Por Luiz Padilha
Com a chegada do prático inglês a bordo, e com o posicionamento dos rebocadores junto ao navio, o comandante do PHM Atlântico, CMG Giovani Corrêa deu a ordem para iniciar a desatracação.
Após embarcar sua última Landing Craft Vehicle Personnel (LCVP MK5B), os rebocadores iniciaram a manobra, e o navio deixou o cais lentamente seguindo as marcações do canal, que segundo o comandante Giovani, é um dos mais desafiadores que há, com curvas onde o navio passou muito perto de terra.
Já foi amplamente divulgado na mídia que os ingleses não desejavam a venda do HMS Ocean, hoje o nosso PHM Atlântico, pois o navio além de ser o capitânea da Royal Navy, era um orgulho para os cidadãos da cidade de Plymouth, ter o “Might O” sediado na Her Majesty Naval Base de Devonport.
Acredito que tenha sido este sentimento que levou vários ingleses a seguir o navio durante sua travessia pelo canal, estendendo o pavilhão da Royal Navy, fotografando e dando adeus ao ex-HMS Ocean. Na minha opinião e acredito que para a tripulação do navio também, essa atitude é a prova de que a Marinha acertou em cheio quando optou pela aquisição do navio.
Após a passagem pelo farol e o desembarque do prático, o navio está totalmente sob o controle do CMG Giovani, que determina o curso a ser seguido pelo navio com destino a cidade de Lisboa.
O Centro de Operações de Combate do PHM Atlântico
Quando o DAN esteve a bordo antes do navio sair para o FOST “Flag Officer Sea Training”, fotografamos o Centro de Operações de Combate – COC, com o navio atracado, ou seja, sem estar operando. Agora, como navio em trânsito, nos foi permitido o acesso para ver como é o funcionamento dele, com seus monitores ligados e o pessoal guarnecendo suas posições.
Como o CMG Giovani informou em sua entrevista ao DAN (Leia aqui), o sistema de combate do navio é o DNA LPX, que após sua conversão para a Marinha do Brasil será denominado LPH CMS.
A rotina a bordo
Durante a viagem todo o Depto. de Aviação treina diariamente sem parar, executando os procedimentos de Operações Aéreas específicos do navio, com base na doutrina da MB, com ênfase no recebimento e lançamento das aeronaves e na parte de “crash no convoo” onde a sintonia entre os membros do departamento é fundamental para, em caso de acidente, o resgate dos tripulantes e se for o caso, o combate ao incêndio precisam ser imediatos.
Com reuniões diárias na parte da manhã e a tarde que antecedem o treinamento no convoo, o Depto. de Aviação comandado pelo CF Átrio ao chegar no Brasil estará 100% apto para a realização da VSA Dinâmica. Abaixo a equipe treina para uma situação de “crash no convoo”, onde uma parte está pronta para combater o incêndio e depois a retirada da tripulação caso esteja presa na aeronave.
O Hangar do navio pode ser dividido em 3 áreas, e é bastante amplo, conferindo ao navio navio inúmeras possibilidades de configuração, dependendo do perfil da missão onde o navio for empregado.
O Departamento de Administração
O PHM Atlântico na Marinha do Brasil, assim como o NAe São Paulo e o NDM Bahia, possui um Departamento de Administração para poder cuidar dos inúmeros detalhes que abrangem um navio deste porte, como serviço de hotelaria, conforto, pessoal, ou seja, a estrutura organizacional do navio é muito importante e ela apoia os outros departamentos.
Perguntado sobre qual a maior dificuldade que ele encontrou devido ao tamanho do navio e o número de tripulantes, o CF Silva Maciel disse que as dificuldades que houveram, devido as proporções do navio, foram minimizadas pela capacitação do pessoal selecionado para seu departamento, que se adaptaram rapidamente a vida a bordo, assimilando o funcionamento dos equipamentos e fazendo com que a rotina administrativa do navio funcionasse perfeitamente, apoiando os demais departamentos, atingindo assim seu objetivo.
O Departamento de Administração é composto pelo Grupo de Intendência e pela Divisão de Pessoal e Serviços Gerais.
A Divisão de Pessoal e Serviços Gerais é responsabilidade do Capitão Tenente Vinicius Abrantes Perdizio, e abrange uma grande gama de atividades para apoiar os outros departamentos e todo o pessoal do navio, objetivando sempre dar suporte total aos tripulantes para que possam desempenhar suas funções com tranquilidade.
O CT Abrantes explicou que a secretaria do navio cuida da elaboração de documentos oficiais do navio e dos tripulantes, cuidando assim de suas carreiras enquanto eles estiverem embarcados.
Atualmente o Departamento Administrativo conta com 69 militares, e após a chegada ao Brasil, passará a ter uma dotação de 87 militares.
Por dentro do PHM Atlântico
O navio possui diferentes tipos de camarotes, todos muito confortáveis que acomodam de 2 a 6 militares como podem ser vistos abaixo.
A cozinha possui equipamentos muito similares aos usados em outros navios da MB, não sendo problema para nossos cozinheiros se adaptarem e passarem a alimentar todos os 330 tripulantes da primeira tripulação.
A lavanderia do navio com suas 8 novas máquinas de lavar e centrifugas, permitem ao CheADM proporcionar o máximo de conforto para a tripulação do navio. Já na área logística, o navio possui um amplo paiol, onde todos os mantimentos são devidamente armazenados como pode ser visto na foto abaixo.
O rancho no navio é dimensionado para uma tripulação de 439 militares, que era a tripulação do navio quando pertencia a Royal Navy.
Treinamentos a bordo do PHM Atlântico
Seus amplos corredores, facilitam aos tripulantes uma circulação rápida o que em caso de uma emergência, é fundamental, como pude observar durante um dos muitos exercícios de incêndio à bordo, o pessoal do Controle de Avarias – CAV, rapidamente chegou ao local do “incêndio” e iniciou o combate ao fogo.
Quando o incêndio é identificado, cabe ao militar próximo, iniciar o combate as chamas, porém, caso ele não consiga debelar as chamas, outros militares com outros equipamentos chegam para rendê-lo com roupas apropriadas para um combate de maior escala.
Durante o FOST a tripulação treinou exaustivamente e durante a viagem até o Brasil, não será diferente, pois a busca pela excelência passa pelo treinamento árduo ao qual eles são submetidos.
Departamento de Saúde do PHM Atlântico
Nesta oportunidade o DAN pode realizar uma rápida entrevista com a Chefe do Departamento de Saúde, a Capitão de Corveta (CD), Marcia Freitas, onde ela nos apresentou sua equipe composta por 1 Encarregado da Divisão de Medicina (CT (Md) Reis), 1 Encarregado da Divisão de Odontologia (1Ten (CD) Cury), 1 enfermeiro supervisor (1SG-EF Giovanne) e 2 enfermeiros auxiliares (3SG-EF Tertuliano e CB-EF Maycon).
DAN – Que tipo de atendimento o Depto. está preparado para realizar?
CC Marcia Freitas – Atendimentos, médicos e odontológicos, de urgência e emergência e ambulatoriais odontológicos.
DAN – No caso de uma emergência de grande porte, quantas pessoas a equipe do Depto. pode atender?
CC Marcia Freitas – No caso de acidentes de múltiplas vítimas será realizada uma triagem na qual é definida a prioridade conforme a gravidade. O número atendimentos possíveis dependerá da gravidade das lesões e do número de médicos disponíveis no navio, o que pode variar de acordo com a missão designada.
DAN – O Depto. está preparado para atender feridos com queimaduras?
CC Marcia Freitas – Sim.
DAN – Durante o FOST, o Depto. foi acionado? Houve alguma ocorrência real?
CC Marcia Freitas – O Departamento de Saúde foi acionado algumas vezes mas nenhum caso com gravidade, e recebeu o grau “SAFE” para funcionamento. Além disso, ocorreram casos reais, como o caso de um paciente com hipoglicemia, o qual foi atendido prontamente e após a estabilização foi removido para sala de trauma, recebendo os cuidados necessários e se recuperando plenamente.
DAN – Qual o tipo de ocorrência mais comum aparece no seu Depto.?
CC Marcia Freitas – Na área médica, são as infecções de vias aéreas superiores. Já na área odontológica, são as fraturas dentárias coronárias.
DAN – A estrutura atual pode ser considerada suficiente?
CC Marcia Freitas – Sim. A estrutura de saúde é considerada suficiente para a chegada do navio ao Brasil.
DAN – Em sua opinião, ela pode ser melhorada? Se sim, poderia falar a respeito?
CC Marcia Freitas – De acordo com a missão designada a estrutura de saúde pode ser complementada com pessoal e material.
A Capela do PHM Atlântico
O navio possui uma Capela que é organizada pelo capelão do navio, o Capitão Tenente, Reynaldo Segundo. O navio recebeu de presente uma imagem de Cristo talhada em madeira de lei, do Monsenhor (Mons.) Andrew McFadden, Diretor para assuntos da Igreja Católica da Marinha Real e Vigário Geral da Arquidiocese Militar do Reino Unido (Bishopric of the Forces), mas que ainda não tinha sido colocada na capela.