Por Guilherme Wiltgen e Luiz Padilha
Em uma emocionante cerimônia ocorrida nas instalações da Embraer Defesa &Segurança, localizada em Gavião Peixoto (SP), foi apresentada a maior e mais sofisticada aeronave produzida pela gigante do setor aeronáutico mundial, a brasileira Embraer. Compareceram representantes de 32 países e diversos correspondentes dos principais meios especializados nacionais e internacionais. Podemos concluir que os olhares do mundo da aviação se voltaram para a pequena Gavião Peixoto, o que ressalta ainda mais a importância que esta aeronave no estado-da-arte, está representando para o mercado mundial de aviões militares de transporte, e que vai atacar um nicho antes dominado por modelos de aeronaves que hoje, diante do moderno KC-390, já se apresentam ultrapassadas.
O Brasil investiu R$ 12,1 bilhões, sendo R$ 4,9 bilhões para o desenvolvimento da aeronave e R$ 7,2 bilhões para a aquisição de 28 unidades para a FAB. O KC-390 já nasce com expectativas claras de exportação, com a Argentina, Portugal e República Tcheca, que já participam do projeto, além de outros países que também já manifestaram interesse na aquisição, o que o diferencia em relação a outros projetos já desenvolvidos pela indústria nacional.
Segundo Jackson Schneider, o protótipo apresentado encontra-se pronto e com a instrumentação interna especifica toda instalada para iniciar os testes que antecedem o primeiro voo, que deverá ocorrer até o final de 2014.
O “Roll out”
Estiveram presentes ao evento o Ministro da Defesa, Celso Amorim, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito, os ministros da Defesa da Argentina e de Portugal, Agustin Rossi e José Pedro Aguiar-Branco respectivamente, o Comandante da Força Aérea da República Tcheca, o Brigadeiro Libor Stefanik, o Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto, o Comandante do Exército, General de Exército Enzo Martins Peri e do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), o General de Exército José Carlos De Nardi, além de diversas autoridades civis e militares.
Em suas palavras, o presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança, Jackson Schneider, disse que “Este marco significativo do Programa KC-390 demonstra a capacidade da Embraer de gerenciar um projeto complexo e de alta tecnologia como este e de executá-lo dentro do planejamento previsto”, disse nitidamente orgulhoso, completando “O rollout abre caminho para o início dos testes em solo como preparação para o primeiro voo”, que segundo ele, será realizado até o final de 2014.
Para o Ministro da Defesa, “Além das missões de transporte de tropa e reabastecimento em voo, será um avião que também vai estar presente em ações de defesa civil “, ressaltou Celso Amorim.
“O KC-390 será a espinha dorsal da aviação de transporte da FAB. Ele poderá operar tanto na Amazônia quanto na Antártica. As turbinas a jato conferem bastante agilidade à aeronave, que cumprirá todas as missões, mas muito mais rápido e melhor”, afirmou o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Juniti Saito.
Logo após as formalidades, foi liberado ao público presente, e a imprensa, o acesso externo a aeronave. Em uma rápido momento em que conseguimos falar com o Brig. Saito, antes que o DAN fizesse alguma pergunta, fomos surpreendidos com: “O que você achou do KC-390?”. A nossa resposta não poderia ser outra: “Fantástico! Orgulho dele ser nosso, orgulho dele ser brasileiro!”.
“O KC-390 representa para a Força Aérea Brasileira e para a indústria nacional o ápice, o coroamento da nossa capacidade de emitir requisitos e principalmente a capacidade da nossa indústria nacional de desenvolver um produto aeroespacial de última geração”, ressaltou o Brigadeiro do Ar José Augusto Crepaldi Affonso, Presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), responsável pela condução do projeto.
Após o evento, a aeronave vai continuar com as avaliações iniciais de sistemas que culminarão com o primeiro acionamento do motor e, em seguida, os testes de vibração em solo e demais ensaios planejados. Este avião é o primeiro de dois protótipos que serão usados nas campanhas de desenvolvimento, testes de solo, testes de voo e certificação.
Coletiva de Imprensa
A coletiva de imprensa foi bastante concorrida, como era de se esperar, com a presença de diversos meios de comunicações do mundo presentes, e todos tinham muitas curiosidades sobre a nova sensação da Embraer.
O presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança Jackson Schneider, junto com o diretor do programa KC-390, o engº Paulo Gastão Silva, atenderam aos repórteres, esclarecendo dentro do possível, todas as dúvidas.
Dando início à coletiva, o presidente e CEO da Embraer saudou a todos os presentes, dizendo que este era um dia muito especial para a família Embraer, para o Brasil e para todas as empresas que direta ou indiretamente, participaram do projeto, para que hoje o KC-390 fosse apresentado pela primeira vez. “Esse avião traz para o mercado, sem dúvida alguma, uma nova concepção no cumprimento de missão. Ele representa um passo importante para a história da Embraer, atualmente a 3ª maior produtora de aviões no mundo”.
“Para nós, é um prazer muito grande mostrar o avião para vocês e foi com o esforço de milhares de pessoas, trabalhando pelo mundo afora, que isso foi possível. Eles são os vitoriosos pelo avião estar no estágio em que está. A Embraer leva muito a sério a participação das pessoas naquilo que fazemos, nós acreditamos que o conhecimento está na cabeça das pessoas e é isso que faz a diferença. Vou repetir uma frase que falei a eles: Nós temos orgulho do que somos e como somos!”, sinalizando que a Embraer está confiante na boa receptividade do KC-390.
O diretor do programa KC-390 fez uma apresentação da aeronave, destacando os suas características mais importantes, como a sua mobilidade, capacidade de transportar até 26 toneladas, ou 7 pallets padrão de 108 por 88 que o mercado militar utiliza normalmente. A robustez da aeronave foi outro ponto destacado pela capacidade de operar em pistas não pavimentadas, pistas destruídas em combate, podendo operar em todo o teatro amazônico, em áreas desérticas e na Antártica, operando em qualquer cenário que o operador precise. A aeronave pode ser reconfigurada rapidamente a partir de uma aeronave base e assim realizar diversos tipos de missões, podendo voar à 36 mil pés a 470 nós de velocidade de cruzeiro, realizar reabastecimento em voo, tanto de aviões quanto de helicópteros, proporcionado pela capacidade do KC-390 de voar em altas altitudes com alta velocidade quanto em baixas altitudes com baixa velocidade.
Com a utilização de equipamentos de segurança de vôo no estado-da-arte, como o comando de voo ‘fly by wire’, os limites da aeronave nunca serão excedidos, pois ela conta com equipamentos de última geração, além de um software totalmente integrado e desenvolvido pela Embraer, reduzindo a carga de trabalho dos pilotos, sendo a primeira aeronave da Embraer a usar os ‘active side sitcks’ (manches laterias).
O KC-390 poderá ainda lançar paraquedistas, combater incêndios florestais, realizar evacuação aeroamédica tendo capacidade para 74 macas padrão OTAN mais o pessoal médico, transportar um helicóptero das dimensões de um Blackhawk , 3 veículos do tipo Humvee ou um blindado tipo LAV-25. O full glass cockpit é totalmente compatível com o uso de óculos de visão noturna (OVN).
O KC-390 possui um sistema completo de auto-proteção como, blindagem balística, estrutura tolerante a dano, sistema de inertização dos tanques de combustíveis, para evitar explosões em caso de impacto, e um sistema completo de detecção e contra medidas de ameaças em ambiente hostil.
Para a realização do primeiro voo, é necessário seguir com o cronograma, dando os últimos retoques nos sistemas instalados no avião, seguir os procedimento de testes dos sistemas integrados, onde todos os equipamentos estarão “conversando uns com os outros”, realizar a campanha de vibração no solo, que é um ensaio padrão feito na Embraer antes da aeronave seguir para voo, e a inspeção da autoridade certificadora, para liberar o protótipo para o voo inaugural até o final deste ano.
O DAN questionou quanto a existência de algum tipo de restrição para operações em pistas não pavimentadas, por causa da possibilidade de ingestão de FOD, e sobre os sensores instalados logo abaixo do para-brisa da aeronave.
O engenheiro Paulo Gastão respondeu que, normalmente, se diferencia a pista não pavimentada da não preparada, porque a norma define a não preparada como uma pista com muitas irregularidades, mesmo que ela não tenha objetos soltos, que podem ser ingeridos pelo motor. “No caso das pistas contaminadas, nós temos uma proteção muito boa, como a altura dos motores em relação ao solo (mais de 2 metros). Depois, fizemos um estudo para ter certeza de que as entradas de ar ficassem longe da trajetória dos detritos das rodas do trem dianteiro e pela própria construção do motor ‘turbo fan’, onde a maior parte do fluxo que entra pela entrada de ar, na verdade não atravessa o interior do motor, ou seja, nós temos um bom grau de proteção contra ingestão do motor no KC-390 e estamos bastante confiantes neste aspecto”.
Quanto aos sensores mencionados, Paulo Gastão informou que são equipamentos de ‘enhanced vision’, que visam aumentar a capacidade do avião em operar em condições atmosféricas marginais, ou condições ruins de tempo. “São sensores que fazem a imagem, tanto na faixa visual quanto na faixa termal de infra vermelho, compondo e projetando essa imagem para os pilotos no HUD (Head-Up Display), de modo que os pilotos consigam operar com uma visibilidade muito maior do que teriam na faixa visual. Esses equipamentos são produzidos pela AEL sistemas em Porto Alegre.”
O engenheiro Paulo Gastão informou que o segundo protótipo já está em construção e que a campanha de certificação do KC-390 se dará com os dois protótipos, sendo que o segundo voará na sequência do primeiro. A campanha levará cerca de 2 anos, com ensaios de desenvolvimento para certificação, que no KC-390 é uma certificação dupla, a da civil e a militar, já com o avião completo.
Jackson Schneider informou também que as primeiras entregas para a Força Aérea Brasileira deverão ocorrer em 2016, finalizando em 2023 com a entrega da 28ª aeronave. Sobre a geração de empregos, ele disse que hoje são 55 empresas engajadas, só na Embraer são 1.500 diretos e 7.500 indiretos.
Perguntado sobre o custo da aeronave, ele disse que neste tipo de produto é difícil afirmar quanto ele vai custar, uma vez que vai depender da configuração desejada pelo cliente, mas afirmou que ele será muito competitivo.
Hoje a Embraer possui 32 “cartas de intenções” para o KC-390, além das 28 já contratadas pela FAB, e a presença dos representantes desses países demonstra o grande interesse pela inovadora aeronave brasileira.
NOTA do EDITOR: O DAN agradece a atenção dispensada pela Sra. Rosana Dias (Diretora de Comunicação Externa da Embraer), Srs. Valtécio Alencar, Marcio de Meo e Nicolás Morell Gonzalez.