, o NDCC Garcia D’Ávila passou a ser o primeiro navio da MB a contactar o NDM Bahia neste dia 02/04/2016 às 06:16h.

O dia vai amanhecendo e logo cedo temos o toque de Postos de Voo, com o navio buscando a perfeição nos procedimentos da aviação embarcada. Com a Patrulha do DOE (Danos por Objetos estranhos), “varrendo” o convoo, é iniciado os procedimentos de pouso e decolagem, coordenado pelo CheAv. Desta vez será diferente e um pouso com “crache” será simulado.

Patrulha do DOE

A tripulação rapidamente parte para o combate as chamas e, após debelado o fogo, a equipe médica entra em ação, chegando até a aeronave e prestando os primeiros socorros ao piloto da aeronave. O mesmo é imobilizado e todo o procedimento é seguido à risca como se o mesmo fosse real. Com tudo correndo dentro do programado, a Torre declara o Finex do exercício.

Equipe reunida com o Comandante CMG Serrão e com o Imediato CF Assano após exercício de crache a bordo.

O mascote do navio é o “Kraken”, personagem do filme “Piratas do Caribe”, e parece ter sido uma boa escolha, pois  nossa navegação se deu praticamente com mares favoráveis com Salvador cada vez mais perto.

Em seu primeiro Salva Terra, na aproximação com Salvador, os oficiais se reuniram na Praça D’armas, onde o Imediato, CF Assano, teceu algumas considerações enaltecendo todo o esforço e dedicação da tripulação do navio, durante os meses que estiveram fora de casa, longe de suas famílias, para que o navio cumprisse o prazo estipulado e pudesse empreender a viagem ao Brasil com todas as revisões realizadas conforme o programado. Em seguida, o comandante do navio, CMG Serrão, reinterando as palavras do Imediato, fez questão de lembrar que tinha uma atenção diferenciada para com todos da tripulação, a responsabilidade de trazer todos de volta para suas famílias. E com o sentimento de dever cumprido, puxou um brinde com o brado do navio.

*“Klax Comb”!

Pela manhã, nos aproximamos da cidade de Salvador e aguardamos a chegada do prático para a entrada no porto de Salvador. Após a atracação, o navio recebe a visita do Comandante do 2º Distrito Naval, o Vice-Almirante Cláudio Portugal de Viveiros.

Comandante do 2º DN Vice-Almirante Cláudio Portugal de Viveiros embarcando no NDM-Bahia

Características do Navio

Comprimento total: 168 metros

Boca Máxima: 23,5 metros

Calado Carregado: 5,91 metros

Deslocamento Carregado: 12.037 toneladas

Velocidade Econômica: 12 nós

Velocidade Máxima: 21 nós

Raio de Ação: 13.404 MN a 12 nós

Motorização

2 Motores Diesel SEMT Pielstick para propulsão (MCP- Motores de Combustão Principal) com 10.400 HP cada e,

4 Motores Diesel Wartsilla para geração de energia elétrica (MCA – Motores de Combustão Auxiliar)

1 Convés Doca de 122 m x 14 m, com capacidade de embarcar até 10 EDVM ou 1 EDCG e 4 EDVM ou 2 EDCGs.

Operações Aéreas

O NDM Bahia pode operar com todas as aeronaves de asas rotativas da Marinha do Brasil, sendo até 3 aeronaves simultaneamente em seus dois convoos. Seu hangar pode receber várias combinações dentre as aeronaves da Força Aeronaval.

Armamento para Autodefesa

02 Lançadores Simbad para míssil Mistral

03 Metralhadoras de 20 mm e,

04 Metralhadoras de 12,7 mm

* Klax Comb significa Postos de Combate

NOTA DO EDITOR: O Defesa Aérea & Naval é grato à Marinha do Brasil por ter autorizado o nosso embarque no NDM Bahia, em sua primeira viagem rumo ao Brasil. Agradecemos também ao Diretor do CCSM, Contra-Almirante Flávio Augusto Viana Rocha, à equipe do CCSM envolvida neste projeto, ao Comandante do navio, CMG Serrão e toda sua tripulação, que nos recebeu de braços abertos facilitando o nosso trabalho.

Sair da versão mobile