Por Thayná Fernandes
Em 15 de setembro de 2022, o acordo de Defesa entre Austrália, Estados Unidos e Reino Unido (AUKUS) completou um ano de seu estabelecimento. No anúncio da iniciativa, cujo objetivo principal é construir submarinos de propulsão nuclear australianos, os líderes dos Estados afirmaram que maiores detalhes seriam apresentados nos 18 meses posteriores, ou seja, em março de 2023.
Passados doze meses, os cenários internos australiano e britânico sofreram algumas modificações; apesar disso, o AUKUS parece não ter sido impactado, tendo-se em vista que conter o avanço de Pequim no Indo-Pacífico é o cerne de Canberra, Londres e Washington. Nesse contexto, para além da construção de submarinos, como a Austrália pode desenvolver capacidades autônomas para se contrapor de maneira robusta à China?
Segurança e Defesa são pontos cruciais nos debates em Relações Internacionais: estar “seguro” é estar capacitado para agir militarmente diante de alguma “ameaça”. Como “segurança” é um conceito subjetivo, se um país estiver constantemente se armando, seus vizinhos também buscarão ampliar seus recursos militares ou, caso contrário, ficarão vulneráveis. Buscar mais capacidades gera maior tensão, ou seja, cria um cenário mais “inseguro”; esse é o conhecido “Dilema de Segurança”.
Assim, diante de cerca de 400 modernas embarcações chinesas, as modestas 36 australianas, com submarinos já próximos do fim de sua vida útil, podem não ser suficientes para o cenário cada vez mais tenso e competitivo no Indo-Pacífico. Dessa forma, a decisão da Austrália de cancelar o acordo de 2016 com a França por submarinos convencionais e voltar-se aos parceiros mais tradicionais para utilizar propulsão nuclear indica o dilema de segurança vivido pelo país.
Contudo, o tempo de desenvolvimento desse projeto é longo e mesmo adquirindo uma embarcação pronta, os operadores também precisarão ter as expertises necessárias para utilizá-la. Alguns analistas apontam que, ao invés de focar apenas em projetos de longo prazo, os estrategistas do país precisam pensar no curto prazo.
Algumas opções, nesse sentido, são investimentos em inteligência e veículos não tripulados. Tais abordagens, aliadas à negação do uso do espaço aéreo e sistemas que bloqueiem as comunicações do adversário, podem robustecer as capacidades de Defesa australianas.
Entretanto, a realidade atual é que, mesmo sendo parte de uma importante iniciativa de inteligência, os “Five Eyes”, os investimentos mais robustos do país no setor e em segurança cibernética estão apenas começando e ainda são insuficientes para atuarem como auxiliares às ações militares tradicionais.
Nesse sentido, embora seja extremamente relevante a continuidade do projeto AUKUS, o estabelecimento de uma capacidade de Defesa australiana mais autônoma e eficaz, especialmente no curto prazo, dependerá também de fatores que vão além de aeronaves, blindados ou embarcações.
FONTE: Boletim GeoCorrente