DAN visita a fábrica da Airbus em Donauwörth-Alemanha

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Torre de controle do Heliporto da Airbus em Donauwörth-Alemanha

Por Luiz Padilha

A Airbus Helicopters enviou ao Brasil em 2015, o helicóptero H145 para uma série de demonstrações, passando uma semana na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia para uma avaliação conduzida pela Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), apoiada pelo Comando da Força Aeronaval, porém, a aeronave avaliada era a versão civil.

Por esta razão, o DAN foi até a pequena cidade de Donauwörth, onde fica localizada a fábrica da Airbus Helicopters na Alemanha. Nesta fábrica são produzidos os modelos H135 e H145, nas versões civil e militar. Nosso interesse é no H145M, a versão militar do H145 que foi avaliado no Brasil e ver as diferenças entre os modelos.

Linha de voo da Airbus Helicopters em Donauwörth-Alemanha

Ao chegar a fábrica tenho uma surpresa, me deparando com um CH-53G do Heeresgeflieger pousando no heliporto da fábrica para manutenção. A Airbus em Donauwörth, além de fabricar aeronaves também executa a manutenção em alguns tipos de aeronaves do Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha), e em seus spots, podemos ver tanto as aeronaves novas quanto as que estão em manutenção.

Sikorsky CH-53G pousando

     

Após me refazer da surpresa, sou recebido pelo Sr. Amaury Bastos, chefe de protocolo da Airbus em Donauwörth, que me assessorou durante a visita. Antes porém, conversei com o Sr. Christian Fanchini, responsável pelo Marketing das versões militares e com o Sr.Peter Soller, engenheiro sênior que me acompanhou e tirou muitas dúvidas sobre a produção das aeronaves.

Antes de iniciar a visitação, mais uma surpresa, desta vez com um Tiger UHT pousando. Confesso que para iniciar a visita à linha de montagem das aeronaves, a “degustação” não poderia ter sido melhor.

Tiger UHT pousando

A linha de montagem do H135 

Como na fábrica francesa em Marignane-França, a organização e coordenação durante as etapas de fabricação impressionam. Outro detalhe interessante foi o silêncio dentro da fábrica. Os funcionários trabalham na fabricação das aeronaves focados na busca da qualidade do produto final.

As linhas de montagem das aeronaves H135 e H145 (civis e militares), estão lado a lado e nossa visita se inicia pela linha de montagem do H135.

Os primeiros H135 a serem fabricados com a moderna suíte aviônica Helionix

Todo o processo de fabricação se inicia na montagem das células que são feitas na maioria com materiais compostos e fibra de carbono. Mais de 50% da aeronave é feita de “compósito”, o que lhe confere menos peso e maior eficiência de desempenho, gerando um custo operacional muito menor para os operadores.

A medida em que as partes das células vão sendo instaladas, os funcionários vão fazendo o cabeamento, preparando a aeronave para receber os equipamentos elétricos e esse cabeamento é testado em uma estação específica para isso desenvolvida pela Airbus. Nesta estação, todos os terminais elétricos são testados e a aeronave fica com um emaranhado de fios em seu interior. Após os testes a célula segue para outra estação onde receberá o cone de cauda com o rotor Fenestron e as turbinas Turbomeca Arrius 2B2 ou Pratt & Whitney PW206B3.

Para a versão H135M, a aeronave é equipada com sensores infravermelhos (IR)/Televisão (TV), detector e  designador a laser, proteção balística, tanques de combustível auto-selante, cabides para armamentos, como metralhadora 12,7 mm, foguetes de 70 mm ou mísseis Hellfire, sistemas de navegação e comunicação militares e um sistema de auto-proteção composto de Chaffs e Flares, não havendo diferença estrutural entre as versões civil e militar, apenas reforços estruturais na região de fixação dos cabides para armamentos.

A linha de montagem do H145

A linha de montagem do H145 segue os mesmos passos de produção do H135, e nela tive a oportunidade de conferir mais detalhes como a instalação da suíte de aviônicos Helionix e suas turbinas Turbomeca Arriel 2E.

Funcionários montando mais um H145

  

A versão militar do H145M, pode ser equipada com sensores infravermelhos (IR)/Televisão (TV), detector e designador a laser, proteção balística, tanques de combustível auto-selante, cabides para armamentos, como metralhadora 12,7 mm, foguetes de 70 mm ou mísseis Hellfire, sistemas de navegação e comunicação militares e um sistema de auto-proteção composto de Chaffs e Flares, permitindo ao H145M lidar com todos os tipos de cenários operacionais de ataque leve e de conflitos convencionais à assimétricos.

H145M da Luftwaffe

Durante minha visita à fábrica, apesar da chuva, consegui fotografar um H145M da Luftwaffe que estava decolando, sendo possível observar as diferenças externas entre as versões civil e militar.

H145M da Luftwaffe decolando

Em 2006 o Exército dos Estados Unidos (US Army), selecionou a versão do H145 (na época EC145), para ser seu helicóptero utilitário leve em um contrato de US$ 3 bilhões, com o fornecimento e manutenção de 350 aeronaves com opção para aeronaves adicionais.

H145 Lakota

No exército americano o então EC145 foi designado como UH-72A Lakota, e os americanos gostaram tanto da aeronave, que estão muito interessados em encomendar mais.

A Marinha do Brasil atualmente estuda qual aeronave irá substituir seus Esquilos no Esquadrão HU-1 e tanto o H135, quanto o H145 foram analisados, inclusive a versão Lakota, que não utiliza o rotor com Fenestron. A versão UH-72A Lakota possui um custo de aquisição menor, porém, a aeronave em que pese suas qualidades, não possui a suíte de aviônicos Helionix, por esta razão, não possuindo Fadec (Full Authority Digital Engine), que controla todas as funções do motor eletronicamente, além de ter outra motorização, no caso, duas turbinas Turbomeca Arriel 1E2.

Ainda não se tem notícia de qual aeronave a DAerM irá escolher, mas certamente todas as versões do H145, poderão substituir com folga os Esquilos atuais, que devido a idade avançada, precisam ser substituídos, porém, para atender o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), a aeronave ideal é o H145 equipado com o sistema Helionix, que através do Fadec proverá o gerenciamento total dos motores, que para operações aéreas embarcadas em ambientes inóspitos como os enfrentados na Antártida, é crucial.

Infelizmente, por se tratar de uma área industrial onde o sigilo é vital, não foi possível registrar na fábrica o local onde são feitas as partes em compósito das aeronaves, mas isso não impede de relatar a forma como as peças são feitas.

Existem diversos moldes de ligas especiais com as formas estruturais que compõem a célula das aeronaves. Essas formas recebem os materiais como fibra de carbono em camadas e depois são levadas para um dos quatro fornos Auto-Clave que literalmente, “cozinha” as peças, conferindo-lhes a resistência necessária para a construção da célula 100% de materiais compostos. Durante a visita foi possível ver a fabricação das portas do novíssimo Airbus A350, que também são de materiais compostos.

No caminho para conhecer o Centro de Treinamento da fábrica, passamos pela linha de montagem do NH90, e me surpreendo ao verificar que apesar de seu peso máximo de decolagem (10.600 Kg), o NH90 é praticamente 100% feito com materiais compostos. As imagens da linha de montagem do NH90 não foram permitidas, porém, o Sr. Gregor von Kursell da comunicação externa, me enviou fotos onde aparece o aparelho que faz a união das partes fabricadas na Alemanha, França, Espanha, Itália e Holanda, unindo-as e formando a célula da aeronave, como pode ser visto nas imagens abaixo.

Antes de chegar ao Training Academy uma última surpresa, um Sea King da Deutsche Marine taxiando para realizar um voo de testes. Precisei parar para fotografa-lo e admirar o “Rei do Mar” decolando suavemente. Ter todas essas aeronaves voando no mesmo dia foi um privilégio, segundo me informaram.

Airbus Training Academy

Após conhecer as linhas de montagem, sigo para conhecer o Training Academy que faz parte do Airbus Helicopters Training Services (AHTS). Lá são ministrados cursos para mecânicos e pilotos. No primeiro piso, temos as salas de aula e ao lado das mesmas, motores, partes mecânicas e aeronaves completas à disposição dos alunos, para porem em prática o que aprenderam nas salas de aula.

Os alunos recebem as aulas teóricas e depois, junto com os instrutores, executar o que aprenderam fisicamente, tanto nas aeronaves quanto nos componentes estudados (Fenestron, Turbinas, Main Gearbox dentre outros).

Os alunos do Training Academy que fazem o curso de certificação de aeronaves H135 e H145, tem a disposição modernos simuladores de voo, onde podem após passarem pelas salas de aula, pôr em prática o que aprenderam.

Simulador do H145 da Indra

Mas os simuladores não são apenas para futuros pilotos, eles também servem aos pilotos civis e militares que precisam manter sua proficiência de voo à um custo menor. Nas imagens abaixo, o interior do simulador do H145 com a moderna suíte aviônica Helionix.

Suíte de aviônicos Helionix

A suíte de aviônicos Helionix é um sistema totalmente integrado, reduzindo pela metade a quantidade de equipamento necessária, possibilitando uma manutenção mais fácil com redução de peso significativa. O sistema tem a função de manutenção centralizada, monitorando o status de todos os sub-sistemas do helicóptero. As atividades de manutenção são totalmente otimizadas e a solução de problemas pode ser rapidamente realizada por meio de uma ferramenta de diagnóstico baseado em terra.

Ao fim da visita, me despedindo desta fábrica incrível, não podia ir embora sem o registro do MBB Bo-105 espetado na porta principal da fábrica de Donauwörth, precursor dos H135 e H145. 

Editor do DAN na entrada da fábrica da Airbus em Donauwörth

O DAN gostaria de agradecer ao Sr. Richard Marelli (presidente da Helibras), à Sra Elaine Watoniki (gerente de comunicação da Helibras) e aos representantes da Airbus Helicopters Alemanha mencionados no texto, por todo o apoio para a realização deste artigo, em um dia realmente, inesquecível! 

Veja o artigo da viagem ao Brasil do H145 aqui no DAN, clicando na imagem abaixo.

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