Por Luiz Padilha
A Babcock International através de sua infraestrutura de engenharia naval em Devonport (Plymouth), manteve o ex HMS Ocean (L 12), durante seus 20 anos de vida operativa na Royal Navy, com serviços de engenharia, tecnologia, consultoria de equipamentos e treinamento. Com farta experiência na manutenção dos navios da Royal Navy e em especial no ex HMS Ocean, a Babcock foi contratada para dar prosseguimento nas manutenções que estavam previstas antes da venda do navio para a Marinha do Brasil, com isso, o Porta Helicópteros Multipropósito Atlântico (A 140), terá seus custos de manutenção reduzidos significativamente no futuro.
Aproveitando toda essa infra-estrutura, o PHM Atlântico recebeu durante 4 longos meses, todo o suporte dedicado que a empresa pôde oferecer através de soluções de engenharia, realizando todas as revisões necessárias para que o navio possa seguir para o Brasil em plenas condições de operar por um longo tempo junto à Esquadra.
A empresa possui um sistema de suporte de manutenção de engenharia de serviços ao cliente, o qual inclui uma equipe de reação rápida para lidar com problemas que possam surgir em navios de guerra operacionais em qualquer parte do mundo. A Babcock espera assim, poder fornecer suporte durante toda a vida operativa do novo capitânea da MB, apoiando e incrementando sua capacidade naval no Brasil.
Após sua incorporação, realizada no último dia 29 de junho, o PHM Atlântico seguirá para um treinamento na Inglaterra chamado FOST (Flag Officer Sea Training), que tem características semelhantes ao CIASA (Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento), realizado pela Marinha do Brasil. Neste treinamento que entre porto e mar pode levar até 15 dias, o objetivo é prover treinamento operacional à tripulação do navio, sendo ministrado por uma equipe de especialistas da Royal Navy. O FOST na Royal Navy tem total responsabilidade pela manutenção dos padrões de treinamento naval, buscando a excelência em operações, realizando inspeções de prontidão para certificar que as tripulações e os navios estejam suficientemente preparados para suas futuras missões.
O PHM Atlântico e seu retrofit
A convite da Babcock do Brasil, o editor do Defesa Aérea & Naval – DAN, viajou até a HMNB Devonport, na cidade de Plymouth, onde foi recebido pelo comandante CMG Giovani Corrêa, dando ao DAN as boas vindas a bordo.
Descendo 5 andares chegamos a praça da redutora de bombordo, totalmente revisada e pronta para entrar em uso. Uma coisa que chama a atenção, é que em outros navios, normalmente a redutora fica acoplada ao MCP (Motor de Combustão Principal), e no PHM Atlântico ela fica em outro compartimento, característica do projeto inglês.
Na praça de MCP e MCAs de bombordo, o CF Francesconi informou que os 2 motores S.E.M.T. Pielstick V12 se encontram 100% revisados e já testados no cais. Perguntei como era feito este tipo de teste no cais e ele me informou que tanto pode ser feito sem o uso da engrenagem redutora, como pode ser feito com ela acoplada. Mas neste último caso, apenas em potência reduzida para verificar os parâmetros iniciais dos motores a pequenas cargas, pois o teste real será no mar quando então todo o sistema será exigido 100%.
Ouça abaixo o som do MCP e dos MCAs do navio em funcionamento
Ao lado do MCP de bombordo tem 2 MCAs (Motor de Combustão Auxiliar) Rouston, neste caso os n° 3 e 4. Os quatro MCA foram totalmente revisados e encontravam-se em fase final de testes.
Na sequência da visita, chegamos ao CCM (Centro de Controle de Máquinas) do Atlântico que ainda estava guarnecido pela tripulação inglesa (o navio ainda não tinha sido comissionado), e a tripulação brasileira trabalhando junto, absorvendo através do dia a dia todo o conhecimento para assumir o CCM em definitivo após o comissionamento.
Dentro das praças de máquinas do navio, o cabeamento que passa pelo teto do navio proporciona um dado interessante. Quando um tripulante do departamento de máquinas precisa ir para uma das praças, ele utiliza um fone de ouvido sem fio, e ao entrar na praça de máquinas onde o som dos motores é altíssimo, o tripulante passa a ouvir claramente as informações vindas do CCM.
A Babcock colocou a bordo do navio além de engenheiros e técnicos, três tradutoras para facilitar o entendimento da tripulação brasileira na passagem de instruções sobre equipamentos do navio. Sem dúvida, algo muito importante e segundo o CF Francesconi, esta interação ocorreu muito bem.
Navio Ecológico
O navio está equipado com 2 sistemas de Osmose Reversa, que suprem o navio e também podem em caso de necessidade, suprir localidades que venham a sofrer a falta de água potável durante situações de calamidade advindas de desastres naturais por exemplo.
Atravessando a praça de máquinas passamos por acumuladores de ar comprimido, purificadores de óleo e JP5, resfriadores das URAS e chegamos ao sistema de tratamento de esgoto do navio. O Membrane Bio-React foi desenvolvido para processar o esgoto produzido pelo navio, tratando a parte líquida para descarte e a sólida sendo enviada para um tanque contendo bactérias, que irão se alimentar dos resíduos sólidos. Por esta razão não é permitido que se jogue qualquer produto químico ou sólidos como fio dental nos vasos sanitários.
O navio é ecologicamente correto, e esse sistema por ser muito sensível é necessária muita atenção para preservar as bactérias ativas. O controle do tanque de tratamento onde as bactérias atuam, precisa estar na temperatura adequada para que elas não morram e deixem de se alimentar do subproduto sólido que o sistema produz. A Royal Navy instalou 2 aparelhos de ar condicionado novos no Atlântico e as futuras tripulações ao embarcar no navio, deverão ser instruídas para não comprometer esse sistema.
A praça da máquina do leme do navio parece ter sido construída recentemente, não aparentando a idade do navio. O sistema possui controle de comando duplo, caso ocorra uma pane no passadiço, o governo do navio pode ser executado no local.
O navio conta com uma Unidade de Filtragem de Ar preparada para a guerra NQBR (Nuclear, Química,Biológica e Radiológica), protegendo a tripulação no caso de um incidente que venha a contaminar o navio.
O guindaste do navio, os Turcos que receberão as LCVPs MK5 e os motores dos elevadores de vante e de ré, foram todos revisados e aprovados, o que como dito anteriormente, irá proporcionar ao navio seu uso prolongado pela Marinha.
Assista abaixo um dos muitos testes dos elevadores do PHM Atlântico
Um dia antes do comissionamento do navio, a primeira LCVP MK5B embarcou no navio e os fuzileiros a bordo providenciaram rapidamente uma limpeza geral na embarcação, que estava bem “carimbada” pelas dezenas de gaivotas que vivem nas cercanias da base naval de Devonport.
E assim termina a primeira parte de nossa visita ao PHM Atlântico. No próximo artigo, abordaremos outros departamentos que compõem o navio.