As Operações Anfíbias se adaptando para o futuro

CH-53 pousando no USS Mesa Verde (LPD 19)

Um CH-53 Super Stallion pousando no USS Mesa Verde (LPD 19)

As forças navais enfrentam novos desafios na preparação para desembarcar forças anfíbias, à medida que o ambiente operacional é redefinido por armas de ataque de precisão, veículos não tripulados e limitações cibernéticas.

Por David Reynolds

As forças anfíbias são um meio estratégico em um mundo instável que enfrenta crescentes conflitos regionais nas zonas litorâneas. No entanto, o conceito doutrinário de uma grande força da OTAN que defenda a Europa, posicionada ao largo do litoral e pronta para desembarcar uma força expedicionária contra um objetivo contestado, passou, e o custo em termos de tropas e material é visto como muito alto.

A proliferação de novos sistemas anti-acesso / negação de área (A2AD), mísseis anti-navio (ASCMs), outras armas de ataque de precisão e outras tecnologias emergentes deixaram as forças de desembarque expostas a um ataque. Tradicionalmente, os grupos de desembarque anfíbios (ARGs em inglês) ficam no litoral em tempos de crise, realizando ações de presença e dissuasão com suas forças militares para influenciar as negociações políticas.

Os grandes Navios de Desembarque e Docas (LPDs) que formam os ARGs foram projetadas para apoiar os princípios da manobra operacional a partir do mar (OMFTS em inglês) e da manobra navio-para-objetivo (STOM em inglês). No século XXI, as forças ocidentais precisam manter a prontidão para responder às atividades nas águas costeiras do Oriente Médio e enfrentar a China e a Rússia em confrontos de alto nível. A Marinha do Exército de Libertação do Povo Chinês (PLAN em inglês) pode, por exemplo, montar ataques de precisão com mísseis anti-navio (ASMs em inglês); entre seu arsenal está o míssil supersônico Dong Feng 100 (DF-100), que algumas fontes acreditam ter um alcance de 2.000 a 3.000 km e poderia atacar uma força anfibia antes que ela atingisse à costa.

China e Rússia estão buscando desenvolver suas economias em parte através do poder militar. Em 2014, as forças russas tomaram a Crimeia para expandir a influencia de Moscou através da península e no Mar Negro. No mesmo ano, a China também começou a causar tensão em seus vizinhos através do desenvolvimento de instalações militares no disputado Mar da China Meridional, criando recifes artificiais nas Ilhas Spratly e também desenvolvendo instalações militares nas Ilhas Paracel. As forças do PLAN tentaram pressionar pela soberania chinesa sobre a principal passagem de navegação do mar da China Meridional entre Indonésia, Filipinas e Vietnã.

USS Germantown (LSD 42) Foto Patrick Dionne

As ameaças costeiras também surgiram no Oriente Médio, onde o Irã usou forças aliadas para causar instabilidade e pôr em risco o transporte marítimo internacional.

Nas últimas duas décadas, também houve um aumento de incidentes nas áreas costeiras da África, da região Ásia-Pacífico e do Oriente Médio. Em outubro de 2000, o USS Cole, um destróier da classe Arleigh Burke, estava em uma parada de reabastecimento no porto de Aden, no Iêmen, quando foi atingido por um barco suicida em um ataque que matou 17 marinheiros. Isto foi seguido por ataques ao comércio marítimo no Golfo de Áden, no Mar Vermelho e no Estreito de Ormuz. Mais recentemente, ataques foram feitos a embarcações no Golfo, levando a realização de patrulhas de segurança marítima internacional lideradas pela Marinha dos EUA (USN) sob a Operação ‘Sentinel’, patrulhas da Marinha Real (RN) sob a Operação ‘Kipion’ e uma iniciativa liderada pela Europa para melhorar a consciência situacional marítima sob a Operação ‘Agénor’.

As disputas regionais e a influência das superpotências fizeram com que os navios anfíbios desdobrados para o litoral se tornassem alvos de ataque. Além da ameaça cinética, as forças da OTAN enfrentam um ambiente operacional que agora inclui ameaças de ataques cibernéticos e de capacidades de veículos autônomos. Para se preparar para o desafio do Ártico ao Oriente Médio e além do Reino Unido, as forças armadas dos EUA estão moldando forças anfíbias mais personalizadas e especializadas. As mudanças incluem a adoção de novas estruturas organizacionais de força e transporte, para garantir um elemento de surpresa.

Capacidade atual

Os recursos atinentes a navios anfíbios da OTAN são obtidos de países que operam grandes navios de desembarque, que podem transportar um grupo de batalha de pelo menos 650 militares especializados, além de veículos em várias configurações. Essas plataformas são operadas pela França, Itália, Holanda, Espanha, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A Turquia também está construindo o LPD TCG Anadolu, que está planejado para entrar em operação no final de 2020.

TCG Anadolu

A USN é a força anfíbia dominante em termos globais , apoiando o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (USMC) com uma gama de meios, incluindo grandes porta helicópteros de assalto anfíbio (LHA), navios de desembarque e docas de helicópteros (LHDs) e LPDs. A USN também está desenvolvendo novos navios expedicionários.

Quando necessário para gerar força, o USMC pode recorrer aos imensos recursos da Força-Tarefa Aéreo Marítima (MAGTF), que fornece meios, incluindo as unidades expedicionárias marítimas (MEUs) estacionadas a bordo de navios do ARG da frota. Uma MEU inclui um elemento de combate no solo baseado em um batalhão de infantaria e reforçado com viaturas blindadas, artilharia e engenheiros de combate. Há também um elemento de combate de aviação que fornece helicópteros de apoio e aeronaves de asa fixa V-22 Osprey de decolagem vertical além de jatos de asa fixa na forma de decolagem curta e pouso vertical (STOVL em inglês) Harrier II AV-8B e cada vez mais os caças F-35B Lightning II Joint Strike que os estão substituindo.

V-22 Osprey e USS América

A atual estrutura operacional exige que, a qualquer momento, haja pelo menos um MEU, e geralmente dois, desdobrados em revezamento no mar, além de outro MEU desdobrado em uma base no Japão. Para apoiar as duas MEUs desdobradas no mar, a USN deve manter 34 navios de assalto, ou 17 por MEU. A MEU é a menor configuração MAGTF, baseada em uma brigada expedicionária marítima (MEB em inglês) e a ainda maior força expedicionária marítima (MEF).

A Royal Navy, embora menor, evoluiu significativamente sua capacidade anfíbia desde a Operação ‘Corporate’ durante a Guerra das Malvinas em 1982. Hoje, possui dois LPDs, três navios de desembarque de classe Bay (LSDs) e um navio de apoio à aviação (ASS) que deve se aposentar em 2024, de acordo com o plano de meios de 2020 do Ministério da Defesa do Reino Unido (MoD em inglês).

HMS Albion

Nas últimas duas décadas, os fuzileiros navais reais do Reino Unido estiveram envolvidos em operações de contra-insurgência (COIN) no Iraque e no Afeganistão, mantendo uma capacidade anfíbia na forma do Grupo de Tarefa da Força de Resposta (RFTG). Mais recentemente, eles geraram a unidade especializada 42 Commando para apoiar operações de interdição marítima que operam em pequenos destacamentos a partir dos navios de desembarque da classe Bay, fragatas Tipo 23 ou destróieres Tipo 45 desdobrados no Mediterrâneo e a leste do canal de Suez.

Tendo recebido dois porta-aviões da classe Queen Elizabeth de 60.000 toneladas, as operações litoraneas da RN se beneficiarão, a partir de 2021, do F-35B e do potencial de projetar fuzileiros navais a partir de um porta aviões para operações limitadas. No entanto, os próprios porta aviões não se aproximariam da costa durante um conflito.

RFA Lyme Bay

A Marinha Real da Holanda (RNLN) opera os LPDs HNLMS Johan de Witt e HNLMS Rotterdam e tem uma colaboração estabelecida há muito tempo com o Reino Unido na forma da Força Anfíbia do Reino Unido / NL. Os Korps Mariniers deveriam realizar um exercício em março na Noruega com o HNLMS Johan de Witt e o RN LPD HMS Albion como parte dos exercícios anfíbios ‘Cold Response 2020’, que marcariam o 48º ano de cooperação bilateral antes de serem cancelados em função da crise do coronavírus.

HNLMS Rotterdam

A capacidade anfibia da Espanha está centrada nos 20.000 toneladas de LHD Juan Carlos I e em dois LPDs de 14.000 toneladas: Castilla e Galicia. A França opera três LPDs, chamados de navios de projeção e comando: Dixmude, Mistral e Tonnerre. Esses navios também fornecem um hospital de 70 leitos, enquanto um suporte aéreo próximo pode ser prestado pelo porta-aviões Charles de Gaulle.

A Itália mantém uma força anfíbia de três navios baseada nos LPDs San Giorgio, San Giusto e San Marco. Com apenas 8.000 toneladas, essas embarcações pequenas e altamente capazes podem projetar força de suas docas de popa e operar helicópteros de apoio. Além disso, eles podem solicitar o suporte aéreo do porta-aviões Giuseppe Garibaldi ou do novo porta-aviões Cavour.

Enquanto isso, os membros e parceiros da OTAN estão explorando novos conceitos para fornecer segurança marítima. Países do norte da Europa, como Finlândia e Suécia, que não são membros da OTAN, preocupados com a ameaça de Moscou, aderiram à Força Expedicionária Combinada (Marítima), liderada pelo Reino Unido: uma formação independente da OTAN que apóia a aliança.

Ao mesmo tempo, a USN e a USMC, juntamente com o RN e os fuzileiros navais britânicos, estão liderando mudanças que adotam uma abordagem radical para futuras operações costeiras. O USMC está explorando novos métodos para penetrar na zona litoranea, que incluem novos navios menores e mais letais, forças avançadas, uso do poder de fogo da USN para apoiar sua batalha para vencer a ‘luta marítima’ ao largo da costa, bem como a maior integração da tecnologia.

Ao mesmo tempo, o RN anunciou que está moldando sua futura capacidade e criando uma nova Força de Comando Futuro (FCF) para os reais fuzileiros navais. Isso ocasionará uma mudança de postura, com planos de operar forças menores e mais ágeis, capazes de empregar capacidades autônomas, algumas das quais serão implantadas no mar em áreas de interesse potencial.

Ameaças

Forças anfíbias historicamente necessitam de especialistas para levá-los ao litoral, evitando ameaças inimigas. Desminagem, superioridade aérea, proteção antissubmarina e reconhecimento avançado fazem parte da fase de operações preliminares para proteger uma força anfíbia.

No ambiente de hoje, a penetração do “guarda-chuva” A2 / AD de um adversário está evoluindo como a principal tarefa antes que qualquer movimento possa ser feito em direção ao litoral. A China continua a desenvolver recursos de interferência de rede e outras medidas de guerra eletrônica, que podem ser executadas a partir de veículos aéreos não tripulados (UAVs) e controladas remotamente para interromper comunicações e “cegar” os armamentos de seu sistema de armas. Plataformas autônomas, como navios de superfície não tripulados (USVs) e UAVs, que podem lançar robôs munidos de sonar para procurar assinaturas submarinas, forneceram ao adversário mais informações para planejar uma resposta.

A evolução das ameaças também vêm na forma de novos sistemas de armas. Em outubro de 2019, o Exército de Libertação do Povo (PLA) apresentou seus novos mísseis de cruzeiro supersônicos DF-17 e DF-100 em um desfile na Praça da Paz Celestial em Pequim. Pequim afirma que as armas têm um alcance de 2.000 milhas, com a óbvia ameaça às forças anfíbias distantes do litoral.

Os EUA vêem a China como seu principal oponente. Embora o Corpo de Fuzileiris Navais da Marinha do Exército de Libertação Popular (PLANMC) não tenha a capacidade letal do USMC, a capacidade chinesa está se expandindo. O PLAN possui bases operacionais avançadas no Djibouti e Hambantota no Sri Lanka, com a China também negociando com o Paquistão uma pequena base de apoio em Jiwani, 70 km a oeste de Gwader, para atender suas operações antipirataria no Golfo de Aden.

A Rússia também está construindo uma parceria com a China, fazendo acordos comerciais na América do Sul, estabeleceu uma grande guarnição militar na Síria, se envolveu levemente na crise na Líbia e continua a ameaçar os países da Europa Oriental e os países bálticos. Moscou enviou forças para o Ártico para explorar petróleo e minerais no país, bem como desenvolver suas capacidades militares na região. Enquanto mantém um olhar atento sobre os estados bálticos e a Crimeia, o Kremlin baseou seu sistema de mísseis de defesa costeira, o K-300P Bastion-P, que tem um alcance de 450 km, na Península de Kamchatka, no Extremo Oriente.

A ameaça da Rússia é ampla e altamente capaz, mas o presidente Vladimir Putin, assim como seus colegas chineses, não tem apetite óbvio por conflitos diretos com o Ocidente. Em vez disso, ele desafiou o Ocidente através da intervenção na Crimeia e na Síria, reforçando a auto-imagem da Rússia como uma superpotência. Tais desenvolvimentos indicam que nem a China nem a Rússia se curvarão às ameaças do Ocidente.

Enquanto isso, o Irã e a Coréia do Norte são considerados pelos analistas como ameaças “curinga”, com a discordancia política nos últimos cinco anos, muitas vezes escalando para ameaça de conflito. Mísseis balísticos fazem parte integrante da dissuasão estratégica de Pyongyang. Os sistemas de menor alcance são desdobrados proximos a zona desmilitarizada (DMZ) entre a Coréia do Norte e do Sul, além de serem posicionados nas costas leste e oeste da Coréia do Norte como uma dissuasão para qualquer força anfíbia.

As frágeis relações políticas do Irã com o Ocidente e sua vizinha Arábia Saudita aumentam a instabilidade histórica no Oriente Médio. A postura ameaçadora de Teerã é alimentada por sanções e má administração do país sob a teocracia islâmica dominante. A ameaça do Irã foi mostrada recentemente, embora em pequena escala, quando Teerã ordenou ataques com mísseis balísticos às bases americanas no Iraque após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani. Quaisquer operações no Golfo apoiadas por navios de anfibios precisariam considerar os mísseis Qiam do Irã, que têm um alcance relatado de 700 a 900 km, e os sistemas de combustível sólido Sejil 2, que têm um alcance estimado de 2.000 km.

As forças milicianas não estatais também são uma ameaça significativa. Rebeldes no Sudão e no Iêmen mostraram sua capacidade de atacar navios no Golfo de Áden, no Mar Vermelho e no Estreito de Ormuz.

O crescente perigo da China, Rússia e forças extremistas no litoral forçou uma grande mudança na abordagem anfíbia. Como resultado, a USN e a RN estão liderando uma evolução do método, preparação e realização das operações de assalto. Esses conceitos levarão alguns anos para serem implementados, mas gerarão novas capacidades. Fundamentalmente, as operações anfíbias não estão sendo abandonadas, mas estão sendo planejadas de maneira diferente.

Abordagem radical

A mudança começou em 2015, quando o USMC montou um teste no qual uma companhia de fuzileiros navais do 11º MEU estava sediada a bordo de navios da OTAN como parte de um plano para preencher lacunas nas opções de base marítima na Europa e ao redor da Europa. Essa Iniciativa de Base Marítima Aliada (AMBI) permitiu aos Comandantes desenvolver o conceito de “bases avançadas” de formações menores em vários navios. Durante o período de 18 meses, os fuzileiros navais foram baseados na RFA Lyme Bay do Reino Unido e no porta-helicópteros HMS Ocean (que mais tarde foi vendido ao Brasil), além de navios holandeses, italianos e espanhóis.

ex-HMS Ocean, atual PHM Atlântico da Marinha do Brasil

Esse exercício probatório foi um fator pequeno, juntamente com uma série de pressões operacionais, que atuou como a gênese de um pensamento mais amplo da USMC, levando o anúncio a “rasgar” os princípios tradicionais de operações anfíbias de navios de grande porte. Em 2019, o recém nomeado comandante do USMC, general David Berger, anunciou sua nova visão para moldar as futuras operações anfíbias com o objetivo de combater as ameaças chinesas dentre outras. Em um artigo intitulado ‘The Command Approach’, o general Berger disse que os dias de operações anfíbias de navios de grande porte terminaram em sua forma atual.

Ele acrescentou que busca economizar dinheiro e tornar os fuzileiros navais mais dinâmicos e prontos para os desafios do século XXI, implicando maior integração com a USN em um conceito de operações que se afasta de desembarques anfíbios em larga escala expostos a ataques. Um pressuposto chave no artigo do general é que lançamento de armas precisas a partir de bases costeiras e caças de quarta geração que estão sendo tripulados pela China e pela Rússia tornarão certas partes do Oceano Ártico, Mar Báltico, Mar Negro e Oceano Pacífico “proibidas” para grandes navios.

“A capacidade de nosso país de projetar poder e influência além de suas margens é cada vez mais desafiada por armamento de longo alcance; expansão das ameaças aéreas, de superficie e submarinas; e a degradação contínua de nossa prontidão de navios anfíbios e auxiliares”, disse ele. “A capacidade de projetar e manobrar a distâncias estratégicas provavelmente será detectada e contestada a partir do ponto de embarque durante uma grande operação. Nossas forças expedicionárias navais devem possuir uma variedade de opções, incluindo navios de classe L [desembarque] e classe E [expedicionária], mas também procurar cada vez mais outras opções disponíveis, como plataformas não tripuladas e embarcações de desembarque”.

O general Berger defendeu navios de assalto menores, que podem ser combinados com plataformas autônomas para reconhecimento e retransmissão de comunicações, bem como redes digitais que podem complicar os algoritmos de solução de tiro. O futuro se concentrará em operações menores e mais letais, que adotarão a tecnologia para apoiar o fuzileiro naval no solo e desafiar o que foi considerado normal, ele argumentou. Essas reformas são abrangentes e chocaram alguns observadores. A nova abordagem surge no momento em que a doutrina atual não se posiciona bem contra um adversário em potencial, como a China, que tem a capacidade de deter uma força anfíbia, negando-lhe acesso ao litoral. Desde o desembarque em Inchon, na Coréia, em setembro de 1951, durante a Operação ‘Chromite’, o conceito de manter dois MEUs de alta prontidão ‘de plantão’ desdobrados no mar tem sido a marca registrada da capacidade de combate dos fuzileiros navais dos EUA. No entanto, é provável que a entrega futura de força mude sob a orientação do Gen Berger, com o comandante defendendo navios expedicionários de apoio com capacidade mais letal.

“Seria ilógico continuar concentrando nossas forças em alguns navios grandes”, disse ele em uma orientação por escrito. “Precisamos mudar esse cálculo com um novo “design” de uma frota de plataformas menores, mais letais e com riscos mais calculados. Não podemos nos dar ao luxo de manter políticas, doutrinas e organizações desatualizadas ou forçar desenvolvimento de estratégias ultrapassadas. O que nos serviu bem ontem pode não servir hoje.

 

BAP Pisco, classe Makassar

A recomendação mais ousada do general Berger diz respeito ao MAGTF e à força de 34 navios disponíveis para operações anfíbias em apoio ao USMC. Ele indicou que não deseja que os planejadores confiem no pressuposto tradicional de que dois MEUs ou dois MEBs estejam disponíveis. Sua orientação não apenas removeu a estrutura da força de assalto anfíbia, mas também retirou o MAGTF como a principal estrutura organizacional.

“Não usaremos mais um requisito de dois MEB como base para nossos argumentos a respeito da construção de navios anfíbios, para determinar a capacidade necessária de veículos ou outras capacidades, ou no que diz respeito à Força de Marítima Pré Posicionada. Não faremos mais referência aos requisitos de 38 navios”, acrescentou.

O general Berger também vê a proliferação de mísseis anti-navio e balísticos como uma grande ameaça futura. Ele promoveu o apoio à força naval na operação para vencer a ‘luta no mar’, à medida que a força de assalto se aproxima de um objetivo com fuzileiros navais que usam seu poder de fogo orgânico para suprimir o inimigo na costa. No entanto, essas mudanças não acontecerão em breve: os grandes navios anfíbios e o MAGTF levarão uma década para reconfigurar e serem substituídos por novas doutrinas e meios navais.

A Royal Navy também está avançando com um novo conceito marítimo e, no final de 2019, renomeou seu ARG como o “Littoral Strike Group” (LSG). Em 2018, o então secretário de defesa, Gavin Williamson, revelou propostas para novos navios de ataque costeiros (LSSs) que seriam capazes de transportar uma companhia de 120 fuzileiros navais, além de elementos de apoio, incluindo controladores aéreos aproximados (JTACs), armas pesadas e equipes de comunicação. Esses navios custariam 600 milhões de libras, de acordo com o plano de reaparelhamento do Ministério da Defesa (MoD Equipment Plan), publicado em fevereiro.

Uma nova doutrina está sendo desenvolvida para estruturar os fuzileiros navais do Reino Unido como uma força avançada a bordo dos LSSs como parte de uma nova estrutura para realizar operações de ataque. O comandante-geral dos Reais Fuzileiros Navais, General de Divisão Matt Holmes, e sua equipe de planejamento são pioneiros na Força de Comando Futura (FCF). Eles pretendem moldar a atual 3a Brigada de Comando e seus meios em uma força de operações marítimas especiais.

Operações marítimas especiais foram lideradas, embora em menor escala, pelo 42º Comando, que em 2018 recebeu a tarefa exclusiva de prover segurança marítima global, implantando pequenas unidades de fuzileiros a bordo de navios no Golfo e outras áreas a fim de conduzir operações de interdição marítima. Sua utilidade foi demonstrada em julho de 2019, quando fuzileiros navais do 42o Comando apreenderam o superpetroleiro iraniano Grace 1, em Gibraltar, após Teerã ser suspeito de violar as sanções da ONU. Agora, os fuzileiros navais reais estão planejando aumentar a capacidade para o nível de brigada.

O general de divisão Holmes disse a Jane’s: “Preciso de comandos ágeis e robustos capazes de operar uma variedade de sistemas para vencer a luta, se necessário, em um ambiente hostil”. Em um exemplo de uma futura operação dada pelo comandante da 3a Brigada de Comando, General de Brigada David Jackson, os UAVs fornecerão aos fuzileiros navais dados de inteligência ao vivo enquanto eles se deslocam do navio para a costa. Ao mesmo tempo, uma força marítima autônoma de embarcações de ataque, replicando a força de ataque em número, é direcionada a um alvo alternativo para gerar uma demonstração, se necessário.

Em segundo plano, o apoio de fogo dos helicópteros de ataque AH-64 Apache pode ser acionado, e se a situação escalar, os F-35B Joint Strike Fighters seriam acionados a partir dos novos porta aviões. Durante toda a operação, o comandante pode monitorar a operação através de um link com um UAV na área.

Não há indicação clara de que o RN planeja manter seus LPDs após a introdução dos LSSs. A capacidade operacional inicial (IOC) para o FCF está prevista para o final de 2023, após o qual uma data será definida para o estabelecimento da capacidade operacional total (FOC), dependendo dos recursos necessários.

Falando em uma apresentação da força futura, o coronel Mark Totten, diretor do programa de ataques ao litoral, resumiu o conceito: “Estamos olhando para um projeto de força que é impulsionado pelo requisito de combate da batalha anti-acesso e tentando habilitar o componente marítimo para impor o controle marítimo e sistemas de ataque cada vez mais capazes”.

Helicóptero de Ataque Apache

Conclusão

A ênfase das operações anfíbias é atacar onde a defesa do inimigo é mais fraca ou inexistente, mas no mundo digital atual de vigilância e proliferação de armas, esse é um desafio. As aparentes doutrinas da China e da Rússia sugerem que eles só se envolverão em grandes conflitos como último recurso, em vez de prejudicar suas aspirações econômicas. No entanto, conflitos políticos continuam a criar pontos de instabilidade de segurança. Ameaças a um membro da OTAN, parceiro da UE ou seus ativos soberanos exigiriam uma resposta. Intervenções futuras serão complexas e no domínio operacional conjunto.

A era da informação está aumentando a aplicação do despistamento por meio da Inteligência Artificial (IA ​) e levando um imediatismo ao conflito, com decisões de comando “no terreno” delegadas a militares mais modernos. Embora a China e a Rússia possam oferecer uma capacidade cinética ameaçadora, suas forças não são treinadas para delegar liderança e responsabilidade, com poder e autoridade vistos como qualidades que só podem ser gerenciadas por oficiais mais antigos. Como tal, muitas funções militares baseiam-se no exercício de cumprimento de determinações, em oposição à compreensão do comando.

Enquanto isso, as forças ocidentais enfrentam restrições orçamentárias, com muitas desfrutando de menos recursos do que a China. Mesmo assim, no nível tático, as forças da OTAN, em particular as formações do Reino Unido, têm um espírito de ‘improvisar, adaptar e superar’, que no novo FCF vê modernos reais fuzileiros navais, altamente treinados, gerenciando plataformas autônomas e encarregando-se de unidades de ataque, liderando táticas anfíbias não convencionais. O planejamento futuro no litoral, moldado por operações avançadas de informações que possam perturbar a confiança de um adversário e sua cadeia de comunicações, precisará de comandantes com a capacidade de pensar por si.

Fonte: Jane’s Defense Weekly

Traduzido e adaptado por: Marcio Geneve

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