Por Guilherme Wiltgen
O objetivo do encontro foi aproximar a Marinha do Brasil da imprensa em geral, colocando de forma clara e transparente, que a instituição está de portas abertas aos jornalistas e aos veículos de imprensa.
A parte inicial foi realizada pelo Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), Contra-Almirante Flávio Augusto Viana Rocha, que fez uma ampla explanação sobre a Marinha do Brasil (MB), seus programas e as principais ações e missões hoje executadas, tanto no Brasil como no exterior.
Na sequência, o AE Leal Ferreira fez uma breve apresentação da real situação da Esquadra brasileira e como a restrição orçamentária está impactando diretamente nos projetos da MB, se colocando em seguida a disposição para responder aos questionamentos do jornalistas presentes.
A Esquadra
O Comandante da Marinha abriu sua apresentação mostrando um slide com as idades dos principais meios que dispõe hoje a MB para cumprir com as suas obrigações constitucionais.
Quando se vê o Capitânia da Esquadra, o NAe. São Paulo (A 12), com 52 anos (completando 15 só de MB) e o NDD Ceará (G 30) com 59 anos (26 de MB), os principais escoltas com quase 40 anos e o mais novo, a Corveta Barroso (V 34), com sete, é fácil perceber que pela a idade da maior parte da nossa Esquadra, a defasagem tecnológica e o custo que a Marinha tem para manter estes navios operacionais é muito alto, agravado ainda pelos sucessivos cortes de verbas para a Defesa.
Para nós, da imprensa especializada, isso não é nenhuma novidade, pois acompanhamos de perto o dia a dia, as dificuldades e a situação de cada navio. Mas, um raio X da sua situação, apresentada para a imprensa em geral, ajuda a mostrar à sociedade brasileira, ou pelo menos deveria, a importância da modernização dos meios de superfície, despertando na mesma um maior interesse na defesa de nossa soberania e dos nossos interesses no mar.
E é justamente neste ponto que a falta de verbas mais impacta, pois se encontram parados os principais programas de renovação da Esquadra brasileira, como o de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER) e o de construção das novas corvetas Classe Tamandaré, a segunda evolução das Corvetas Classe Inhaúma (a primeira evolução foi a Cv Barroso), de projeto nacional.
Estes programas poderiam alavancar a indústria naval brasileira, gerando emprego e qualificação, além de desenvolver novas tecnologias por meio de transferência de tecnologia na construção de modernos navios de guerra, abrindo uma janela de oportunidades, como no caso das Corvetas da Classe Tamandaré, que poderiam ser exportadas para Marinhas amigas, tanto na América Latina, como nos mercados africano e asiático.
Outro ponto que sofreu muito com os cortes, foi o de navios patrulha de 500 ton, que não serão mais construídos os 27 inicialmente programados, impactando diretamente no desempenho das ações de fiscalização e patrulha naval junto aos Distritos.
NAe São Paulo
Segundo o Comandante da Marinha, a avaliação do casco do nosso porta-aviões está sendo concluída, e o que se está vendo é que ele ainda está em boas condições, podendo ainda ser utilizado por muitos anos. Porém, será necessário a substituição dos sistemas de propulsão e de geração de energia, para que o mesmo possa retornar ao setor operativo. Mas, como a MB não dispõe desta verba no momento, optou-se por mantê-lo parado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), até que se tenha recursos suficientes.
PROSUB
Apesar dos cortes, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), continua em um ritmo mais lento, mas continua. O que era o grande investimento na proteção da nossa Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e a garantia da soberania da Amazônia Azul, e por conseguinte do Pré-Sal, tão anunciada durante o governo do ex-presidente Lula, agora deverá sofrer atrasos, principalmente no nosso primeiro submarino de propulsão nuclear, o Álvaro Alberto (SNB-10), que já foi postergado para 2025.
A falta de investimento do Governo Federal vai impactar principal e diretamente nas empresas que prestam serviços em Iperó, no interior do Estado de São Paulo, onde se encontram o Centro Experimental de Aramar e onde está localizado o Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE), que vai abrigar o protótipo do reator nuclear. Inicialmente se prevê o corte de pelo menos 200 postos de trabalho nestas empresas.
Com relação ao Estaleiro e Base Naval de Submarinos em Itaguaí, no Rio de Janeiro, o AE Leal Ferreira informou que as obras estão em dia.
Grupamento Naval do Sul-Sudeste
Sob o Comando do Vice-Almirante Glauco Castilho Dall’Antonia, o 8º Distrito Naval, sediado em São Paulo, também sofrerá com os impactos das restrições orçamentárias.
A criação do Comando do Grupamento de Patrulha Naval Sul-Sudeste, que funcionaria na sede da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP), em Santos, por enquanto não vai se concretizar.
Segundo o Comandante da Marinha, as patrulhas navais na Bacia de Santos não serão prejudicadas, pois o Navio Patrulha continuará se deslocando do Rio para Santos para o cumprimento da missão. Mas com isso, mais custos serão gerados para a MB, tendo em vista que terá que manter o deslocamento para a região, ao invés de transferir o efetivo para a cidade paulista.
Não é preciso ressaltar a importância da criação deste Grupamento de Patrulha, tendo em vista que estamos falando do maior porto da América Latina, e por onde passa mais de um quarto da movimentação da balança comercial brasileira e a sua área de influência econômica concentra mais de 50% do produto interno bruto (PIB), ocupando a 39ª posição no ranking mundial de portos em movimentação de contêineres, e da estratégica Bacia de Santos, que abrange uma área de cerca de 352 mil quilômetros quadrados.
NDM Bahia e baixa do NDD Ceará
Desde anunciada a sua aquisição em primeira mão pelo Defesa Aérea & Naval, em agosto, pela primeira vez em público, o AE Leal Ferreira confirmou a compra do Navio de Doca Multipropósito (NDM) Bahia, ressaltando a importância da aquisição do ex-Siroco, pertencente a Marinha Nacional francesa, em uma boa compra de oportunidade.
Segundo o Comandante da Marinha, o NDM Bahia vai ocupar uma lacuna existente hoje nas operações anfíbias em apoio ao Corpo de Fuzileiros Navais, face a suas características de poder transportar até 400 combatentes, além da capacidade de operar com lanchas e veículos anfíbios, devido a sua doca alagavel.
Com isso, aproxima-se a inevitável baixa do serviço ativo do NDD Ceará (G 30), ex-USS Hermitage (LSD 34) da Classe Thomaston, que dos seus 59 anos, 26 são de serviço ativo na Marinha do Brasil, a se completar no próximo dia 28 de novembro.
NOTA do EDITOR: Agradecemos ao AE Eduardo Bacellar Leal Ferreira (Comandante da Marinha), ao VA Glauco Castilho Dall’Antonia (Comandante do 8º DN), ao CA Flávio Augusto Viana Rocha (CCSM), ao CMG Daniel Américo Rosa Menezes (Chefe do Estado-Maior do 8º DN), ao CF Vagner Berlarmino de Oliveira (CCSM) e ao CC Henrique Afonso Lima (CCSM).