Por Luiz Padilha e Guilherme Wiltgen
O Programa de Modernização dos caças AF-1/1A
Em 14 de abril de 2009, durante a LAAD – Latin America Aero & Defense, realizada no Rio de Janeiro, foi assinado o contrato para o Programa de Modernização dos caças AF-1/1A da Marinha do Brasil com a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. – EMBRAER.
No contrato (com duração aproximada de 5 anos), a Embraer irá modernizar 12 caças da Marinha, sendo 9 AF-1 (monoplace) e 3 AF-1A (biplace). O objetivo desta modernização é a atualização destes caças devido a defasagem de aviônicos e sensores com relação aos caças modernos existentes hoje em dia e assim estender sua vida operacional até 2028, quando o NAe São Paulo tem sua baixa prevista.
Ainda no mesmo ano, a Marinha aprovou a inclusão de melhorias no programa, aumentando ainda mais as capacidades dos novos caças, doravante chamados AF-1B/C.
A Marinha enviou para a unidade da Embraer em Gavião Peixoto, São Paulo, seus dois primeiros caças AF-1 (1014 e 1023) para iniciar o programa. Porém, o caça AF-1 – 1011, enviado depois, foi o escolhido para ser o protótipo do Programa de Modernização.
É importante salientar, que no programa existem 2 linhas de atuação:
Modernização e Manutenção
Cabe à Embraer, realizar a modernização das células, aviônicos, sensores e overhall dos 12 motores.
À Marinha, cabe efetuar a manutenção/atualização dos itens não modernizados, como por exemplo, o trem de pouso e os sistemas hidráulicos.
A Marinha do Brasil fechou um acordo com a marinha americana para a modernização das aeronaves AF-1/1A, por meio de disponibilização de publicações e assistência técnica de engenharia.
A modernização dos caças consiste em:
*Revisão Geral das aeronaves (PMGA) *Revisão Geral dos motores (IAI em Israel) *Novo radar (Elta 2032) *Novo HUD (Head Up Display);
*Dois displays táticos 5”x7”, Color Multi-Function Display (CMFD) *HOTAS (Hand On Throttle and Stick;
*Computador principal que executará todo cálculo de navegação e balístico, para o piloto poder empregar os armamentos (bombas, metralhadora e demais mísseis de curto e médio alcance existentes nos inventários da FAB e MB) *Novo sistema de geração de energia, com a substituição dos atuais geradores e conversores;
*Sistema OBOGS (On Board Oxygen Generation System), que gerará o oxigênio proveniente da atmosfera para os tripulantes, sem a necessidade de abastecimento das atuais garrafas de oxigênio;
*Novos rádios Rohde & Schwarz M3AR, que possuem comunalidade com os das aeronaves da FAB, para realizar, automaticamente, comunicação criptografada e que permitirão no futuro a transmissão de dados via data-link *Instalação do Radar Warning Receiver (RWR);
*Instalação do 3º Rádio VHF, capaz de realizar transmissão de dados via data-link, enquanto a aeronave permanece com a escuta dos órgãos ATC (Air Traffic Controler);
*Revitalização do Piloto Automático *Integração do Radar Altímetro e do TACAN *Sistema inercial (EGI) de última geração *Integração dos instrumentos do motor e
*Instalação de Estações de briefing e debriefing, possibilitando ao piloto condições de preparar melhor a missão, garantindo assim um maior aproveitamento, economia de utilização dos aviônicos, melhor disposição das informações geradas em vôo para treinamento das equipagens e avaliação das missões.
* Envio dos motores Pratt & Whitney J52-P-408 para a empresa IAI em Israel, onde passam por uma revisão completa (overhal), retornando como novos.
DAN na Embraer-Gavião Peixoto
Em 2013 ocorreu o “roll out” do protótipo AF-1B – 1011. O caça voou pela primeira vez a partir da unidade da Embraer em Gavião Peixoto. Apesar do mesmo ainda não estar completo foi possível iniciar a fase de vôos de ensaios, onde os sistemas já instalados vão sendo analisados.
Passados 4 anos desde a assinatura do contrato, o Defesa Aérea & Naval – DAN, solicitou junto à Marinha e a Embraer, uma visita a Gavião Peixoto com a finalidade de trazer aos nossos leitores o status atual do Programa de Modernização do AF-1.
Ao chegarmos na Embraer de Gavião Peixoto, um detalhe que salta aos olhos é sua gigantesca estrutura e a bela visão de um A-29 nas cores da Esquadrilha da Fumaça bem na entrada. Nesta unidade, ainda este ano, ocorrerá o primeiro vôo do protótipo do KC-390, o novo cargueiro da FAB.
Fomos recebidos pelo Gerente do Programa de Modernização do AF-1, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Fonseca Jr, por seu sucessor, o Capitão-de-Fragata Fabrício e pelo representante da Embraer no programa, o engenheiro Nelson Jabour, que nos acompanharam até o prédio onde se desenvolve o programa.
Após uma breve apresentação, feita pelo representante da área de comunicações da Embraer Defesa e Segurança, Sr. Valtécio Alencar, nos dirigimos para o hangar onde estavam as aeronaves da Marinha do Brasil.
Foi possível observar 6 caças AF-1/A (1001 – 1008 – 1011 – 1014 – 1022 – 1023), no hangar onde está sendo executada a modernização. O protótipo monoplace AF-1B – 1011 está realizando os vôos de ensaio com pilotos de testes da Embraer e com o piloto de testes da Marinha do Brasil acompanhando toda a evolução do Programa.
A nosso pedido, o protótipo foi energizado (não havia vôo programado naquele dia), e foi possível ver o novo painel aceso, com todas as páginas disponíveis. Infelizmente, por questões de regulamentação (International Traffic in Arms Regulations (ITAR), não foi possível fotografar alguns itens que compõem a modernização.
Abaixo, as páginas do novo display do painel do AF-1 Modernizado
Mas foi possível ver os novos equipamentos de refrigeração para os sistemas eletrônicos sendo instalados, observar o esmero na recuperação das células que lá se encontram, descobrir onde serão instalados os RWR no nariz do caça, o local onde serão instalados os dispensers de Chaff-Flare, enfim, ter a certeza que a modernização caminha a passos largos, com a previsão de entrega da primeira aeronave ao esquadrão VF-1 (AF-1B – 1001) já em 2014.
Os caças quando chegam a Embraer, são desmontados e submetidos a rigorosa inspeção, com um trabalho minucioso e profundo de revitalização das células. Para a instalação de alguns equipamentos foram necessárias algumas mudanças estruturais, para melhor adequação dos mesmos, mas sempre mantendo o CG da aeronave, não alterando as características de vôo do caça.
O primeiro protótipo da versão bi-place, AF-1C, será o 1022, que já está sendo preparado para receber os novos aviônicos e os novos sensores. Por possuir 2 cockpits, verificamos algumas diferenças no sistema de refrigeração dos sensores no nariz do caça.
O protótipo do AF-1C-1022 realizará os mesmos ensaios feitos pelo AF-1B – 1011, e uma vez aprovado, o AF-1C – 1023 será montado e entregue ao esquadrão VF-1.
RADAR
O radar escolhido pela Marinha para equipar os caças AF-1B/C é o IAI ELTA ELM-2032. Por ser um radar multifunção, com alcance estimado de 120 km no modo ar-ar, ele permite a realização de variados tipos de missões, como intercepção com mísseis ar-ar de curto alcance ou BVR (Beyond Visual Range ou além do alcance visual).
No modo marítimo, em missões de ataque naval, o alcance estimado de 250 milhas confere ao piloto a capacidade de identificar alvos, determinar distâncias e lançar mísseis anti-navio com segurança.
O radar IAI Elta- 2032, também pode ser usado em missões de ataque ao solo, utilizando armas inteligentes.
ARMAMENTO
Atualmente a Marinha possui apenas os mísseis Sidewinder AIM-9H recebidos quando da aquisição dos 23 caças junto ao Kuwait. A Marinha está estudando qual será o novo míssil a ser utilizado nos caças AF-1B/C.
O escolhido poderá ser o Sidewinder AIM-9X Block I, o MAA-1B Piranha ou o A-Darter, que a FAB está desenvolvendo com a DENEL da África do Sul.
Já a versão BVR ainda é uma incógnita, mas o radar permite a integração do míssil Derby, já utilizado pela FAB.
Para a guerra ASuW (Anti-surface warfare), a opção natural seria pelo míssil anti-navio americano AGM-84 Harpoon, pois o mesmo já foi testado no modelo pela US Navy. Outra possibilidade seria o AM 39, míssil de origem francesa no qual a MB possui larga experiência, tendo sido utilizado pelo esquadrão HS-1 nos antigos helicópteros SH-3 Sea King.
Com o desenvolvimento do míssil anti-navio nacional MAN-1 (superfície-superfície) pela Marinha, em parceria com a Mectron, Avibrás e a MBDA, evoluindo rapidamente, a variante ar-superfície em breve deverá ser uma realidade. O que pesa, neste caso, é o prazo para a entrada em serviço da versão nacional.
Para a utilização de bombas inteligentes como o Lizard ou Spice, será necessário que a Marinha adquira sistemas de guiagem modernos.
Manutenção
À Marinha do Brasil cabe a manutenção-atualização das partes em que não existe a opção de modernizar.
Como por exemplo, temos o trem de pouso principal que é fundamental para suportar o pouso embarcado, e está sendo remanufaturado pela empresa norte americana UAC, que fica em Los Angeles-CA.
A empresa possui expertise na manutenção-remanufatura de vários equipamentos do A-4 e está pronta para trabalhar em conjunto com a MB para o sucesso deste Programa.
A Marinha ainda não definiu se irá trocar a turbina de partida (JSF) por outra pneumática. Para os demais sistemas, a Marinha está, junto com a Embraer, capacitando empresas nacionais para dar suporte logístico e manter os caças em operação.
Quando todos os caças AF-1B/C estiverem prontos, a Marinha do Brasil terá um caça no estado da arte em aviônica e sistemas embarcados, aumentando sobremaneira a operacionalidade da Aviação Naval da Marinha, sem dúvida um salto gigantesco de qualidade no emprego em operações aeronavais e aéreas e, no futuro, em operações internacionais.
Com o Programa caminhando a passos largos, resta torcer pelo retorno ao setor operativo do NAe São Paulo (A 12), para que os objetivos traçados, possam ser colocados em prática.
Relação dos caças AF-1, seus respectivos Construction Number e status (1):
CN 160180 – Falcão 1001 – Em modernização na Embraer
CN 160181 – Falcão 1002 – *
CN 160183 – Falcão 1003 – Monumento na Base Aeronaval de São Pedro D’Aldeia
CN 160186 – Falcão 1004 – Ativo no Esquadrão VF-1
CN 160188 – Falcão 1005 – Aguardando envio para a Embraer
CN 160189 – Falcão 1006 – *
CN 160190 – Falcão 1007 – *
CN 160192 – Falcão 1008 – Em modernização na Embraer
CN 160193 – Falcão 1009 – Aguardando envio para a Embraer
CN 160195 – Falcão 1010 – Embarcado no NAe SãoPaulo como mock-up
CN 160196 – Falcão 1011 – Em modernização na Embraer
CN 160197 – Falcão 1012 – Aguardando envio para a Embraer
CN 160198 – Falcão 1013 – Ativo no Esquadrão VF-1
CN 160199 – Falcão 1014 – Em modernização na Embraer
CN 160201 – Falcão 1015 – *
CN 160202 – Falcão 1016 – *
CN 160203 – Falcão 1017 – *
CN 160204 – Falcão 1018 – Aguardando envio para a Embraer
CN 160205 – Falcão 1019 – *
CN 160206 – Falcão 1020 – *
CN 160212 – Falcão 1021 – Ativo no Esquadrão VF-1
CN 160213 – Falcão 1022 – Em modernização na Embraer
CN 160215 – Falcão 1023 – Em modernização na Embraer
* Células aguardando definição
(1) – Fonte: http://a4skyhawk.org/2e/brazil/brazil-vf1.htm
* Nossos agradecimentos à Embraer Defesa e Segurança, pela acolhida na unidade Gavião Peixoto e a equipe da Embraer no Programa que atendeu a todos os nossos pedidos.