Por Cel Swami de Holanda Fontes
O termo fake news (notícia falsa, boato ou rumor, em português), com suas ações e consequências, só se tornou popular mais recentemente, apesar de ser conhecido há muito mais tempo. As fake news são mais antigas do que se imagina: é possível que o primeiro caso tenha ocorrido na criação do mundo, quando a serpente enganou Adão e Eva.
A expressão popularizou-se em 2016, durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, quando a imprensa internacional veiculou exaustivamente, nas redes sociais, que mentiras estavam sendo divulgadas como verdades.
Da mesma forma que os comerciantes brasileiros empregam Black Friday para divulgar um dia de promoções no comércio varejista, a imprensa nacional, no intuito de valorizar o termo, vem adotando a expressão americana fake news.
No passado longínquo não existiam redes sociais, mas as falsas notícias já eram comuns. Os gregos, romanos e egípcios, por exemplo, acreditavam em deuses cujos desejos eram interpretados por sacerdotes que os divulgavam, de acordo com os interesses das cortes, para manipularem as populações.
No Brasil, um dos casos mais conhecidos de informações falsas ficou conhecido como Plano Cohen. Em 1937, durante o governo de Getúlio Vargas, o documento em questão relatou a ameaça comunista de tomada do poder no Brasil. Por algum tempo, o governo conseguiu dominar a narrativa, tendo como consequência imediata a instauração da ditadura do Estado Novo.
Em 1938, nos Estados Unidos, tornou-se conhecida a transmissão por rádio, em formato jornalístico, da ficção “A Guerra dos Mundos”. A suposta invasão da Terra por alienígenas gerou medo à população.
Durante a 2ª Grande Guerra Mundial, o Ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, afirmou que “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”. Para ele, uma mentira contada mil vezes tornava-se verdade e quanto mais uma pessoa era exposta à mentira, mais fácil essa falsa informação era aceita como verdade.
Em 2003, os Estados Unidos atacaram o Iraque, derrubando o governo de Saddam Hussein. A ação teve como uma das principais justificativas a possibilidade desse país possuir armas de destruição em massa. Tempos depois, descobriu-se que essa ameaça não existia. Nesse exemplo, verificou-se que o domínio da narrativa e a difusão de informações falsas, pelo próprio governo americano, com apoio da Inglaterra, foram empregados para justificar a guerra.
Em todos os casos citados, os princípios foram sempre os mesmos: difusão de mentiras como se fossem verdades. A diferença do passado para os dias atuais baseia-se apenas nos meios de propagação da informação.
Percebe-se, portanto, que muitas narrativas são construídas com base em mentiras, meias-verdades e desinformação. Atualmente, os meios de comunicação permitem ampliar o público receptor dessas mensagens por meio da internet e, em especial, das redes sociais.
Mas por que são criadas as notícias falsas? Os motivos são diversos.
Na História recente do Brasil, foram observados interesses eleitoreiros. No dia a dia, também tem sido comum a divulgação de manchetes absurdas em sites na internet com o intuito meramente comercial – a intenção é chamar a atenção para a comercialização de produtos. Em muitas situações é difícil identificar a origem, pois, em alguns casos, os emissores operam na chamada deep web, espécie de submundo da internet.
Um dos meios de difundir as fake news é o emprego de programas ou robôs que, de forma automatizada, disseminam dezenas, centenas, milhares e, até mesmo, milhões de links com o conteúdo desejado. A mensagem circula pelas redes, fazendo com que um receptor a receba repetidas vezes. Ele passa a acreditar que a informação é verdadeira, pois a recebe de várias fontes, gerando uma “falsa confirmação”. Cada receptor, por sua vez, ajuda a compartilhar a mesma mensagem, multiplicando seu alcance e dando-lhe mais credibilidade.
Por que acreditamos em mentiras, mesmo sabendo que determinadas informações seriam incoerentes com a verdade? Faz parte da natureza humana acreditar naquilo que nos é mais favorável e que nos dá certo conforto. Somam-se a essas duas características os mecanismos de defesa do ego, que são os meios que o inconsciente usa para iludir a realidade e diminuir a dor. Esses mecanismos de defesa evitam, excluem, invertem e dividem a realidade.
As consequências das fake news normalmente são negativas, são prejudiciais e danosas. Mas como impedi-las? Além da intervenção do poder público, que deve buscar meios para evitá-las, criando legislação específica para o assunto, há necessidade de que as pessoas adotem procedimentos próprios para que não caiam em armadilhas.
Algumas medidas podem ser adotadas para evitá-las: apurar a origem; buscar estar bem informado e atualizado; verificar a autoria; possuir fonte de apoio; checar a hora e a data em que a informação foi postada; averiguar quando o “fato ocorreu”; examinar a imagem; investigar se a informação é uma piada; consultar um especialista; verificar se há preconceito no assunto divulgado; e confirmar os dados com outros veículos de comunicação, especialmente com as grandes mídias, entre outras.
No que concerne à última medida sugerida, devemos lembrar que até os grandes veículos de comunicação também podem ser enganados, principalmente por causa da velocidade em que circulam as informações e pela necessidade de não perderem o “furo” de reportagem.
Com o passar do tempo a serpente do paraíso multiplicou-se e transfigurou-se, ficando difícil identificá-la. Se no passado ela nos levou a sair do Éden, nos dias atuais, para onde nos levaria com seu alcance e poder de dano potencializado?
FONTE: EBlog
Autor: O Cel Fontes é Oficial de Artilharia oriundo da Academia Militar das Agulhas Negras. Possui os seguintes estágios e cursos pelo Exército Brasileiro: estágios de Escalador Militar e de Operações Psicológicas, capacitação em Planejamento Estratégico Organizacional, especialização em Bases Geo-Históricas para Formulação Estratégica, mestrado em Operações Militares e mestrado em Ciências Militares, cursos de Comando e Estado-Maior, Básico Paraquedista e Básico de Inteligência Militar. Na Agência Brasileira de Inteligência realizou o curso de Noções do Fenômeno Terrorismo. No exterior, especializou-se em Inteligência Estratégica no Instituto de Inteligência das Forças Armadas Argentinas e em Segurança Militar Nacional e Comando na Universidade de Defesa Nacional da China. Foi analista de inteligência do Ministério da Defesa, comandou os Grupos de Operações de Inteligência da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada em Cristalina/GO e da 16ª Brigada de Infantaria de Selva em Tefé/AM, o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva do 3º Grupo de Artilharia de Campanha – Regimento Mallet, em Santa Maria/RS, o curso de Artilharia da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro/RJ e o 7º Grupo de Artilharia de Campanha – Regimento Olinda, em Olinda/PE. Atualmente é o chefe da Seção de Operações da Divisão de Planejamento e Gestão do Centro de Comunicação Social do Exército.