Tailândia: construção de submarino e os desafios à autonomia em Defesa

Por Matheus Bruno Pereira e Thayná Fernandes

A Marinha Real da Tailândia reconsiderou a proposta da China Shipbuilding & Offshore International sobre o fornecimento do motor diesel-elétrico produzido na China para o seu submarino S26T Yuan. A construção da embarcação teve entrave após o mecanismo de propulsão do submarino, que seria fornecido pela Alemanha, ter a venda cancelada devido ao recente embargo adotado por Berlim ao comércio de materiais de defesa com a China.

A alternativa chinesa, um motor CDH620, nunca foi utilizada anteriormente em submarinos, mas um modelo aprimorado foi apresentado à Marinha tailandesa, que pretende seguir com a construção caso o motor passe nos testes. Os esforços pela continuidade do projeto demonstram que os interesses dos Estados podem dificultar a responsabilidade comercial e as relações bilaterais.

Da perspectiva tailandesa, além do Mar do Sul da China, o Golfo da Tailândia é outra importante região na Ásia em que as extensões litorâneas dos países se sobrepõem: com 320 mil km² de extensão e 7,3 trilhões de reservas estimadas de gás natural (EIA, 2017), banha Camboja, Malásia, Tailândia e Vietnã. Tamanha fonte energética propiciou que Bangkok assinasse com a Malásia um Memorando de Entendimento em 1979, válido por 50 anos (até 2029), estabelecendo negociações de exploração e criando uma Área de Desenvolvimento Conjunto (JDA, em inglês); contudo, mesmo cooperando, ambos possuem reclamações em cerca de 7.250 km² deste espaço. Tal situação impulsiona a Tailândia a adquirir submarinos para minimizar sua desvantagem nas próximas negociações da JDA, considerando que não possui nenhum, enquanto a Malásia possui dois da classe Scorpène e pretende adquirir outros até 2040.

A China vem realizando uma série de acordos para a venda de embarcações para países do Indo-Pacífico, principalmente submarinos, além de investir na infraestrutura portuária de Estados parceiros. No Sudeste da Ásia, é possível observar esse movimento no Camboja, Mianmar e Tailândia. A presença chinesa no meio naval regional poderia facilitar novos tipos de interações, como receber navios chineses em portos locais. Assim, Pequim garantiria pontos de apoio logístico para a sua esquadra sem necessitar de bases militares próprias na região. Além disso, o país vem explorando o estreitamento de laços com a Tailândia desde o golpe de Estado em 2014, que prejudicou as relações tailandesas com os EUA, aliado histórico.

Este complexo cenário reforça a importância de um Estado ter meios dissuasórios adequados para garantir sua
soberania e poder negociar de maneira mais equilibrada. Contudo, depender exclusivamente da China pode não ser tão vantajoso a Tailândia.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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