A informação foi dada por fontes do governo.
Por Daniel Santoro
A nave tinha participado de um exercício da Marinha que terminou na Ilha dos Estados e “não havia reportado nenhuma avaria”. Assim, a fonte descartou que o submarino estivesse controlando a pesca ilegal na chamada milha 201. “Os submarinos são como os aviões. Se tudo não está perfeito o comandante não dá a ordem de sair”, acrescentou a fonte.
Avaria
No governo se perguntam por que o comandante capitão de fragata Pedro Martín Fernández ligou na quarta-feira de manhã para sua base para reportar uma “avaria, um curto-circuito”, mas pouco tempo mais tarde afirmou que o problema “tinha sido resolvido”.
Os detalhes dessas reparações e essas dúvidas foram informados na segunda-feira (20) pela cúpula da Marinha ao presidente Mauricio Macri, que é engenheiro, o que facilitou a explicação técnica, contaram as fontes, e ao ministro da Defesa, Oscar Aguad.
Estaleiro
A chamada manutenção de meia vida do submarino ARA San Juan, agora no foco do debate público, foi realizada no Complexo Industrial Naval Argentino (CINAR), que inclui o estaleiro Almirante Storni (ex-Domecq García, a fábrica de submarinos do ex-almirante e ditador Emilio Massera) e a Tandanor.
Embora ainda não se saiba o que aconteceu com o submarino, o porta-voz da Marinha, o capitão de navio Enrique Balbi, disse que na quarta-feira, 15, o comandante reportou “problemas nas baterias, um curto-circuito”.
Baterias
O San Juan tem 90 baterias a bordo e cada uma pesa 500 quilos. As baterias, se pegarem fogo, podem perder hidrogênio, contaminando o oxigênio da nave.
A pista de Balbi abriu um debate entre os especialistas para saber o que poderia ter acontecido com o San Juan. Assim que o San Juan for localizado e a operação de resgate for realizada, o Ministério da Defesa fará um sumário interno para investigar o que aconteceu com a nave e se colocará à disposição da Justiça de Mar del Plata, de onde o submarino partiu, que deverá determinar se foi um acidente devido a negligência ou a falta de manutenção, entre outras hipóteses.
Alemanha
O ARA San Juan foi construído no estaleiro alemão Thyssen Nordseewerke e está a serviço da Argentina desde 1985. Foi comprado pelo ex-almirante e ditador Emilio Massera como parte de um contrato para a compra de seis submarinos.
Dois chegaram navegando e os outros quatro seriam montados no estaleiro Domecq García, que foi projetado como uma fábrica de submarinos, um projeto faraônico de Massera.
O ARA San Juan é um submarino que já tem 32 anos. Durante a Guerra das Malvinas, o único submarino que entrou na zona de exclusão foi o ARA San Luís, que conseguiu permanecer 39 dias submerso sem ser detectado, mas não afundou nenhum barco britânico porque seus torpedos falharam.
Em 2008, como revelou o Clarín na época, as empresas Corporación para la Defensa del Sur (Codesur, de Mario Montono), Tandanor e Marena participaram da licitação da Marinha para a reparação do submarino “San Juan”, por cerca de US$ 16 milhões.
Velhos motores e Brasil
O trabalho era muito complexo. O submarino de 65 metros de comprimento e 2.260 toneladas de peso tinha que ser cortado ao meio para que os velhos motores pudessem ser retirados (eles não saem pela torre) e os novos fossem instalados, entre outros trabalhos. A reparação de meia vida do submarino “Santa Cruz”, em 1999, foi feita em um estaleiro do Brasil porque o menemismo (1989-1999) tinha fechado ou reduzido a capacidade dos estaleiros estatais argentinos.
A briga pelo contrato de reparação do San Juan começou em maio de 2004 quando a Marinha abriu a licitação para a troca das baterias (o submarino tem 90 baterias e cada uma pesa 500 quilos), entre outras tarefas. Os lances para a troca das baterias foram feitos pelas empresas Codesur (691.913 pesos argentinos) e Tandanor (527.298), mas ambas “apresentaram notas questionando o oponente”, disse o contra-almirante Carlos Sánchez, diretor de Material Naval da Marinha. Finalmente, por decisão do kirchnerismo (2003-2015), os trabalhos ficaram em mãos da Marinha e do Complexo Industrial Naval Argentino (CINAR).
A Marinha ficou a cargo dos trabalhos de “substituição e reparação das baterias e dos sistemas de comunicação e armamento. E também tinha um contrato com a Siemens para a substituição dos quatro motores diesel e um eléctrico”, disse ao Clarín uma fonte naval.
A Tandanor fez os trabalhos de corte e posterior soldadura do casco, além de todos os sistemas de encanamento e dos trabalhos relacionados com outras estruturas de ferro. Em 2011 o casco do submarino foi soldado novamente.
A Marinha tinha “um acordo com a Varta e eles capacitam em forma permanente o pessoal da Marinha para as tarefas de substituição porque as baterias podem perder hidrogênio, o que é muito perigoso”, disse a fonte naval.
Depois de feita a reparação de meia vida “foram realizadas todas as provas, supervisionadas por uma chamada sociedade de classificação, que verifica se foram cumpridos os padrões de qualidade”. Em 2014, o submarino foi inaugurado, com pompa, pelo então ministro da Defesa do kirchnerismo, Agustín Rossi.
No momento do acidente, já fazia quase quatro anos que o San Juan estava navegando, depois da reparação de meia vida.
FONTE: Clarin